13.3.10

Entrevista: Márcio Curi (DF) realiza leitura de roteiro com o público em semana cheia de eventos de cinema em Belém

È, para quem gosta de cinema, a programação cultural da cidade na próxima semana será um prato cheio.

Entre os eventos que irão acontecer, estão, logo na segunda-feira, as duas sessões da mostra itinerante do Festcine e o início do curso de direção de fotografia com Diógenes Leal, no IAP.

Também na segunda-feira, 15, acontece o encontro dos representantes de instituições, entidades e organizações não-governamentais articuladas ao audiovisual paraense, às 17h, no Teatro Gasômetro do Parque da Residência (Av. Magalhães Barata).

Na pauta, as articulações para a implantação do Fórum Audivisual Amazônia Legal , que deverá acontecer de 03 a 05 de junho, com participação dos estados do Amazonas, Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Tocantins, Pará, Maranhão, Mato Grosso, Goiás.

Já na terça-feira,16, e na quarta-feira, 17, estará em Belém o produtor executivo de cinema Márcio Curi (foto acima), que chega direto de Brasília para realizar a Leitura do Roteiro do filme “A Última Estação”, cuja direção será sua, tendo participação e debate com o roteirista Di Moretti (“Cabra Cega”, “Filhas do Vento”, “Nossa Vida não Cabe num Opala”).

As inscrições já estão abertas, são gratuitas e, as vagas, claro, limitadas. Apenas 50 pessoas devem participar das leituras de roteiro e sessões de filmes, além do debate com Di Moretti (na foto ao lado, recebendo o troféu Calunga de melhor roteiro de “Nossa Vida não cabe num Opala, na 12ª edição do Cine PE - Festival Audiovisual do Recife, 2008),.

O evento será no Hangar Centro de Convenções da Amazônia. Mais informações: 91 33444100 (Hangar) ou pelo e-mail de Cláudio Figueiredo, que faz a produção local do curso: figueiredoclaudio@gmail.com.

Márcio, que produziu “Araguaya, a Conspiração do Silêncio”, entre outros do circuito nacional. Está na labuta do cinema desde 1967. Já participou de doze longas-metragens, mais de trinta curtas, e ainda dezenas de vídeos institucionais.

“A Última Estação” é uma narrativa bem-humorada e poética das travessias que a personagem precisa fazer, ao longo da vida, em busca da felicidade.

O Holofote Virtual conversou com Márcio Curi, que antecipou como será a dinâmica das leituras. Aproveitamos também para falar de sua estadia em Belém, nos idos de 2002, quando “Araguaya” estava na ebulição de suas filmagens.

Um filme que, segundo Márcio, foi difícil de fazer, mas que acabou lhe proporcionando uma relação de amizade com Belém, que guarda até hoje e o faz voltar sempre por aqui. Leia a entrevista.

Holofote Virtual: Qual o objetivo fundamental deste curso?

Márcio Curi:
O objetivo fundamental das leituras de roteiro, que venho fazendo para o filme A Última Estação, é avaliar a percepção das pessoas sobre a história e os personagens do filme. É um processo muito rico aonde você consegue avaliar bem mais do que em uma leitura individual, ou mesmo coletiva somente com atores, as características dramáticas de cada cena do roteiro. Conseguimos perceber o que pende para o drama, o que puxa para o lado do humor, quais os potenciais trágicos, farsescos, enfim, o leque completo de possibilidades que a história oferece.

Holofote Virtual: Qual a importância dessas leituras de roteiro?

Márcio Curi:
Do ponto de vista dos realizadores do filme isso é fundamental para a composição dos personagens, afinação do elenco e, também, para encontrar o tom de cada cena. Da parte de quem participa, é um exercício de apredizagem riquíssimo sobre a técnica de roteiro para cinema.

Na primeira etapa, que é a leitura com a participação de atores, poderemos perceber como os personagens começam a nascer, ganhando voz, vida, ritmo, comportamento próprio, com a contribuição dos atores-leitores.

Os participantes poderão perceber e também opinar sobre diferentes aspectos da história, colaborando para o aprimoramento do roteiro e da proposta dramatúrgica do filme. É uma experiência muito rica. Recomendo fortemente para qualquer interessado em cinema. Seja esse interesse profissional ou simplesmente de apreciação.

Holofote Virtual: Antes de Belém, vocês também já estiveram em outras cidades. Desde quando o projeto está na estrada?

Márcio Curi:
As experiências começaram por Brasília no final do ano passado, com a realização da leitura do segundo tratamento de A Ultima Estação para os alunos do Curso de Cinema e Mídias Digitais do IESB. O resultado surpreendeu a todos e nos animou a programar mais três leituras. Belém, Ilhéus e São Paulo.

