Na manhã dessa sexta-feira, 24 de julho, passar pela Rua João Alfredo, movimentado reduto do centro comercial da capital paraense, foi sinônimo de tristeza. A imagem desoladora dos escombros dos dois prédios datados do século XIX, destruídos pelo fogo, na madrugada de quarta para quinta-feira, 23 de julho, chamava atenção, causava espanto, indignação e muita tristeza.
Magnitude e negligência. Como foi difícil ver aquilo. Ainda havia fumaça, tal a violência com que enormes labaredas levaram ao solo dois gigantes do nosso patrimônio histórico. Eles não resistiram. Faziam parte do inventário memorial daqueles bairros. Estavam lado a lado.
Não eram mais residências e nem foram transformados em espaços públicos, abertos a sociedade civil. Ali funcionavam, como na maioria dos prédios situados na mesma região, estabelecimentos comerciais. Os locatários dizem que tiveram prejuízo. O óbvio. O pior, no entanto, é a perda do que deveria ser recuperado e entregue à população. Não foi só o fogo que os derrubou. Sabemos que, de fato, é o descaso que destrói o patrimônio histórico de uma cidade, que devasta a memória de um povo.
É o que, há muitos e muitos anos, testemunhamos. Os que acabam de cair são apenas mais exemplos do que já foi detonado ou do que está por vir a ser destruído.
E hoje, entre blocos inteiros derrubados no chão, uma das laterais e a parede do fundo, de um deles, ainda resistiam, lembrando as ruínas de um Coliseu. Ainda dava para perceber sua grandeza, enquanto o do lado, o outro, ainda conservou sua fachada.
Em 2012, o Ministério da Cultura efetivou o tombamento de todo o conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico dos bairros da Cidade Velha e Campina, localizados centro histórico de Belém. O processo foi elaborado pelo Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Em tese, ao todo três mil edificações dos bairros da Campina e Cidade Velha são “protegidas” pelo governo federal. Mas a lei do tombamento, para estes dois prédios de nada adiantou. Foram tombados sim, mas ao chão.
As edificações do centro histórico são descaracterizadas, são consumidas pelo fogo ou simplesmente sofrem com o abandono. A legislação não permite que prédios tombados sejam destruídos ou modificados em suas fachadas ou áreas internas. Sem manutenção, mesmo construídos para durar séculos, basta aguardar que o tempo se encarregag de detoná-las. Depois é fácil erguer outras e “modernas” no lugar.
Belém vai fazer 400 anos. Há inúmeros e controversos preparativos para festejar a data, em grande estilo. Belém vai fazer 400 anos, mas está triste e abandonada. Belém vai fazer 400 anos, e já não temos tantos motivos para comemorar. Enquanto os projetos de recuperação e restauros do centro histórico não saírem do papel ou não passarem de discursos políticos, é o que teremos: a destruição de todo um legado que as próximas gerações não poderão mais usufruir ou presenciar.
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