2.9.23

Muralhas Invisíveis, uma Ópera Rap no Waldemar

Edyr Augusto com Pelé do Manifesto. O rapper 
fica em cena até este domingo, 3. 
Foto: Leandro Oliveira.
O teatro brechtiano do Grupo Palha volta aos palcos da cidade com “Muralhas Invisíveis”, musical com dramaturgia de Edyr Augusto Proença, direção de Paulo Santana e composições de Pelé do Manifesto. 

O espetáculo ficará em cartaz até 10 de setembro, de quinta a sexta às 20h, e sábados e domingos, em duas sessões, às 18h e 20h, no Teatro Experimental Waldemar Henrique.

Muralhas Invisíveis estreou na quinta-feira, mas ontem, o clima continuava de estreia. Filas para entrar, pessoas da cena teatro presentes na plateia e uma notícia que ecoou nos corredores do teatro: Edyr Augusto Proença agora é o diretor do Theatro da Paz. Obviamente que falamos sobre isso na entrevista a seguir concedida após a apresentação de Muralhas. 

Eu também conversei com Paulo Santana, que celebra igualmente o resultado da montagem contemplada pelo Prêmio Funarte de Estímulo ao Teatro, da Fundação Nacional de Artes vinculada ao Ministério da Cultura (MinC) do Governo Federal, uma equipe técnica experiente e atuante no teatro paraense.

Um mergulho no cotidiano das ruas

Cenário de Charles Serruya - 12 atores em cena 
Foto do blog.
Da janela do apartamento em que vive, no centro da cidade, Edyr Augusto observa uma geografia humana que também circula e se movimenta, fazendo uma espécie de coreografia do cotidiano. 

As cenas que ele vê não são exatamente uma novidade, muito pelo contrário. São prostitutas, cafetões, pedintes, traficantes, guardadores e artistas, personagens que criam e são engolidos por um território paralelo que insiste em não se enxergar. 

Enquanto os invibilizamos, eles, assim como Edyr, de sua janela, nos observam. “Isso existe em qualquer cidade grande. O centro da cidade funciona com um imã, atraindo pessoas em diversas situações. Fugidas ou expulsas de casa, ou que chegou ali por conta de um distúrbio. Estamos acomodados, no ar condicionado dos carros e não damos atenção ao outro, mas eles nos observam”, reflete. 

Coreografias e música

Homenagem à Zé Celso
Martinez. Foto do blog.

O espetáculo tem coreografia do Kekeu, artista do Hip Hop e é co-criado na sua forma musical, com Pelé do Manifesto, que fez letras e as músicas da trilha sonora, a partir do texto de Edyr Augusto. Em cena, os dramas vão se tornando mais densos à medida em que fluem as histórias e entram novas músicos, novas coreografias. 

O autor  mergulha nas complexidades da vida urbana e da invisibilidade social e Manifesto acerta ao transportar isso para o lugar de fala do rap. Ele também assina a sonoplastia e entra em cena, canta ao vivo, pelo menos até este domingo, por isso não percam. 

“Essa ideia já existia há muito tempo e encontrei no Paulo Santana, que é um dos melhores diretores que temos de teatro em Belém, a pessoa certa para tocar o projeto. E as músicas do Pelé do Manifesto são sensacionais. Este é um encontro de algumas pessoas e que deu muito certo. Tô muito feliz com o resultado”, diz Edyr Augusto, dramaturgo e escritor, autor de diversas obras premiadas no Brasil e no exterior. 

Paulo Santana também enxerga tudo isso como um grande encontro. Atuando há 47 anos no teatro paraense, ele trabalhou como ator em “A Menina do rio Guamá", espetáculo do Edyr Proença, nos anos 1980. “Hoje estou tendo oportunidade de dirigir uma dramaturgia dele, e eu adoro o que ele escreve. Foram 2.500 sinopses inscritas, do Brasil inteiro, com apenas duas premiações por região. Levamos em Belém e Manaus também levou ”, comentou. 

O processo criativo gerou trabalho na cadeia produtiva do teatro. Figurinistas, costureiras, cenógrafos e todas as demais funções, além da produção, foram contratadas. E feita a seleção dos atores, teve início a um longo processo de ensaios, leituras e muita coreografia. Ao todo o espetáculo conta com 22 pessoas. 

Temporadas x mercado de trabalho 

Kesynho Houston, do elenco, eu (LM), Paulo
Santana e Pelé do Manifesto
Foto: Leandro Oliveira

“Eu queria dialogar com jovens, eu sou professor de teatro, de dois em dois anos a gente coloca atores no mercado, e estes meninos e meninas precisam ir para a cena”, continua o diretor. 

