20.3.18

"Iracema Voa" e comemora seus 81 anos de vida

A 2a temporada no IAP em 2009 (Foto: Alberto Bitar)
A trajetória da artista está de volta á cena com o espetáculo "Iracema Voa", que resulta de uma pesquisa da atriz Ester Sá. A apresentação, nesta quarta-feira, 21, às 20h, no Teatro do Sesi, marca os 10 anos do espetáculo, além do aniversário de 81 anos da artista, com quem bati um super papo, que publico agora no blog.


Duas mulheres que sonham e realizam. Iracema Oliveira e Ester Sá. Duas gerações. Elas se uniram pelo amor à arte. Ester Sá ganhou em 2008 a Bolsa de Pesquisa e Experimentação do Instituto de Artes do Pará (Casa das Artes) para investigar a trajetória artística de Iracema Oliveira, que desde a infância acompanhava o pai nos folguedos juninos, viveu entre Pássaros, Quadrilhas e Pastorinhas. Depois enveredou pelo teatro, televisão e rádio onde ainda está atuante, paralelamente ao trabalho de Guardião do Pássaro Tucano.

Mestra de Pastorinha (Prêmio Minc), Mestra da Cultura Popular (Prêmio da Fundação Cultural do Pará) e Guardiã do Pássaro Junino Tucano e Grupo Frutos do Pará. “Eu me sinto feliz por receber reconhecimento pelo meu trabalho, o artista precisa disso”, comenta a atriz.

“Iracema Voa” não era encenado desde 2015, o que torna a apresentação no Teatro do Sesi, uma grande oportunidade para conferir o universo do Pássaro Junino e os programas de auditório da década de 50, além das quadrilhas juninas, Pastorinhas e outras facetas da vida de Iracema, que completa no dia da apresentação do espetáculo 81 anos de vida, mais da metade dedicados ao Pássaro Junino.

Trajetória de luta e conquistas do Pássaro Junino

Iracema Oliveria e o Pássaro Tucano  (Foto: Úrsula Bahia)
“O Tucano anda bem das pernas”, me diz Iracema Oliveira, atendendo a uma entrevista para o blog, neste final de semana. “Há dificuldades porque você sabe que para os Pássaros os espaços físicos desapareceram, mas o Tucano tem sorte de ter sempre um lugar para se apresentar”, comenta.

É mérito dela. “Porque tudo que faço é com amor e por amor. Isso eu trouxe de berço, não encontrei nos livros, mas na vivência, no meu cotidiano. Já passei conhecimentos para meus filhos, estou passando para meus netos e tenho certeza que minha estrada ainda é longa”, diz.

Em junho, o grupo apresenta a peça “A Vingança de Uma Feiticeira”. “Os papeis já foram distribuídos”, diz Iracema, que há mais de 40 anos é Guardiã do Pássaro Tucano, cumprindo a árdua tarefa de se fazer cultura popular, quando não há muitos incentivos públicos e os espaços de apresentação são raros.

Figurinos do Pásaro Tucano (Foto: Úrsula Bahia)
“Eu sempre tenho em mente que a esperança é a última que morre. E eu acredito e espero que as coisas melhorem. Gostaria que abrissem mais editais, pois eles é que nos ajudam a realizar projetos, viajar e divulgar nossa cultura. Projeto nós temos, passamos o ano inteiro em torno disso, toda nossa equipe envolvida, mas é preciso mais apoio e incentivo”, diz Iracema.

Em 2010, Iracema já chamava atenção aqui no blog para a necessidade de se fundar um teatro para as apresentações dos Pássaros, como já houve o Teatro São Cristóvão, hoje, em ruínas. Naquele ano, ela também tinha acabado de aprovar um projeto de Ponto de Cultura, que continua funcionando em sua própria casa. Na entrevista concedida ao blog na ocasião

Pergunto se ainda hoje o público interage com as apresentações do Pássaro junino. Ela diz que sim, mas que depende do texto e da peça. “O Tucano sempre provoca essa interação, até porque fazemos muita apresentação na comunidade. Daí, na parte cômica as crianças se envolvem, e no drama, muita gente chora, e nós nos emocionamos. A troca com o público é muito importante”, afirma.

As várias facetas de uma vida dedicada à arte

A voz do P[assaro junino do Pará (Foto divulgação)
Atriz de rádio, televisão e cinema. Cantora e Radialista.  Aos 81 anos de idade, Iracema Oliveira diz que se sente uma mulher realizada. Além do Pássaro e das Pastorinhas, Iracema também coordena o grupo Parafolclórico Frutos do Pará, que há 25 anos trabalha com jovens que através das danças entram em contato direto com a cultura tradicional amazônica.

“Desenvolvemos nossos projetos através da Associação Cultural Francisco Oliveira, que ganhou o nome de meu pai, numa homenagem em reconhecimento a tudo que ele nos deixou”, diz ela, que o acompanhava já aos 8 anos de idade em grupos juninos como os de cordões de pássaros. Assim, o Compositor Velho Chico como era chamado pelos amigos, foi o responsável sua inserção na vida artística.

Do teatro, Iracema oliveria traz belas memórias também. Trabalhou com Cláudio Barradas, Cleodon Gondim e Albertinho Bastos, sob a direção deles. “Fiz mais espetáculos com o Cláudio Barradas, pois ele era o diretor do Grupo de Teatro da UFPA, do qual eu fazia parte. Foram muitas peças mas a que mais marcou foi ‘Odorico, o Bem Amado’. Foi muito bonito”, lembra.

Iracema segue atuante na Rádio Marajoara
Iniciou na Rádio Marajoara em 1954. Até o momento são 64 anos de carreira só nesta área. “Continuo trabalhando. A rádio até hoje faz parte do meu dia a dia”, comemora ela, radioatriz, locutora e cantora, que na década de 70, chegou a ser considerada a “Rainha do Rádio Paraense”, apelidada pelos colegas de trabalho.

“Minha vida é isso: rádio, televisão, teatro, cinema, Pássaro, Pastorinha, Grupo folclórico, além dos amigos que me procuram. Eu vivo em função da arte. Tenho muito carinho pelos trabalhos que faço e com o reconhecimento me dá vontade de vencer e ir para frente com mais vontade de lutar e de vencer”, finaliza.

Serviço
“Iracema Voa”, de Ester Sá - baseada na trajetória artística de Iracema Oliveira. Única apresentação nesta quarta-feira, 21, no Teatro do Sesi, às 20h. Na Doutor Freitas, com Almirante Barroso. Ingresso R$ 20,00 e R$ 10,00 (meia entrada). 

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