“O Passado é Lugar Estrangeiro”, da jornalista Suelen Carvalho, traz uma trama engenhosa e absorvente que envolve um convento de clausura no Pará. Diana, a protagonista, é castigada pela descoberta de um segredo perturbador no computador do marido e de um passado que acredita poder formatar. O lançamento em Belém é nesta quinta-feira, 20 de abril, às 19h, na Casa do Fauno.
Lançado em janeiro em São Paulo pela Editora Patuá, o romance reflete sobre passado, luto, as chances de esquecimento e as possibilidades de se apagar registros da própria história ou escolher outro passado para ter vivido.
“O livro é sobre um segredo, sobre para onde vão as palavras que não conseguimos pronunciar ou comunicar nem para nós mesmos. É um percurso de uma personagem para o descolamento de seu próprio passado, a tentativa de se separar de um passado. E se uma mulher devastada por um segredo que não consegue revelar quisesse apagar o tal segredo da sua vida, o que ela faria? A narrativa oferece uma resposta para isso”, diz a autora, em entrevista ao blog.
Nascida em Castanhal, no Pará, em 1982, Suelen me diz que se mudou para Belém em 2000, quando entrou para o curso de comunicação da UFPA, e morou na cidade, até 2013, quando partiu para São Paulo. “Mas viajo sempre que possível, umas duas vezes ao ano. Tenho sobrinhos pequenos e sinto saudades”, diz a jornalista e roteirista que na semana passada, lançou o livro em sua cidade natal, onde ainda moram seus pais.
Ela se diz uma paraense clichê, que gosta da gastronomia, é devota de Nossa Senhora de Nazaré, e traz aquele sotaque chiado característico e que despacha isopor pesado no aeroporto. “Belém é um amor idealizado, daqueles que a gente quer de qualquer jeito, que faz a gente agir irracionalmente e acreditar que é feliz”, finaliza.
O livro tem apresentação de Élida Lima e prefácio de Karina Jucá. O título “O Passado é Lugar Estrngeiro” faz referência à epígrafe do escritor inglês L.P. Hartley, que indica a recusa do presente e das cores, que causam à personagem dor como em uma enxaqueca perene e que é também a tentativa de se proteger do passado impondo fronteiras instransponíveis. É o que vai levar Diana à obsessão pelo convento de clausura.
Suelen já publicou contos em revistas literárias, antologias e um e-book infanto-juvenil. O gosto pela leitura vem desde muito pequena e que o passo dado para começar a criar histórias foi curto.
“Eu achava que livros eram as redações que a gente escrevia na escola, mas longuíssimas. Eu enchia meus cadernos. Com o tempo, o ensino médio e as questões de vestibular, as leituras permaneceram, mas a escrita inventiva ficou de lado. Deu lugar ao jornalismo. Nos últimos sete anos, a necessidade de criar histórias ressurgiu e eu corri para atendê-la”, diz.
“O Passado é Lugar Estrangeiro” foi escrito em quatro anos. Para chegar a sua forma final, passou por várias reescritas e muitos cortes. A ideia principal partiu de um conto escrito anteriormente e que lhe pareceu pedir mais. Foi aí que ela voltou criar narrativas mais longas. “No final do processo, já em São Paulo, fiz algumas oficinas de escrita criativa que me deram um olhar mais crítico e desapegado sobre o meu próprio texto. Esse distanciamento ajuda muito na decisão de por ou não um ponto final nos originais”.
Pergunto a ela quais suas referências na literatura brasileira e, em específico, na literatura paraense. Ela me dá uma lista enorme. “Gosto muito dos livros do Edyr Augusto, que narra histórias que jogam vísceras na nossa cara. Há aquilo que só a ficção consegue mostrar e essa é a razão de existir da ficção, da literatura. Nos último anos, redescobri Max Martins pelo olhar de Élida Lima, escritora paraense que admiro, com o seu Cartas ao Max.
Li o último livro do Caco Ishak, que recomendo. Benedito Nunes, com seus livros sobre o drama da linguagem e o tempo na narrativa me tiram do lugar e isso é bom para a escrita. Isso para falar de alguns paraenses. Hoje, tenho acompanhado bastante escritores contemporâneos, sobretudo latino americanos.
O cubano Leonardo Padura e a argentina Selva Almada foram leituras relativamente recentes que me assaltaram. Tem muitos outros. A Elvira Vigna, para mim, é o que há de maior na literatura brasileira atualmente. É fundamental. Há outras escritoras que admiro e que leio com sede, Virgínia Woolf, Clarisse Lispector, Lygia Fagundes Telles, Alice Munro, Margaret Atwood. Guardo o desejo de que me influenciem”.
Suelen Carvalho está há cinco anos radicada em São Paulo, trabalhando em projetos de conteúdo para internet e em audiovisual, como freelancer para produtoras. “Hoje, estou trabalhando como roteirista numa série documental sobre corpo e movimento para a TV Sesc, pela Init Arte Visual. Paralelamente, trabalho na "transposição" para roteiro de longa metragem de um livro infanto-juvenil que escrevi, mas ainda não foi publicado”, revela. “O passado é lugar estrangeiro é meu primeiro romance. A minha expectativa é continuar escrevendo ficção”.
A escritora diz que já tem um projeto de novo romance, que está bem no início, ainda com título provisório. “Comecei a trabalhar nele. Atualmente, também quero finalizar um infanto-juvenil que está quase pronto, eu diria, para buscar publicação”, finaliza.
Serviço
Lançamento O Passado É Lugar Estrangeiro, Editora Patuá, de Suelen Carvalho. Nesta quinta-feira, 20, às 19h, na Casa do Fauno. Rua Aristides Lobo, 1061, entre Benjaimn e Rui Barbosa. Preço: R$ 38,00. Informações : 91 98705.0609.
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