6.3.16

Financiamento coletivo para a produção cultural

"Chão de Águas" espetáculo quer voltar à cena
(Foto: Rogério Folha)
Depois de estrear em setembro do ano passado, no Teatro Margarida Schivasappa do Centur, o espetáculo “Chão de Águas” pretende voltar em cartaz, mas para isso as cantoras e intérpretes Cacau Novais, Cristina Kahwage, Tarsila França e a convidada Karimme Silva, contam com o público. Precisam de um mínimo de R$ 5.000 para garantir a apresentação, desta vez, no Teatro Experimental Waldemar Henrique. 

Elas buscam este patrocínio por meio de uma campanha de financiamento coletivo, lançada pelo site Eu Patrocino, que opera pelo crowdfunding, cujo sistema, com o conhecimento de cada vez mais pessoas, tem realizado projetos incríveis no Brasil. Todo mundo pode colaborar e com muito pouco.

Aquela máxima de que a união faz a força, está valendo. Cacau Novais, Cristina Kahwage, Tarsila França e Karimme Silva entraram nesta maré e contam com a força de suas águas para trazer algo muito simples, chamado colaboração, para a realização de “Chão de Águas.

“Fizemos apenas uma apresentação em 2015 e o resultado foi tão bom e o retorno do público tão empolgante que percebemos que temos que voltar ao palco”, diz Cacau Novais, num papo rápido com o Holofote Virtual. “Antes da estreia, tentamos obter patrocínio, mas não conseguimos e tivemos que contar com a bilheteria, o que torna as possibilidades bem limitadas”, diz a cantora. 

“Estamos tentando trabalhar nessa campanha de arrecadação, mas ainda precisamos partir para uma maior sensibilização das pessoas e embora falte um pouco mais de 50 dias para ela terminar no site, ainda acreditamos que podemos conseguir”, conclui a artista.

A estreia do espetáculo no ano passado (Foto: Rogério Folha)
O financiamento coletivo tem se tornando, aos poucos, uma ferramenta mais e mais utilizada no país. O site mais famoso é o Cartase, que já está funcionando há quase seis anos, conseguindo financiar projetos independentes e de artistas nacionais, e o Kickante, que já lançou mais de 19 mil campanhas, captando mais de R$ 22 milhões em colaborações. Há outros espalhados por aí. Em Belém temos o Eu Patrocino, onde estão outros projetos paraenses, além do Chão de Águas.

Para quem ainda não conhece, o financiamento coletivo é muito simples. E também é seguro. Caso a campanha alcance o valor total, o espetáculo se realiza e quem colaborou ganha agradecimento, ingressos, brindes surpresas ou até mesmo citação de marca, caso seja uma empresa ou empreendimento criativo, no material de divulgação. Depende de quanto você puder doar. E se tudo falhar, quem doou recebe o dinheiro de volta, sem problema algum. 

O mais importante, porém, é a certeza de que se está colaborando e investido no fomento cultural e criando condições para que artistas paraenses coloquem no palco a sua arte e um público maior tenha acesso à arte.

A força feminina das águas
Crowdfudding - Uma alternativa à falta de políticas públicas que abracem a cultura de forma transparente e assertiva em Belém, o financiamento coletivo ainda é pouco conhecido por aqui e por conta disso a iniciativa não é fácil de ser levada até o fim, mas alguns artistas já conseguiram. O Arraial do Pavulagem recorreu ao Eu Patrocino e alcançou a meta de 20 mil reais. O grupo, tradicional e importante para a nossa cultura, convocou seus milhares de fãs, que atenderam o chamado e financiaram o tradicional arrastão junino, em 2015. 

O Pavulagem conseguiu, mas não é assim com todos. A maior barreira que vejo para o maior êxito desta iniciativa em Belém, onde várias campanhas já foram lançadas, sem sucesso de chegar a meta, é a pouca difusão do que se chama Crowdfudding. Por mais que os coordenadores do Eu Patrocinio, site local, já tenham promovido debates públicos, reuniões com artistas, o grande público ainda se encontra alheio, seja porque está desinformado, desinteressado ou mesmo desconfiado com este formato. 

Caso esteja com dúvidas, não custa buscar informação e quem sabe aderir e aumentar as possibilidades desta nova forma de se fazer cultura neste país. Muitos projetos não obtêm patrocínio de empresas, mesmo com carta de Leis de Incentivo, porque não são de natureza comercial, mas sim, de essência artística realizada com muita dedicação e verdade.

“Chão de Águas” pode voltar com sua colaboração

Entusiasmo no palco e plateia (Foto: Diogo Vianna)
Belém é quase uma ilha. Nesta cidade chove quase todo dia e quem nunca disse ou ouviu alguém dizer antes que aqui a gente respira água? Igarapés, rios, mar. Tempestades amazônicas. No espetáculo “Chão de Águas”, as cantoras e intérpretes Cacau Novais, Cristina Kahwage, Tarsila França e a convidada Karimme Silva nos convidam para um banho de histórias banhadas, cantadas e contadas com a força e delicadeza da interpretação feminina. 

Unindo música, teatro e poesia, “Chão de Águas” propõe um encontro de mulheres, de suas histórias e sentimentos. No palco, muita expressão de corpo e voz, além de elementos cênicos para enriquecer a interpretação das canções.

Além das cantoras, o show conta com uma equipe de profissionais como André Gaby, na direção musical e no piano, com o violonista Tom Salazar Cano e o percussionista JP Cavalcante. O figurino é assinado por Maurício Franco e a iluminação, por Malu Rabelo. 

O time de artistas de primeira linha, conta com um ambiente sugestivo, molhado, que remete o público a um cenário típico desta cidade, capital paraense, de coração amazônico. Assim pressentimos a chuva que molha a terra sob o sol escaldante da tarde, a água que evapora no ar e penetra nos poros de cada habitante desta cidade que se banha em vida, em cheiros e ritmos.

Os músicos tom Salzar e JP Cavalcante  (Foto: Diogo Vianna)
“A primeira apresentação de "Chão de Águas", no Teatro Margarida Schwazappa foi uma grata surpresa principalmente pelo desafio da empreitada: unir música, poesia, teatro num único espetáculo. Chão de Águas inundou a noite de beleza e sensibilidade”, disse o jornalista e escritor Walter Pinto, na primeira apresentação do espetáculo, em 2015.

Tendo a água, como fio condutor, o espetáculo flui numa corrente que leva e lava tudo ao redor. O público mergulha nas letras, nos poemas, na coreografia encharcadas de água e harmonia musical, tudo trabalhado numa perspectiva estética de grande efeito visual. A iluminação pontual valoriza a ação, incidindo sobre as intérpretes mergulhadas em penumbra.

“Chão de Águas é espetáculo belo de se viver. Um suave, profundo e poético mergulho, quase afogamentos meus. Águas, palavras, movimento. O sagrado no ser feminino. Vozes entrelaçadas no desaguar de seus próprios rios. Mulheres e seus líquidos afetos”, ressalta Sonia Situba, pedagoga e contadora de histórias, que também teve oportunidade de assistir o show.

Saiba como patrocinar

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