21.8.16

Aíla lança o CD "Em Cada Verso um Contra Ataque"

Fotos: Renato Chalú
Depois de lançar nas redes sociais o clipe single “Rápido”, Aíla esteve por aqui para mostrar seu novo álbum “Em Cada Verso Um Contra-Ataque e bateu um papo com o blog. Adiantou datas de próximos shows no país e falou um pouco mais sobre o novo trabalho.

Em Belém, o show foi incrível. O Teatro Estação Gasômetro, sem as cadeiras na área central, permitiu que o público fosse pra frente do palco e dançasse com Aíla, que aliás estava muito bem acompanhada pelos músicos Caetano Malta (guitarras), Arthur Kunz (bateria), João Deogracias (baixos) e Chiquinho Moreira (teclado).  Plena, em seu contra-ataque, dominando a cena, a cantora fez uma apresentação potente. Plateia atenta, aplausos. Entrosamento entre cantora e músicos.

“A banda que tocou comigo em Belém é praticamente a que gravou o disco, com exceção do Chiquinho. Tínhamos no estúdio, o tecladista João Leão. Quando a gente leva pro palco a banda que gravou o disco, rola uma interação muito grande. Eles que fizeram cada arranjo junto com a gente, e gravamos ao vivo, sem bpm, sem fone de ouvido. Foram quase dez dias de imersão pra criar as sonoridades do disco. Esse primeiro show refletiu muito dessa energia”, explica a cantora.

O novo trabalho renova e reafirma uma parceria antiga com Dona Onete, e apresenta outras conexões da cantora, com Chico César, Bruno Batista, César Lacerda e Carlos Posada, além de trazer a participação do guitarrista Manoel Cordeiro, em uma das dez faixas do disco.  O disco foi produzido por Lucas Santana e gravado em São Paulo, onde a cantora reside atualmente, com patrocínio da Natura Musical.

“Lucas Santana é um artista que admiro demais, é um ativista político que usa a arte dele para falar de política. Ele já tinha feito uma canção que quase entra no meu primeiro CD, ‘Ela é Belém’, mas não entrou porque tivemos contratempos, eu já estava finalizando o disco. 

Por isso que eu a Juliana Sá, que dirigiu artisticamente este álbum comigo, pensamos logo nele. Queríamos um produtor que não fosse muito comum nesse meio, ele não costuma produzir coisa de outros artistas, é uma fase nova pra ele, e foi uma experiência ótima”, diz Aíla.

A cantora conta que chegou a ele já com o conceito do disco, mas ainda não tinha todas as músicas. “Ele foi em busca junto comigo, foi muito especial, pra mim ele é um dos maiores artistas do Brasil, hoje, significa muito pra nossa musica contemporânea”, elogia. 

As letras das canções são mais políticas. Trazem o lado ativista de Aíla, já presente no primeiro álbum, lançado em 2012. Em Trelelê, entre músicas que falam de amor e “fuleragens”, o disco também traz “Todo Mundo Nasce Artista”, que traduz posicionamentos ideológicos de Aila.

Não à toa, a canção fez parte do repertório de lançamento de “Em cada verso um contra ataque”, em um dos momentos finais, com participação de MC Pelé. Foi vibrante, uma versão de pegada rap. “Todo mundo nasce artista/Depois vem a repressão/Não faz arte, diz a tia/Vê se deixa de invenção....” encerrando “E essa doença tem cura!/ Existe uma salvação!/ Faça arte! faça arte!/ Mesmo que sua mãe diga que não. 

Mergulho nos anos 1980 trouxe, As Mercenárias

A banda de pós punk formada só por mulheres encantou Aila. “Troquei muita ideia com o Pio Lobato (guitarrista) e ele me disse que se eu quisesse falar de causas, lutar por elas etc, eu precisava ouvir Mercenárias. 

A música Rápido é um reflexo dessas letras curtinhas e diretas da banda”, comenta. Entre outras influências, ela cita também Siba, além do próprio Lucas Santana, que a inspiram porque conseguem falar do hoje e do agora de maneira pop dançante “O meu disco reflete muito isso”. 

Há diversidade no contemporâneo. A canção de Dona Onete, Lasby Gay, é uma lambada eletrônica, que fala de sobre questões de gênero, de amor livre. O disco tem pegada eletrônica, que se mistura a música acústica, mas também é uma música orgânica.

“A banda toca ao vivo, eu canto ao vivo também no disco”, reforça. “Eu também queria muito que as pessoas dançassem e se percebessem cantando e se questionando sobre assuntos importantes”, diz Aíla.

Os próximos shows

Entre as próximas apresentações, está a do dia 6 de setembro, no Teatro Oficina, onde também surge Cultura de Luta, versão de Aíla e Roberta Carvalho para Baile de Favela, de MC João, que não autorizou a gravação da música no novo disco, mas que está no repertório do show. 

"O golpe veio quente, nós já tá fervendo/O golpe veio quente, nós já tá fervendo/Quer desafiar, não tô entendendo", canta Aíla que também puxa um #foratemer. Há show pré-agendado para o interior de São Paulo, uma apresentação no Sesc São Carlos. Em outubro talvez o show volte a Belém e há outras conexões pra lançar o disco no Rio de Janeiro e em Salvador. E fora do país, pergunto. 

“É hora de circular e expandir estas fronteiras. Pop tropical, influências do punk, eletrônico, lambada, brega, muita coisa múltipla neste novo trabalho. Fazer uma turnê internacional seria ótimo, quem sabe, vamos nos preparar pra isso”, conclui.

Concepção visual e parceria musical

Além de um trabalho musical intenso e cuidadoso, o álbum traz na concepção visual, a parceria com a artista visual Roberta Carvalho. “Essa parceria com Beta é muito legal e só se amplia”. A música single clipe “Rápido” tem letra assinada pela dupla. 

“A Roberta sempre escreveu poemas. Peguei um deles e musiquei. É uma letra que fala dessa velocidade frenética do tempo, dessas relações superficiais, tudo muito acelerado, demasiado”, diz Aíla.

Roberta Carvalho, artista visual premiada, residindo também em São Paulo, com Aíla, também dirigiu o videoclipe de “Rápido” e assina o roteiro junto com Lucas Escócio. “Fomos pra rua, ela usou câmera na mão. Queríamos fazer um clipe não ligado a uma história linear. É mais algo voltado a vídeo arte. Nossa parceria é bem escancarada, natural, só que nunca imaginamos que íamos fazer uma canção juntas”, revela.

Tal relação reflete no disco e no trabalho em geral. A direção de arte, conceito visual e design também trazem assinatura de Roberta Carvalho. “É um amadurecimento de nossa parceria. E pra mim também. Consegui fazer politica através da minha arte", diz.

"Acho que é isso mesmo, quatro anos que eu não gravava e sempre trouxe comigo estas inquietações, precisava transformar isso em arte”, finaliza a cantora, que vem sendo acomanhada pelo blogo desde o início de sua carreira. Pinçamos outros bate papos e matérias com Aíla, realizados entre 2010 e 2014.

Aíla no Holofote Virtual

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