1.7.16

Alex Atala publica carta mas movimento continua

Os representantes do Movimento Casa das Onze Janelas dizem que não são contra ou a favor do pólo gastronômico, até porque o projeto ainda não foi devidamente apresentado à população, não sendo possível ter uma opinião plenamente formada acerca do assunto. Mas não abrem mão da manutenção do Museu da Casa das Onze Janelas. Por isso, independente do efeito que venha causar a carta  aberta de Alex Atala, nesta sexta-feira, dia 1º de julho, mais um ato público pela manutenção do espaço de arte será realizado, as 19h na Rua Sequeira Mendes em frente ao prédio cobiçado. Um evento no facebook convida quem quiser somar. Outra maneira de apoio à causa é assinar uma petição, disponibilizada on line.

O desmonte do Museu de Arte Contemporânea Casa das Onze Janelas, decretado recentemente pelo governo do estado, tira do espaço sua função voltada para o campo das artes, para torná-lo um espaço gastronômico, que reuniria uma escola, um laboratório e um restaurante, além de ancorar um barco-cozinha, formando, no Espaço Feliz Lusitânia, o Centro Global de Gastronomia e Biodiversidade da Amazônia. 

O projeto já vinha sendo alimentado alguns anos, mas ganhou o impulso necessário para sair do papel, quando no ano passado, a capital do Pará recebeu o título de cidade membro da Rede de Cidades Criativas da Unesco, com destaque para a gastronomia. 

Nome importante dessa área, reconhecido internacionalmente, Alex Atala tem uma reputação a zelar. Ao sofrer pressões pelas redes sociais para se posicionar, ele já havia dito a Éder Chiodetto, curador do Museu de Arte Moderna de São Paulo, que nunca tinha exigido a Casa das Onze Janelas para o projeto do pólo ser viabilizado. 

A declaração foi publicada na página do também jornalista, que é amigo pessoal do chef, mas não foi o suficiente. Nesta quinta-feira, 30, em carta aberta à imprensa, difundida nas redes sociais, o presidente do Instituto Atá oficializou seu posicionamento e disse que não irá mais gerenciar o local, como certamente o faria. 

É claro que isso não significa, nem que ele ou o instituto, peças importantes da engrenagem desse pólo, estejam fora do empreendimento, tão pouco que o decreto do desmonte do Museu de Arte Contemporânea Casa das Onze Janelas seja derrubado imediatamente só por isso. A carta de Atala, é portanto só mais um episódio de muitos que esta série da "gastronomia x arte" já exibiu e ainda promete mostrar.

Discussão sobre centro gastronômico vem à tona 

Lançado em outubro do ano passado, na Expô Milão, na Itália, já apontando o Feliz Lusitânia, à beira da baía do Guajará, como espaço propício a sua construção, o projeto do Centro Global de Gastronomia e Biodiversidade da Amazônia ainda era pouco conhecido do grande público, até que um grupo de artistas criou uma petição pedindo a manutenção do espaço de arte e denunciou na imprensa, a intenção do governador em extinguir o Museu de Arte Contemporânea Casa das Onze Janelas, cedendo este espaço para dar o ponta pé inicial ao pólo de gastronomia na região.

Além de matéria de capa no Caderno Você do Jornal Diário do Pará,  os artistas realizaram o seu primeiro ato, em 12 de junho, no dia dos namorados, dando um abraço no museu, chamando a atenção do público. Faixas foram colocadas na fachada do prédio, mas foram retiradas pela direção do espaço. Até aquele momento sem um posicionamento oficial, o governo respondeu à denúncia e à manifestação dos artistas com um Decreto, o de n. 1.568 de 17/6/2016, desativando o Museu de Arte Contemporânea na Casa das Onze Janelas.

Ação dos artistas incomoda governador

As manifestações continuaram  e se espalharam nas redes sociais. Uma página foi criada no facebook e vários artistas, professores e intelectuais, do país todo, também começaram a se manifestar, com questionamentos voltados a Alex Atala. 

Na terça-feira, 29, um dia antes do chef paulista se manifestar, o grupo que vem representando o Movimento Casa das Onze Janelas foi chamado ao Palácio do Governo para uma reunião de última hora com o Governador Simão Jatene. 

A Comissão, formada por Alexandre Sequeira, Keila Sobral, Luiz Braga, Makiko Akao, Mariano Klautau Filho, Marisa Mokarzel, Miguel Chikaoka, Octávio Cardoso, Rosangela Brito e Val Sampaio abriu o diálogo pelo reconhecimento e manutenção do Museu de Arte Contemporânea na Casa das Onze Janelas. como uma instituição de importância nacional, cuja história foi consolidada nos últimos 14 anos. 

O espaço Museu de Arte Contemporânea na Casa das Onze Janelas. originalmente era a residência de um senhor de engenho, até ser adquirido pelo Governo do Pará, que até 1870, o utilizou como Hospital Real, passando depois a gestão dos militares. 

Em 2001, ao voltar para as mãos do estado, o imóvel foi transformado em museu, sendo ocupado com obras de artistas plásticos e fotógrafos renomados, além de possuir em seu acervo inúmeras coleções adquiridas por meio de projetos, envolvendo verbas públicas, assim como doações de diversos artistas paraenses e de fora do estado. O espaço público, também abriga atividades de formação e educativas no campo das artes.

Na página do movimento, no facebook, os artistas informaram que, ainda assim, “a posição irredutível do Sr. Jatene foi a de convencer o grupo presente que um novo museu de arte contemporânea justificaria a perda do Museu de Arte Contemporânea da Casa das Onze Janelas. Desconsiderando assim qualquer hipótese de reavaliação de sua postura adotada anteriormente”. Além deles, também estiveram presentes o secretário de cultura Paulo Chaves e a diretora do Sistema Integrado de Museus, Mariana Sampaio.

O que mais envolve a criação do pólo

Enquanto o Movimento Casa das Onze Janelas cresce, amplia-se também a discussão em torno de um projeto ainda não apresentado oficialmente e como um todo à sociedade. Ao que tudo indica, há muito mais em jogo que simplesmente a Casa das Onze Janelas, no Espaço Feliz Lusitânia. 

Até onde já foi dito, sabe-se que o projeto na integra, iniciaria na Av. Boulevard Castilho França, que passaria a se chamar Via Gastronômica, seguindo em uma linha reta, passando pelo Ver-o- Peso, Mercado de Carne, Solar da Beira e alguns portos, até chegar ao Complexo Feliz Lusitânia, englobando o prédio (hoje deteriorado e em estado de abandono) que abrigava a Fumbel, Fundação Cultural de Belém, além da Casa das Onze Janelas. 

A iniciativa, que faz parte das comemorações dos 400 anos da fundação de Belém, foi apresentada ao Governo do Pará e à Prefeitura de Belém por um conjunto de organizações da sociedade civil, lideradas pelo Instituto Paulo Martins, o instituto Atá e o Centro de Empreendedorismo da Amazônia, tendo como coordenador, Roberto Smeraldi, jornalista do site Paladar, diretor da Oscip Amigos da Amazônia e do Instituto Atá.  

Uma das entidades envolvidas deverá gerenciar o espaço compreendido no Feliz Lusitânia, e que ainda não se manifestaram sobre a polêmica da desativação do museu, como o fez Alex Atala. “Consideramos que a arte é essencial na construção da identidade de uma nação. Por isso, não compactuamos com um projeto que valoriza a cultura culinária do Pará desabrigando demais expressões de arte, como as plásticas, fotografia, entre outros projetos que tinham como morada o Museu Casa das Onze Janelas”, disse ainda, o chef, em sua carta aberta. 

Falou bem, Alex Atala, que depois de dias sendo alvo de críticas, hoje, foi elogiado e recebeu muitas mensagens positivas. Agora resta saber o que pensam e como se posicionam os demais envolvidos. Caso apoiem também  a permanência da Casa das Onze Janelas como espaço de função voltada à arte, pode ser que o governador finalmente se dobre em sua irredutível posição, já decretada. 

Mostras e exposições previstas até dezembro

Espaço importante para a circulação artística brasileira, a Casa das Onze Janelas ainda funcionará como espaço de arte, ao menos até o mês dezembro. 

Até lá várias exposições estão programadas, como a mostra "Marimbondo e a Orquídea", que abre nesta sexta-feira, 1º de julho, às 19h, com entrada franca. Composta por obras de artistas alemães e brasileiros, ficará aberta ao grande público até o dia 31 de julho.

Em agosto entra em cartaz uma super exposição curada por Diógenes Moura, produzida pelo Itau Cultural. A exposição "A Arte da Lembrança – a Saudade na Fotografia Brasileira", com imagens que representam a saudade,  um dos sentimentos mais universais e inexplicáveis,  em suas mais variadas formas e significados. Além disso, propõe um percurso iconográfico pelas obras – realizadas entre as décadas de 1930 e 2014 – de alguns dos mais representativos fotógrafos brasileiros.

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