Ele explica que para chegar a esse elenco de 12 atores, foi feita uma seleção, para a qual se inscreveram 80 candidatos.  Não era o principal critério ser ator ou atriz formada etc. A ideia era buscar novos atores e não atores, que passariam a lidar com o teatro brechtiano do Grupo Palha. 

“Tudo que faço é uma crítica a esse lugar do capitalismo. Eu sou, o Palha é brechtiano, eu acho que o teatro precisa fazer refletir sobre todas essas questões, tem que tocar e atravessar quem vê e é um exercício difícil pra quem interpreta e quer romper a quarta parede”, acentua Paulo Santana. 

A temporada de 10 dias e 12 apresentações do espetáculo tem a ver com esta reflexão. “Teatro não é guig”, comenta.  O diretor acredita que o mercado da arte existe e que as temporadas são importantes para fortalecer o cenário com novos atores e grupos. 

"O intérprete só cresce em cena e rompe a quarta parede se ele fizer temporadas, só assim ele consegue perceber e dominar a plateia e acredito que vamos conseguir chegar lá.  Estamos num retorno de quatro anos de silêncio e acho que a cidade já sente essa mudança deste novo olhar para cultura”, diz Santana.  

Edyr Augusto na direção do Theatro da Paz 

Edyr Augusto, neste sábado, terceira noite
Foto: Leandro Oliveira

Sempre houve cena teatral pulsante em Belém e sempre houve essa queixa dos artistas em relação a falta de uma política pública de ocupação do Theatro da Paz, dando acesso aos grupos locais. 

Na exposição “Teatro Cena Aberta – Memória da Cena Paraense”, aberta no Teatro Popular Nazareno Tourinho, a trajetória do Cena Aberta, entre o final de 1970 e 1990, confirma isso em registros e falas na imprensa. A questão persiste até hoje.  

A indicação para o cargo, de acordo com Edyr,  partiu da deputada estadual Diana Belo (MDB), trazendo justamente esta questão à tona e que ele pretende cuidar nesta gestão. Edyr afirma que vai iniciar seu trabalho como diretor com objetivo de reabrir as portas do teatro para os grupos locais. “A ideia, já foi compartilhada com a deputada, e já conversei também com a secretária (Ursula Vidal) e seu adjunto, o Bruno Chagas. Precisamos trazer o teatro paraense de volta para o Theatro da Paz”, diz.  

Houve também um motivo afetivo para aceitar o convite. “O meu avô foi diretor do Thearto da Paz, será homenagem a ele. Estreei lá, o 1o espetáculo há mais de 50 anos e estive outras vezes, a última com ‘Abraço’ - Zê Charone e Cláudio Barradas”. 

O novo diretor elogiou o trabalho realizado por Daniel Araújo. “O teatro estava sendo muito bem dirigido pelo Daniel, e está em ótimo estado. Há um trabalho feito na área da música, de muita qualidade, mas o Theatro da Paz agora também precisa abraçar o nosso teatro”, concluiu.

Serviço

O Teatro Waldemar Henrique fica na Praça da República, na Av. Presidente Vargas. Ingressos: R$ 20,00 (inteiro) e R$ 10,00 (meia). Pagamento via pix e dinheiro.

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Ficha Técnica

Dramaturgia: Edyr Augusto

Direção e Encenação: Paulo Santana

Elenco: Leandro Astral, Yuri Ganha, Lucas Bereco, Kesynho Houston, Xviccy, Claudio Raposo, Marina Di Gusmão, Isabella Valentina, Lorena Bianco, Krystara Monteiro, David Silva

Assistência de Direção: Kesynho Houston

Estagiária de Direção: Victoria Rodrigues

Direção Musical: Ismael Mello, Pelé Do Manifesto

Composição Musical: Pelé Do Manifesto, Ismael Mello

Direção Coreográfica: Kekeu, Luana Lemos

Preparação Corporal: Luana Lemos, Kekeu

Cenografia: Charles Serruya

Figurino: Claudia Palheta, Lucas Belo

Costura: Marcia Gonçalves

Aderecista: Marcia Almeida

Desenho de Luz: Malu Rabelo

Sonoplastia: Suely Brito

Paisagismo Sonoro: Ismael Mello

Assessoria de Imprensa e Redes Sociais: Leandro Oliveira

Design Grafico e Direção De Arte: Claudia Palheta e Victoria Rodrigues

Produção de Video: Victoria Rodrigues

Fotografia do Programa: Xviccy, Kesynho Houston

Montagem de Arte do Programa: Victoria Rodrigues

Assistente de Produção: Suely Brito

Produção: Tania Santana, Zê Charone

Realização: Grupo de Teatro Palha

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