30.3.10

CD "Marujo de Reis" contará com Mestre Vieira

O convite foi feito há duas semanas, 

pelo músico Renato Rosa, autor do projeto
Mestre Vieira estava em sua casa, em Barcarena (Pa), quando recebeu Renato Rosa, um músico vindo da capital mineira e que estava algum tempo namorando a possibilidade de convidá-lo para gravar algumas faixas em seu primeiro CD “Marujo de Reis".

O trabalho terá outros convidados, como a cantora Mariana Brant, que vem se apresentando ao lado dos músicos Fernando Brant e Tavinho Moura, em Belo Horizonte.

Ele é paraense. Nasceu em Bragança-PA, mas mora em Minas há muitos anos. O CD trará as sonirodades das culturas paraense e mineira. O projeto de gravação e lançamento foi aprovado pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura de  Minas Gerais.

“Quero compor uma faixa especial para que a guitarra de Mestre Vieira se encontrasse com a de Toninho Horta, outro incrível guitarrista brasileiro. Espero que estilos tão diferentes de guitarristas mostrem que Minas Gerais e Pará não estão tão distantes quanto parece”, diz Renato que não tem certeza ainda da participação de Horta, ao contrário da de Vieira, que já aceitou.

A gravação deve acontecer em Belém, até agosto. “Estou trabalhando com uma margem apertada, mas, se ao final da gravação, sobrar recurso suficiente, gostaria de trazer o Mestre Vieira para tocar no show de lançamento”, planeja sabiamente o músico. Outro parceiro que já está confirmado é Fernando Brant. "Com ele estou preparando cinco músicas”, declara.

Ex-vocalista do Grupo Chapéu Panamá, Reanto trabalha como diretor musical e já teve composições gravadas por artistas mineiros, como Mauro Zockratto, no disco "Pelo espaço de um compasso". E a cantora Marina Machado (na foto acima, se apresentando junto a Milton Nascimento), que também o gravou. Ela canta a música "Meu menino", canção a ser lançada ainda este ano.

Além destas parcerias, entrarão no disco duas releituras, uma do maestro Waldemar Henrique, e outra, fruto da parceria entre Brant e Milton Nascimento. Para fazer as fotos do encarte do CD, mais uma maneira de unir talentos, foram convidados dois fotógrafos: Ana Mokarzel (paraense) e Marcelo Araújo (mineiro).

Antes de ir ver Mestre Vieira, Renato esteve em Bragança, onde reencontrou velhos amigos e gravou o som de rabecas da marujada e ruídos típicos da terrinha. É também sobre isso, a entrevista que segue. Sobre conhecer o mestre da guitarrada, confessa que não sabia o que esperar, mas que se surpreendeu ao conhece-lo de de perto e o tamanho de seu trabalho. “Descobri, agora, que conhecia poucas composições dele considerando sua obra completa. Eu não tinha ideia de quem era o homem por trás daquele talento”.

Holofote Virtual: Como foi o encontro com Mestre Vieira?

Renato Rosa: Fiquei muito feliz por ter sido recebido por ele como se fosse um amigo, daqueles que abrem a sua casa sem cerimônia e deixam a gente entrar em sua vida esperando o bem. Como eu vivi minha infância em Bragança-PA, a guitarra do Mestre me soa tão natural quanto um conselho de mãe.

Por isso, vê-lo tocar na minha frente e ainda por cima acompanhando as minhas músicas como se as conhecesse intimamente, foi para mim mais que uma honra, foi ter a sensação de retorno à minha casa.

Além da carga emocional do encontro, agora que eu consigo avaliar melhor os aspectos técnicos da guitarra do Mestre e re-escutando a gravação do encontro, eu posso dizer que ele possui uma intuição musical e uma intimidade com o seu instrumento que não se vê todo dia.

Holofote Virtual: O projeto vem sendo amadurecido há muito tempo? Quando foi que você pensou em convidar Mestre Vieira para gravar?

Renato Rosa: Desde o meu primeiro contato com música eu vi engrossando o meu acervo de composições. Depois de avaliar as minhas músicas para a formação do repertório do novo disco, eu percebi que eu não poderia negar que a minha forma de compor e as coisas de que falo quase sempre se resume numa síntese das minhas culturas (paraense e mineira).

E depois de avaliar isso com calma e com a ajuda do músico Flávio Medeiros, o arranjador do disco, cheguei à conclusão de que todo o projeto, desde a composição à formação dos arranjos, deveria buscar mostrar essa síntese. E como a música do Mestre Vieira faz parte do que eu sou, a sua participação não poderia faltar no disco.

Combinamos então que ele participará acompanhando a faixa “Sina do Caeté”, uma homenagem à Bragança, e fará a guitarra principal de uma faixa instrumental chamada “Meu carimbó”, parceria minha com Bruno Cunha, compositor paraense.

Além de mostrar para ele essas duas músicas, eu deixei com ele uma gravação delas, já que a distância não permite que trabalhemos constantemente juntos neste processo. Prometi voltar ainda mais duas vezes esse ano à Belém, antes de começar a gravação. Todo o encontro foi gravado.

