25.7.16

Cineamazônia chega na fronteira Brasil e Bolívia

Texto: Ismael Machado - Fotos: Zeca Ribeiro
Na estrada e nos rios desde o dia 13 de julho, a segunda etapa do Cineamazônia Itinerante 2016 já chegou à praticamente metade do percurso envolvendo principalmente os rios Mamoré e Guaporé, com cinema, circo e oficinas para comunidades ribeirinhas, quilombolas e pequenos distritos entre Brasil e Bolívia.

A primeira parada foi inédita. A Reserva Extrativista Rio Ouro Preto recebeu o Cineamazônia pela primeira vez. Depois foi a vez do distrito de Iata, pertencente ao município de Guajará-Mirim. Em Iata, os palhaços Chiquita e Cotonete tiveram uma das melhores participações do público até então.

Depois foi a vez da dobradinha Guajará Mirim e Guayaramerin, a autêntica fronteira Brasil e Bolívia. Só depois desses dois locais é que a itinerância tomou o rio Mamoré como destino. A primeira parada foi San Lorenzo.

San Lorenzo é uma pequena comunidade boliviana às margens do rio Mamoré. Povoado simples, com uma igreja, uma escola, um posto de saúde e uma pracinha de frente ao rio onde botos exibem-se aos olhos curiosos de quem não está acostumado a eles diariamente.

A tela do cinema ao ar livre do Cineamazônia foi montada em frente ao rio. A lua cheia era um presente a mais. Quase 100 pessoas assistiram à exibição, aberta com o resultado da animação na técnica Pixilation feita com crianças da comunidade, dentro do projeto ‘Animando a Amazônia’.

Roteirizado e dirigido por Christian Ritse, com assistência de direção de Lui Machado e assistência de produção de Ian Gabriel, o filme ‘El Paño Mágico’ contou uma pequena história de um pano misterioso que ‘engolia’ as crianças do vilarejo por obra de um mágico. Ao final o feitiço se volta contra o feiticeiro.

Assim como o filme em Pixilation outro projeto que também faz parte do Cineamazônia Itinerante é o ‘Museus Vivos’. Em San Lorenzo, a personagem escolhida foi Marta Pereira, uma mulher que perdeu os pais ainda criança, assim como logo depois a avó. Criada praticamente sozinha e trabalhando em ‘casas de família’, conseguiu criar todos os filhos com dignidade. Hoje é uma mulher que luta para trazer melhorias a San Lorenzo.

A fotógrafa Bete Bullara também falou sobre o resultado da oficina matutina de fotografia artesanal com quatro crianças da comunidade de San Lorenzo que conheceram as técnicas básicas dos primórdios da fotografia.

Entre os filmes, o público teve a atenção despertada com o curta ‘Dos tomates e dos destinos’, uma produção com a assinatura da Organização Não-Governamental ‘Veterinarios Sin Fronteiras’, que discute a questão alimentar, com o risco de agrotóxicos e outros elementos que contaminam frutas e verduras levadas à mesa. 

A noite foi encerrada com a apresentação versão ‘portunhol’ dos palhaços Chiquita e Cotonete, da Trupe Koskowisck. Em Surpresa, a parada seguinte,  o cinema e o circo tiveram o maior público até agora. Cerca de 300 pessoas, pelo menos, se aglomeraram no campo de futebol do distrito para acompanhar as atrações.

Além dos moradores de Surpresa, houve a presença de índios da aldeia Sagarana, que chegaram em rabetas. Não houve cadeiras para todos, com o público precisando se acomodar nas arquibancadas de madeira do campo.

Entre os índios 13 crianças participaram da oficina de fotografia artesanal ministrada pela fotógrafa Bete Bullara, utilizando a técnica do ‘Pinhole’, ou ‘buraco da agulha’, que remete aos primórdios da fotografia.

Na apresentação, a coordenadora Fernanda Kopanakis informou que há a pretensão de levar a itinerância para as terras indígenas. A aldeia Sagarana fica distante cerca de 30 minutos de barco de Surpresa e é formada por sete etnias. Já está acostumada com o audiovisual. Foi na aldeia que o curta-metragem ‘O Homem que matou Deus’, já exibido e premiado no Cineamazônia, foi filmado.

Na sessão em Surpresa foi inserido o filme ‘The Change’, anteriormente só exibido nas apresentações em terras bolivianas. O filme, uma animação em desenho, mostra de forma divertida a ameaça que o desenvolvimentismo das grandes metrópoles pode ocasionar a pequenas comunidades rurais e florestais.

De Surpresa a itinerância foi até o Forte Príncipe da Beira, uma das edificações mais imponentes e intrigantes que o período colonial legou ao Brasil. Situado às margens do Rio Guaporé é repleto de histórias e lendas. Uma história não contada é a da própria construção do forte. A oficial diz que 200 trabalhadores erigiram a muralha de pedra. A não oficial revela que pelo menos mil escravos e 5 mil índios escravizados foram utilizados durante os sete anos que o forte levou para ficar pronto.

Durante a lua cheia da noite de 21 de julho, o Forte Príncipe da Beira recebeu a caravana cultural do Cineamazônia Itinerante. Como sempre, noite especial. Guarnecida por uma brigada de fronteira do Exército, as muralhas do forte foram o palco de oito filmes em curta-metragem e de uma apresentação marcante da Trupe Koskowisck. 

Os palhaços Cotonete e Chiquita tiveram de se desdobrar para conter o entusiasmo das crianças do local, que interagiam a todo momento. O local também recebeu as oficinas de fotografia artesanal ministrada por Bete Bullara e o filme em curta metragem de animação na técnica Pixilation, de Christian Ritse.

Durante a tarde, a equipe do Amazon Sat conheceu uma das histórias intrigantes do Forte. Guiados pelo presidente da Associação Quilombola de Forte Príncipe da Beira, Elvis Pessoa, a equipe foi até um labirinto de pedras situado no meio da mata. Local que é cercado por lendas. Do labirinto, Elvis Pessoa já encontrou diversos artefatos, inclusive peças que remetem a colonizações incas.

O distrito de Buena Vista, na Bolívia, marcou a estréia de dois novos quadros dos palhaços, para melhor adaptação ao idioma espanhol. A exibição em frente a uma pequena praia de areia foi marcada pela forte participação das crianças.  

No sábado, 23, foi a vez do município de Costa Marques, em Rondônia receber o Cineamazônia. Cineamazonia, 14a EDIÇÃO, tem o patrocínio do BNDES, Governo Federal, Ministério da Cultura, Secretaria do Audiovisual, Lei Rouanet. Apoio Cultural da Prefeitura de Porto Velho, através da SEMA.

Nenhum comentário: