27.3.14

"Una" traz o lado quente de ser Juliana Sinimbú

Cantora, mulher e o 1º CD. Juliana Sinimbú promete mostrar o feminino plural, fatal e materno, no Theatro da Paz, palco escolhido para lançar, nesta sexta-feira, 28 de março, às 21h, o álbum “Una”, que traz o selo Natura Musical, em um show com direção artística de Adriano Barroso e direção musical de Donatinho. Conversei com a cantora, após um dos incansáveis ensaios feitos para encantar o público. O ingresso custa R$ 10,00.

Ela é reconhecida por sua bela imagem, voz e presença de palco. Uma das musas da nova geração de cantoras paraenses, Juliana Sinimbú sempre trafegou por variáveis musicais, mas sempre mantendo a personalidade evidente. Iniciou a carreira cantando no saudoso bar Bodega, quando ainda funcionava na Rua João Balby, em Belém. O show, dificílimo, tinha um repertório bossanovista e o amparo do virtuose e exigente cantor, compositor e violonista, Floriano.

“Tive sorte e muita ajuda quando comecei. Pude contar com figuras que nunca vou esquecer, como os meninos da banda Clepsidra; o Flor (Floriano) e o Felipe (Cordeiro).  Aquele show no Bodega foi o meu primeiro, feito na calçada, na rua, com um repertório super xiita”, conta e ri, agora, a cantora experiente.

Lá se foram sete ou oito anos. Depois daquele episódio, Juliana esteve em vários palcos, um deles cantando com Billy Blanco (Teatro Maria Sylvia Nunes, em 2009), mas também nas memoráveis noites do CaféImaginário, com Felipe Cordeiro, ou no show “Barato Total”, que chegou em diversos espaços da cidade, carregando no repertório, o pop psicodélico brasileiro dos anos 1970. Versátil, sim, mas antes de qualquer coisa, compositora e Una. É o que vamos ver e ouvir nesta sexta-feira.

A atual viagem musical de Juliana Sinimbú iniciou em 2010, quando a cantora estava em uma turnê, pelo então, agora extinto, programa Conexão Vivo, na Bahia. “Comecei a olhar em volta e achei muito interessante esse negócio de ser mulher. 

Eu gosto muito desse universo, da gente se pintar, arrumar o cabelo, os ornamentos, da maneira que a gente pensa, de gerar uma pessoa, sentir o que a gente sente da nossa própria maneira, comecei a pensar sobre as mulheres presas nos corpos de homens e enfim, tudo que faz parte da mulher se revelou muito interessante pra mim. Tudo que é feminino é mais bonito”, vai disparando logo no início da entrevista.

Há algum tempo, ela já vinha compondo e pensando num primeiro disco autoral, voltado ao universo feminino. E foi em Salvador, num papo coma amiga e também cantora e compositora, instrumentista, Iva Rothe que surgiu o conceitual Una. “Fomos juntas nesta turnê e eu vinha dizendo que queria realizar um projeto que conseguisse unir tudo isso. Aí, a Iva me disse: tens que fazer o UNA. Gostei e o projeto iniciou assim, pelo nome”, lembra.

Em 2011, ela vive um fluxo de novas composições. Na verdade, Juliana lembra que havia muitas outras coisas prontas, mas na gaveta. “Tinha as minhas composições guardadas, era uma compositora tímida, e sempre tive essa coisa de compor no eu lírico feminino. Não sei se isso é natural por eu ser mulher”, reflete.

E como numa conspiração dos astros em favor da maré cheia, nesse mesmo ano, ela conheceu Donatinho, produtor musical e um dos mais versáteis e respeitados tecladistas de sua geração, além de filho do mestre João Donato, que aliás, vejam isso, participa do Una.

Aquele ano foi um marco, pode-se dizer. Juliana saiu da casa dos pais, casou e ficou grávida, e além de Flora, hoje com onze meses, ainda gerou este filho, o Una, quando aprovou um projeto pelo Natura Musical pra fazer o disco, um álbum de 11 faixas, com composições, a maioria, dela: Simpatia, Vodka (com participação de Otto), Abraça (em parceria com Renato Torres), Para um tal amor (do clipe Arrocha, que tem participação de Adriano Barroso, lançado em fevereiro deste ano), Delicadeza e Pra Você Voltar. E mais: Quero Quero, de Iva Rothe, Clarão da Lua, de Almirzinho Gabriel, Não me Provoca, de Dona Onete, e Ó (em que canta com Marcella Belas, Helson Hart, Tenilson Del Rey).

Ensaios no estúdio Ápice
O show de lançamento traz surpresas, que Juliana me contou na entrevista, mas me proibiu de revelar, sob ameaça não falar mais comigo (risos). Então, vamos ao que é permitido dizer. 

Sinimbú vai entrar toda mulher no palco, vestindo as canções que fez e interpreta. Não espere os tradicionais vestidos longos a la Theatro da Paz em noite de Terruá.

“Eu não estou ligando pra esse negócio de glamour, chega de longo, eu quero ser eu no Theatro da Paz. A gente muda tanto depois que a gente vira mãe. Faço tanta mamadeira de madrugada, tenho olheiras, lavo louça. Eu quero falar da minha música e que as pessoas se liguem nessa”, enfatiza.

Além da direção musical de Donatinho, que também assume os teclados, Juliana traz na banda de lançamento do Una, Davi Amorim nas guitarras, Príamo Brandão no baixo, Edvaldo na bateria, Paturi (Manari) na percussão e Renato Torres no violão. Ah, sim, a luz é da iluminadora Patrícia Gondim que, na combinação com o Adriano Barroso, trará à tona o lado cênico da música de Juliana. Os demais detalhes estão em seguida, contados pela cantora, que além da música se mostra também uma ilustradora e designer talentosa... (Fotos no estúdio Apice: Thalita Garcia)

Com Renato Torres no violão e Elias Pinheiro, o roadie
Holofote Virtual: Pelo que você já contou, Donatinho foi determinante para o resultado do disco...

