23.3.10

Iracema Oliveira: Pássaro Junino precisa de espaço apropriado para suas apresentações

É o que defende a radialista e folclorista, que conseguiu aprovar projeto no edital de Pontos de Cultura e se prepara para estrear novo espetáculo do Pássaro Tucano, escrito por Ester Sá.


"Minha casa sempre foi um Ponto de Cultura. Faltava apenas oficializar”.

É verdade, pois quem afirma isso é a guardiã do Tucano, coordenadora das Pastorinhas Filhas de Sion e do grupo Parafolclórico Frutos do Pará, que participa de encenações de Pássaro Junino desde os 7 anos de idade.

Naturalmente, é na casa dela que está funcionando o Ponto de Cultura Velho Chico, aprovado pelo edital de Pontos de Cultura da Secult/MINc, através da associação folclórica que ela preside e que já tinha sua residência como sede.

Coordenado por ela, o ponto trabalha com as três linguagens - Pássaro, Pastorinhas e o Parafolclórico – e ganhou este nome por um motivo muito justo.

“É uma homenagem ao meu pai, pois foi com ele que tudo começou”, diz referindo-se ao compositor Francisco Oliveira, o Velho Chico, que a levou muito cedo às apresentações de Pássaros, acabando por desenhar o destino da filha.

Com os repasses de três parcelas anuais de R$ 60.000,00, ela sonha realizar o que sempre quis, mas que sem apoio financeiro não tinham como fazer. “Além das oficinas, como eu iria comprar máquina de costura, os computadores, microfones e tudo o mais que é necessário para se estruturar?”, indaga.

Iracema percebe que este recurso abre inúmeras possibilidades para se trabalhar pela preservação e incentivo ao crescimento dos grupos de Pássaro Juninos no estado.

“Vamos trabalhar com oficinas, fazer atividade com o audiovisual e será montado estúdio para que possamos gravar nossas músicas”, diz, demonstrando reconhecimento aos benefícios das mídias livres para a cultura popular.

“Teremos oficinas de corte costura, artesanato, aulas de expressão corporal, dramaticidade, enfim, todos os seguimentos necessários para desenvolver, não só pessoas do grupo, mas também a comunidade do Telégrafo”, diz.

Ela participou das discussões que aconteceram no início deste mês, na Teia da Cultura Amazônica que reuniu em Belém representantes dos 77 pontos de cultura do estado, no início de março.

E já garante a presença dos representantes do Ponto Velho Chico no encontro nacional que acontece de 25 e 31 de março, em Fortaleza (CE). “Reunir todos para discutir questões e tirar dúvidas, dar orientação, foi uma boa ideia”, aprova.

Pássaro Tucano - No momento, além do futuro com o Ponto de Cultura Velho Chico, Iracema também comemora os resultados dos ensaios da nova peça do Pássaro Tucano que vai estrear no mês de junho, em sua quadra festiva.

O texto é da atriz, pesquisadora e diretora Ester Sá que começou a escrevê-lo em 2009, depois que saiu pela primeira vez na encenação do Pássaro Tucano. Mas antes disso, ela já vinha tendo contatos diretos com a manifestação.

Em 2008, pesquisou a vida de Iracema, tendo o apoio da Bolsa de Pesquisa, Criação e Experimentação do IAP, em 2008, tendo como resultado a montagem do espetáculo “Iracema Voa”.

Sobre a encenação do novo espetáculo do Pássaro Tucano, Ester Sá diz que será feita à rigor, dentro da tradição do Pássaro, como um melodrama com todos os seus elementos característicos. O espetáculo revela uma luta entre o bem e o mal e pela sobrevivência do Pássaro.

“Eu diria que na trama propriamente dita não há analogias, mas no fim da peça, a fada dá uma fala que tem essa mensagem: O Pássaro simboliza a harmonia e a felicidade, enquanto ele puder voar, a esperança habitará entre nós”, comenta Ester.

“Na peça, esta fala está referindo-se à trama, à resolução dos acontecimentos, mas para nós essa fala é muito maior, ela representa o que estamos fazendo e agindo para manter o vôo do pássaro”, finaliza Ester.

E Iracema já anuncia. “Estamos fazendo ensaios aos sábados e domingos. Em abril vamos acelerar o processo para que a quadra junina seja brilhante”.

Pássaro nos Teatros - “Queremos fechar pautas em teatro para nossas apresentações, pois o legal para o Pássaro é o teatro”, defende Iracema, que acredita ser em um espaço de teatro que o Pássaro melhor pode ser visto pelo público e para que o espetáculo seja melhor compreendido por todos.

“É o que nos falta. Um espaço próprio para que o pássaro seja enaltecido. Só temos isso aqui no Pará, então temos que ter espaço para o pássaro voar”, diz ela, lembrando do Teatro São Cristóvão, que já foi considerado o Templo dos Pássaros entre as décadas de 50 e 70 e que hoje, está em ruínas.

“Fico triste com as notícias que tenho. Uma ouvinte lá da rádio (Marajoara) ligou e disse que já roubaram até o portão dele. Será que alguém não negocia aquele teatro com a gente, é o templo do pássaro. Não temos espaço para o Pássaro aqui em Belém e ali seria uma glória. Hoje temos 22 grupos sem um espaço para apresentações”, reclama a radialista.

Iracema Oliveira, que sempre atuou em prol desta manifestação cultural própria do Pará, quer chamar atenção para a diferença de apresentações entre o Pássaro Junino e os conhecidos cordões de pássaros e bichos. O primeiro precisa de espaço apropriado para suas apresentações.

De acordo com a diretora de teatro Olinda Charone que fez sua pesquisa de doutorado sobre o Pássaro Junino, “os cordões de pássaros têm, como característica, a permanência em cena da maioria dos brincantes, colocados em semicírculo e, no centro, desenvolvem-se todas as cenas."

Charone diz que os brincantes, na hora de suas cenas, dirigem-se ao centro do palco, voltando em seguida para suas posições de origem.

O Pássaro Junino ou pássaro melodrama fantasia, diz Charone, “requer espaço mais apropriado, com palco, camarim e cortina. Os brincantes durante as apresentações fazem várias trocas de roupas. As cortinas são utilizadas para a finalização de cenas e quadros”.

As fotos do Pássaro Tucano nesta postagem são de Hélio Netto, feitas em 2009, durante as apresentações no teatro do Museu Emílio Goeldi.

Para ler mais sobre as estas características acessem a página de Olinda Charone na Rede Teatro da Floresta.


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