Holofote Virtual: Chegou a ouvir o CD Guitarra Magnética?

Renato Rosa: Fiquei tão ansioso para ouvir que eu toquei três vezes durante o caminho de volta - Barcarena para Belém, o que tornou o passeio de balsa mais romântico do que já é naturalmente. Ele já havia me avisado que era diferente de tudo que já tinha feito e eu realmente me surpreendi.

Ele manteve os solos característicos, mas arriscou nos ritmos e nas melodias. As músicas têm melodias tão interessantes que elas provocam aquela ansiedade gostosa pela repetição, que já é naturalmente típica da guitarrada.

Gostaria de destacar para aqueles que estão lendo essa entrevista e que ficaram interessados em ouvir o disco a faixa “Olinda”, que é um xote de fazer inveja a qualquer compositor bragantino.

Holofote Virtual: Falando em Bragança (foto) , a cidade também foi teu roteiro aqui. A visita também teve haver com o projeto?

Renato Rosa: Estive sim, mas o tempo foi curto. Além de conseguir visitar Ajuruteua, registrei, com um estúdio portátil, o som da rabeca tocando músicas da marujada e o burburinho do mercado de peixe.

Como sempre, é ótimo rever a minha terra. Eu tento não ser um daqueles bragantinos relâmpagos, que aproveitam, falam mal e vão embora. Pretendo que meu trabalho exalte as coisas boas que eu vivi e tenho vivido lá.

Só lamento que uma cidade com quase 400 anos de história, com belezas naturais maravilhosas e únicas, com uma culinária que não me deixa chegar perto de uma balança quando estou lá e tantas outras belezas seja tão escondida deste país.

Que lugar do país reúne a 220 km de uma capital com rios e igarapés lindos, uma praia simples e monumental, uma região de campos alagados virgens que reúne o maior ninhal de Guarás do mundo, além de ser rica em cultura musical e popular?

Holofote Virtual: Belém Pará e Belo Horizonte. Na tua opinião, o que elas podem ter em comum para compor um projeto musical?

Renato Rosa: São duas capitais com origem e desenvolvimento histórico diferentes. As diferenças são inúmeras, mas a minha pesquisa tem demonstrado que, fora toda a casca de hábitos metropolitanos, as duas cidades se aproximam pela força da cultura regional, que inclusive é muito semelhante.

O meu disco está mais concentrado na cultura de interior, principalmente por motivos musicais. E eu tenho me surpreendido com as semelhanças que tenho encontrado entre essas duas regiões tão distantes fisicamente. As festas populares mineiras de origem negra, como a Festa do Rosário, por exemplo, se assemelha muito com a Marujada de Bragança, inclusive homenageando o mesmo santo, São Benedito.

Enfim, a ideia do projeto é justamente exaltar semelhanças e diferenças entre as duas regiões e, com isso, tentar provocar uma aproximação cultural maior entre elas.

Holofote Virtual: Depois de tantos encontros por aqui, o projeto vai seguir outras etapas. O que acontece no teu retorno a Belo Horizonte (foto)?

Renato Rosa: Agora começa o trabalho pesado. Vou passar todas as minhas impressões e materiais que reuni na viagem para os dois arranjadores do disco, Flávio Medeiros (arranjos de harmonia) e Carlos Bolão (arranjos rítmicos). Já estou trabalhando com eles desde o início do ano para formar o repertório, agora entramos na fase de produção de arranjos. Paralelamente, correremos atrás dos músicos que vão dar a cara ao projeto.

Estou deliberadamente evitando contratar músicos pela cifra. Depois de 10 anos trabalhando com música em BH, tive a oportunidade de ter encontros felizes com músicos de lá. Quero privilegiar esses contatos no disco. Esse é um projeto que tem recebido gente que compra a ideia com muito carinho.

Minha intenção é, após escrever os arranjos, levar o Flávio e o Bolão para o Pará e contaminá-los com a musicalidade dessa terra. Isso é muito importante para que o disco não fique técnico demais e seja mais humano. Pretendo voltar ainda em julho. Se a captação do recurso sair como planejado, eu, Bolão e Flávio desembarcamos aí em julho. No mais, meus conterrâneos, um cheiro e um beijo!

2 comentários:

Unknown disse...

Acompanhei a visita de Renato Rosa ao Mestre Vieira, "guitarradista" paraense e percebi o quão culturalmente grandioso é o projeto "Marujo de Reis", muito bem divulgado nesta entrevista. Unir, aos olhos e ouvidos de naturais tão distantes, o que já era uno, aos olhos e ouvidos de Renato Rosa, reflete a ampla percepção musical deste músico. Espero e torço para que haja absoluto apoio dos incentivadores da cultura mineira para este magistral projeto e, como "FÃmiliar", aguardo certamente o sucesso de tal trabalho.

Ider Baptista.

Bruno Cunha disse...

Luciana, conhecendo este "Caboclo das Alterosas" como conheço, vejo que ele omitiu demais o próprio talento, numa prova da humildade que há de repercutir com o sucesso de "Marujo dos Reis".
Parabéns pela entrevista.

Bruno Cunha