Há seis anos, a Cia. Fé Cênica vem encenando em São Paulo, obras de autores paraenses de várias gerações. “Fogo Cruel em Lua de Mel”, de Nazareno Tourinho, é uma delas. Apresentado em São Paulo em 2007, o espetáculo estará em cartaz em Belém, nos dias 05 e 06 de janeiro, às 20h, no Teatro Cuíra.
“Fogo Cruel em Lua de Mel" já foi apresentada em quatro temporadas na capital paulista. “Em uma delas, durou sete meses ininterruptos e foi uma fase muito boa, em que o público e colegas do teatro se interessaram em saber mais sobre a dramaturgia paraense”, revela o diretor Cláudio Marinho que falou ao Holofote Virtual.
Foi com uma obra de Nazareno Tourinho que Cláudio deu início a Cia Fé Cênica e dirigiu seu primeiro espetáculo. Morando em São Paulo desde 2004, o interesse pela cena teatral de Belém, nunca deixou de ser um foco para ele que é também jornalista e antes de sair daqui atuou tanto nas redações quando em montagens teatrais. Não por acaso em 2007, Cláudio esteve por aqui em busca de algo que pudesse levar consigo e fizesse emergir nos palcos de lá, um pouco da cena sempre tão rica do teatro paraense.
“A escolha da dramaturgia paraense como ponto de partida para o nosso trabalho foi intencional”, diz ele. “Queríamos fazer estas experiências com textos desses autores em São Paulo”, explica ele ao mesmo tempo em que afirma não ser esta uma marca do grupo.
“Buscamos sempre a contradição, a valorização do conflito, que alimenta a dramaturgia", diz. O texto de Nazareno Tourinho serve bem para este propósito. "Ele desnuda a alma e nos faz pensar sobre as múltiplas possibilidades de ser e estar. Por isso continua em nosso repertório desde o grupo existe”, continua.
"Mas o fato do projeto já durar seis anos buscando os autores paraenses, sustenta-se, na verdade, por sua continuidade ininterrupta. E isso nos permite avaliar os resultados. Tem sido bem interessante”, afirma.
Depois de "Fogo Cruel em Lua de Mel", a companhia também encenou "As Ruminantes", de Saulo Sisnando, e "Perfídia Quase Perfeita", de Carlos Correia Santos. Os três textos trazem um terreno fértil para outro foco do grupo que é pesquisar o trabalho de ator nos gêneros comédia dramática e tragicomédia.
“Pesquisamos a presença do ator no limiar entre a dor e o prazer, no trânsito entre sensações completamente divergentes. Nas três peças também tratamos de questões universais e isso quebra bastante qualquer imagem pré-concebida sobre a dramaturgia paraense, que não se concentra somente em temáticas regionalistas”, discute.
“Fogo Cruel em Lua de Mel", diz o diretor, tem um final surpreendente. No palco, Gil e Elza, que se casaram após onze anos de namoro, estão em sua noite de núpcias. Uma discussão sobre suas diferenças, porém, transforma o amor em tormento, interrompido apenas quando a vida lhes dá um sinal, apontando para eles a possibilidade da morte.
No elenco, estão os atores Geraldo Machado e Viviane Bernard, que já se apresentaram na cidade em março do ano passado na peça “Perfídia Quase Perfeita”, além do jornalista paraense Mario Augusto, que faz participação em voz off.
Com humor, a obra provoca reflexão sobre a brevidade da vida e a maneira como as pessoas administram seu tempo e sonhos. Na rápida entrevista que segue logo abaixo, Cláudio Marinho fala mais do espetáculo e revela alguns dos planos da companhia em 2013.
Holofote Virtual: O que neste texto do Nazareno Tourinho toca mais o público, na tua opinião?
Cláudio Marinho: As personagens vivem momentos de grande contradição quando
desconfiam que podem morrer em uma situação que é inusitada. O fogo as
leva para uma situação limite, que garante a comicidade da peça. O texto
faz rir e chorar, diverte e ao mesmo tempo provoca uma reflexão sobre
questões existenciais.
Nós buscamos neste texto do Nazareno Tourinho a valorização do conteúdo existencial. A peça é uma comédia. Mas o tempo todo nos propõe uma reflexão sobre o que fazemos com o nosso tempo, com nossa vida, com nossos sonhos.
Os personagens Elza e Gil são divergentes o tempo inteiro e isso provoca o riso. Mas há um momento de virada em que eles mudam de ideia e isto acontece numa sincronia que os mantém numa posição conflitante. Eles estão na noite de núpcias e o hotel onde se hospedaram pega fogo. Diante da possibilidade da morte, máscaras caem. Percebemos que o cair das máscaras interessou ao público que viu a montagem.
Holofote Virtual: É sempre difícil trabalhar com arte neste país. Como vocês estão conseguindo se manter durante estes seis anos?
Cláudio Marinho: Muito difícil mesmo e a única luz no final do túnel que enxergo é continuar trabalhando. Com todas as dificuldades que um grupo de teatro enfrenta, percebemos que a Cia. Fé Cênica entra sempre em lugares novos, encontra sempre um novo público, vive novas experiências. É necessário insistência e consciência do próprio trabalho. Não gosto do discurso da reclamação.
Holofote Virtual: Vocês já pensam em nova montagem em 2013? Qual será o texto da vez?
Cláudio Marinho: Em 2013 vamos manter o repertório das peças já encenadas. Mas também pretendemos estrear mais duas peças: uma para o público infantil, escrita pelo ator Geraldo Machado e assim iniciamos um exercício de dramaturgia dentro do próprio grupo.
Esta peça infantil, ainda sem título, já está em processo de criação desde o ano passado. Pretendemos falar da memória cultural e certamente será a mais amazônica de todas as montagens no que se refere à temática. Também estou adaptando "Antígona", de Sófocles. Fora esses projetos, ainda estamos criando "Noivo do Vento", sem previsão de estreia.
Holofote Virtual: E o jornalismo, onde ficou na tua vida diante de tudo isso?
Cláudio Marinho: Acabei de concluir uma pós-graduação em Jornalismo Cultural na FAAP e minha pesquisa é intitulada "Alma e Suor: a influência da preparadora de elenco Fátima Toledo no cinema brasileiro". Foi uma ótima oportunidade para pesquisar este método de atuação.
Desta forma, estava no meio jornalístico, mas pesquisando um assunto que me interessa muito. Penso que o jornalismo pode ser exercitado fora de uma redação convencional. Tenho saudade da reportagem, mas o teatro é, literalmente, minha cachaça.
Serviço
Ingressos: R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia-entrada para estudantes). Classificação etária: 12 anos. Duração: 50 minutos. Informações: (91) 3246 4830 e (91)9119 9367. O Teatro Cuíra fica na Riachuelo, esquina da rua 1º de Março - Campina.
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