Juliana Sinimbú: O Donatinho foi uma pessoa que acrescentou muito ao meu projeto. Eu cheguei com um repertório lindo pra ele, mas de interprete. Tinham só duas músicas minhas. E aí ele dispensou um dia de pré-produção e disse que queria ouvir as minhas músicas. 

Fiquei meio assim, não e tal, mas tá, topei mostrar. Daí o que eram pra ser só duas músicas minhas, isso acabou predominando, num disco de onze músicas. Então o Donatinho me deu super coragem.

Holofote Virtual: E como foi que o cantor e compositor pernambucano Otto entrou nessa?

Juliana Sinimbú: Tinha muita coisa pronta, que eu já tinha cantado, mas que merecia um plus, como na música Vodka. Precisava alguém falando umas verdades ali no solo. Daí perguntei quem seria essa pessoa. O Donatinho disse, Juliana, Vodka é o Otto, ele vai chegar na hora e vai fazer. Daí ele realmente chegou com aquela energia louca dele, maravilhoso e me disse ‘você me psicografou, como pode mulher?’ (risos). Ele disse as verdades na música e tudo encaixou perfeitamente, depois disso ele se tornou meu parceiro, já fizemos outras músicas, mas pra projetos futuros.

Donatinho nos teclados
Holofote Virtual: Quem mais está em Una, Juliana...

Juliana Sinimbú: O Kassin participou do disco também, em três faixas, e João Donato, meu ídolo... Foi uma emoção imensa e já fui convidada para alguns outros projetos com ele. Vou já participar do projeto de seus 80 anos. Tem também os cordistas do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Eles tocaram em Delicadeza e ficou bem bonito, numa faixa que é uma respiração no disco.

Holofote Virtual: Aliás, o repertório mudou completamente, mas algumas músicas de outros compositores ficaram. Quais os motivos dessas escolhas?

Juliana Sinimbú: Interpretei Clarão da Lua, que é do Almirzinho Gabriel, porque eu acho que pra um homem dizer que ‘o clarão da lua é cheia é pouco, porque te gosto’, ele só pode ter um lado feminino muito forte, muito genial, então eu acho que esta música sempre fez parte do Una, desde que ele era ideia.

Fiz Quero Quero da Iva, que desde o inicio também já estava escolhida, e Não me Provoca, da Dona Onete, que é de um feminino incrível. Tem ainda Nua Ideia, de Caetano e João Donato. São dois ídolos. Donato fez parte diretamente da minha história artística. E tê-lo tocando nessa faixa foi um presente tão grande que não precisei de aniversário.

Paturi, na percusa e Edvaldo, o batera
Holofote Virtual: E essa direção cênica do Adriano Barroso?

Juliana Sinimbú: Ah, eu adoro trabalhar com o Adriano, que já tinha feito o clipe do Arrocha. Eu adoro trabalhar com o os atores, embora ache que são pouco utilizados pela música, o que é um erro. Eles são maravilhosos e o Adriano é meu muso inspirador. No clipe que ele gravou, eu precisava de alguém pra fazer um canalha, o chamei e ele disse, em milésimos de segundos: é agora!

Daí o chamei pra dirigir, e de novo: agora! Então, enquanto eu puder tê-lo, assim será. É um dos meus ídolos.  O olhar de quem trabalha com teatro é apurado pra arrematar os exageros, a gente ganha logo um bom roteiro. Eu preciso, pois se me deixarem solta, sou terrível, vou quere dizer que liguei pra uma amiga, vou embora...

O Adriano me instiga, vai até o final e me diz, aqui não querida, aqui é horrível. E eu deixo, ele eu deixo e adoro! (risos, risos).  Para o show, criamos uma personagem, uma mulher que está saindo de uma festa e ali ela vai contar a história dela.

Mais cordas, com Príamo no baixo e Davi na guitarra
Holofote Virtual: Além da música, tens outro talento... Tem criação tua no projeto gráfico do CD então...

Juliana Sinimbú: Estudei arquitetura, cheguei a ser estagiária, mas nunca me formei. Faço desenhos, ilustração, designer gráfico, como freelances, mas pouco, fiz muita ilustração enquanto morava em SP com meu marido. Eu dirigi o projeto gráfico do meu disco e a Temple executou. As fotos são do Jonas Tucci, de São Paulo, um grande amigo. Optamos em fazer algo meio cru, por ser meu disco de compositora.

Holofote Virtual: Planos para uma circulação com o show, projetos novos?

Juliana Sinimbú: No Rio de Janeiro, estarei em 15 de maio, no Solar de Botofago, junto com Marcela Bellas. Vamos fazer alguns shows juntas, pelo Natura Musical. Em agosto devo estar em BH, também num festival do Natura. Ainda não é certo SP, mas acredito que entre final de maio e inicio de junho.

Estamos fechando show pra cá pra Belém. Vários, inclusive ao ar livre. E vou continuar com o projeto Elas por Elas, em que eu canto Gal, Camila Honda canta Nara Leão, Natalia Matos manda Elis e Nana Reis, Nana Caymmi. Já rolou no SESC Boulevard, mas vamos continuar com isso, acreditamos que ainda que tenhamos o nosso trabalho individual é muito bacana a reinterpretação de grandes compositores. Ano que vem pretendemos dar continuidade, mas escolhendo o repertório de outras cantoras. Este ano vou cuidar mesmo é do CD e levar adiante que já está aí.

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