Seu Pelé dando depoimento ao curta A Gurupá" |
Descortinando mais uma página de memória em Belém do Pará, o curta "A Gurupá" foi lançado na última sexta-feira, 7, na Casa Velha 226, espaço cultural e residência do produtor cultural Marco Tuma, morador do bairro mais antigo da capital paraense e um dos personagens do documentário.
“Ficamos muito felizes quando o exibimos porque as pessoas perceberam que num pequeno vídeo, com pouco mais de 10 minutos, há muitas histórias. O curta é um resultado de pesquisa de personagens, se pensarmos em projeto de audiovisual mais elaborado. Pra gente, ele é só um ponto de partida”, diz o jornalista Felipe Cortez, do Treme Filmes, coletivo de audiovisual.
“Ficamos muito felizes quando o exibimos porque as pessoas perceberam que num pequeno vídeo, com pouco mais de 10 minutos, há muitas histórias. O curta é um resultado de pesquisa de personagens, se pensarmos em projeto de audiovisual mais elaborado. Pra gente, ele é só um ponto de partida”, diz o jornalista Felipe Cortez, do Treme Filmes, coletivo de audiovisual.
Não pude ir ao lançamento, na sexta-feira, mas vi o documentário já nas redes sociais e canal de Youtube. O curta traz relatos de antigos moradores da Cidade Velha, personagens sugeridos por Marco Tuma, que há um ano abriu as portas da sua Casa 226, para reunir pessoas interessadas numa revitalização desse espaço de identidade e resistência.
“O filme é sobre esta cidade, que está viva na memória. Chegamos a personagens que marcam esta paisagem humana da Cidade Velha, como o seu Pelé, um dos moradores mais antigos, a Marialba, da família Mendes, que viu muita coisa se transformar no bairro, o seu Gilberto, o Raspado, que trabalha no boteco que fica na esquina da rua Dr. Malcher com a Gurupá. Pessoas que viveram muitas coisas, a que só temos acesso pelo olhar delas”, comenta Felipe.
São pessoas entre 40 e 80 anos, gente que nasceu e se criou na Cidade Velha, morando na Gurupá, e ao longo do tempo viu muita transformações na paisagem, junto um abandono atroz, e que a cada ano que passa só faz se alastrar.
Louças antigas, verdadeiros museus de família estão escondidos nas casas da Cidade Velha. Presentes de casamento, alguns dados pelo ex-governador Magalhães Barata, na década de 40.
As brincadeiras eram na rua. Pira esconde, bicicleta, Estátua!. Quando não havia luz, diversão era sentar na porta e ouvir histórias da Matinta Perera, da "Égua sem Cabeça".
"Em cada esquina havia uma taberna", lembra um dos entrevistados. Japoneses que trabalhavam na feira do Ver o Peso também foram morar na Cidade Velha. "Ficava perto para eles. Naquele tempo se andava a pé”, relembra outro. A tranquilidade da Cidade Velha, porém, não existe mais.
Marco Tuma conta que os pais moraram 50 anos na Casa 226. “Ele eram típicos moradores do bairro, eram caseiros, quietos e frequentavam os cinemas de bairro que tinham”, diz ele, se referindo ao Cine Guarani e Universal, próximos um do outro. O primeiro, ficava em frente à Praça Felipe Patroni, e o outro, no Largo de São João. Até hoje suas fachadas estão lá, mas os prédios agora funcionam como espaços do Ministério Público e do Judiciário.
Seu Pelé conta que a garotada adorava furar a entrada do cinema Guarani que na época passava filmes impróprios para menores de 18 anos. “O cara era considerado se ele conseguisse furar, escapar do porteiro e passar pra dentro do cinema”, relata ele, que é irmão de outro grande personagem da Gurupá, o chef da melhor comida de boteco da Cidade Velha, o Rubão.
"A Gurupá" é assinado pela Treme Filmes e Produções, com produção de Lissa de Alexandria e Thamires Veloso, fotografia de Paulo Favacho e Jhonny Barbosa e edição de Felipe Cortez e Jhonny Barbosa. Este é apenas um documentário, mas imagina uma Belém de 400 anos, quantas história continuam guardadas apenas na memória das pessoas e que precisam ser contadas?
“Mais importante que a pesquisa feita para o curta é a atitude de realizá-lo. Não tem mistério nenhum. Quem trabalha com audiovisual poderia fazer mais isso, documentar o cotidiano de um lugar, fatos do lugar. No mais, é uma questão mais de técnica. Queremos com isso estimular pessoas que queiram se envolver com este tipo de esforço e produção”, provoca Felipe.
Eu endosso. Desde menina frequento o Centro Histórico, indo à feira e centro comercial e depois visitando amigos e frequentando barzinhos, teatro, cinema, baladas e domingos nas praças. Desde 2015, por causa do Circular Campina Cidade Velha, também tenho acompanhado mais de perto as discussões e iniciativas que buscam revitalizar um espaço tão importante para todos nós, raiz da nossa identidade cultural.
Importante que a população não tenha cruzado os braços e nem desistido desta cidade. Enquanto isso, o poder público falta com sua obrigação mínima. Calçadas estão quebradas, lixo acumulado, iluminação precária, falta de segurança, aumento da população de rua, um atentado a todo tipo de patrimônio, histórico, ambiental, arquitetônico, cultural e humano.
Vejam: "A Gurupá"
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