Essa atividade é fruto de um longo processo de trabalho que venho realizando juntamente com Renato Barbieri, que é meu parceiro no projeto Teste de Audiência (www.testedeaudiencia.com.br), que realizamos com apoio da CAIXA Cultural em Brasília e Curitiba.

O projeto já está na quarta temporada e apresenta filmes brasileiros ainda em fase de finalização para uma platéia sem qualquer envolvimento com o filme, o realizador ou quem quer que seja ligado à produção do filme. São sessões surpresa, sem que as pessoas saibam sequer que filme irão assistir. Ao fim da sessão aplicamos um questionário e debatemos o filme.

Holofote Virtual: Como tem sido os resultados dessas leituras?

Márcio Curi:
O resultado é um relatório bem circunstanciado com informações preciosas sobre a percepção que aquele público presente teve do filme.

Voltando ao roteiro, com o tempo percebemos que muitas das percepções importantes que aparecem nos relatórios que produzimos, tem a ver com roteiro do filme.

Daí veio a idéia de buscar um método para antecipar essas percepções sobre o roteiro para um momento em que ainda fosse possível aprimora-lo.

Assim imaginamos essa proposta de leitura dramática aberta ao público, com uso de questionário para aferir as percepções, seguida de um debate com o roteirista dois ou três dias depois, dando o tempo necessário para uma segunda leitura - essa individual - por parte do participante.

Holofote Virtual: O que é preciso para se fazer um bom argumento, além de uma idéia?

Márcio Curi:
O primeiro grande desafio para quem quer fazer cinema, talvez o maior de todos, é ter uma boa história e contá-la bem contada. Essa é uma tarefa muito difícil, cheia de armadilhas e para atravessá-las o roteiro é o guia, o salvo-conduto. Por isso é tão importante aprimora-lo à exaustão.

Respondendo então à sua pergunta, para fazer um bom argumento é preciso muita pesquisa, uma disposição incansável para questionar o que parece resolvido, descobrir como isso está sendo percebido por quem trava o primeiro contato com a história sem informações prévias, isto é, ver como a história funciona por sua própria conta, sem as "muletas" das referências presentes nas mentes que a conceberam.

Holofote Virtual: É de argumentos que dependem um bom roteiro e consequentemente bons filmes ...

Márcio Curi:
Sem dúvida. Por isso o nosso empenho em aprimorá-los. As leituras que estamos promovendo visam exatamente aprimorar o argumento e o roteiro do nosso filme e, ao mesmo tempo, compartilhar essa experiência com um número grande de pessoas porque acreditamos que o futuro do cinema no Brasil depende muito da melhoria dos roteiros. Infelizmente apenas há uns poucos anos começamos a acordar para essa realidade e por isso estamos um pouco atrasados nessa matéria.

Holofote Virtual: Você esteve aqui em Belém, em 2002, na época do “Araguaya, a Conspiração do Silêncio” (Ronaldo Duque). O que ficou de Belém na tua vida, depois daquele período?

Márcio Curi: Depois do filme (Na foto, cena com Françoise Fourton e o saudoso Norton Nascimento), Belém passou a fazer parte indissociável da minha vida. Tenho comprovado isso na prática, pois não fiz mais nenhum filme sem ao menos quatro ou cinco paraenses que não dispenso em nenhuma hipótese. No plano profissional, Araguaya foi o maior desafio que enfrentei até hoje.

Um filme difícil, com recursos muito escassos, que conseguimos realizar a custa de muito aprendizado, parcerias incríveis e, gosto de frisar sempre, da enorme generosidade dos paraenses, desde os técnicos e atores, que trabalharam conosco, até as pessoas mais improváveis como os ribeirinhos, os militares, os operários, os comerciantes, as autoridades etc.

Acho que o Pará abraçou mesmo o filme, caso contrário ele não teria saído. Os sete meses que passei em Belém para fazer Araguaya (a Conspiração do Silêncio) foram um dos períodos mais ricos da minha vida, tanto no plano profissional, como no plano pessoal.

No plano pessoal, ficaram grandes amizades e uma enorme admiração pelo povo paraense que me proporcionou, de forma tão acolhedora, uma vivência amazônica que me faltava e que foi muito importante agregar à minha formação. Essa experiência consolidou em mim uma admiração latente que já tinha pela região norte e que veio a se consolidar com algumas idas posteriores, principalmente ao próprio Pará e ao Amapá.

2 comentários:

Rose Porciuncula disse...

olá,
sabe me dizer onde consigo baixar esse filme?
obrigada

Rose Porciuncula disse...

Olá,
sabe me dizer onde posso baixar esse filme?
obrigada