4.12.18

Kleber Paturi num papo sobre o "Sons da Floresta"

Fotos: Alan Soares / Arte: Vilson Vicente
A montagem de palco, cenário, luz e som para a gravação do show "Sons da Floresta", que resultará no DVD homônimo, projeto contemplado pelo Rumos Itaú Cultural, iniciou hoje pela manhã. A apresentação aberta ao público será nesta quarta-feira, 5, às 19h, no Teatro Waldemar Henrique. Os ingressos começaram a ser distribuídos na bilheteria do teatro, mas quem quiser pode levar um quilo de alimento não perecível para doação. Serão apenas 200 lugares. Melhor correr. 

O papo de hoje aqui no blog é com Kleber Benigno, Paturi, como é chamado pelos amigos. Ele iniciou sua carreira nos anos 1990 com o grupo Mosaico de Ravena, inicialmente como roadie e depois como percussionista. Na época já estava no Conservatório Carlos Gomes, onde estudava percussão erudita.  Já conhecia Nazaco Gomes, mas foi lá que encontrou com Márcio Jardim para em pouco tempo dar início a uma pesquisa que resultaria na formação do Trio Manari, no ano 2000. São 18 anos juntos, mas Paturi costuma dizer que para além do grupo, só de amizade lá se vão três décadas. Eles andam fazendo as contas. 

Em sua trajetória pessoal, Paturi tocou em diversos outros grupos e com vários artistas, como Marhco Monteiro, por cinco anos, e com o Fruta Quente, com o qual viajou pelo Brasil e Portugal. Também trabalhou com o Grupo de Percussão erudita do Conservatório Carlos Gomes, gravou discos com Marhco Monteiro, Fruta Quente, Banda Alternativa, Edilson Moreno, Pinduca, Patricia Bastos, Pedrinho Callado, Dante Ozzetti, Andrea Pinheiro e outros, até entrar para o grupo Percussão Brasil,  que tinha no comando o maestro Vanildo Monteiro, professor de todos eles.

O músico tem influência do rock e da música latina - estudou dois anos com o músico uruguaio radicado em Belém, Daniel Benitez -, da Música Popular do Brasil e a Cultura Popular da Amazônia. Atualmente cursa licenciatura em música e o técnico em percussão na Emufpa, sendo aluno do maestro Vanildo Monteiro, que era o regente do Percussão Brasil.

Com direção de Caco Souza, que filma no Pará desde os anos 1990, a gravação do show para o "Sons da Floresta" será histórica e em clima de celebração. No palco, além do trio, há convidados especiais como Marcelino Santos, banjista e percussionista, Wesley Jardim, no baixo, e William Jardim, na guitarra. Jovens, o primeiro foi aluno e os demais são filhos de Márcio Jardim. 

Há ainda Felipe Ricardo e Daniel Serrão, os irmãos saxofonistas que são fãs do trio que acompanham desde a mais tenra idade. Serão ao menos três gerações no palco, contando ainda com os músicos Lulu Borges, no trombone, e Gerson Levy, no trompete. Na entrevista a seguir, Paturi também traz suas lembranças sobre a formação do grupo, as viagens que fizeram pelo mundo e também conta mais um pouco sobre o que o trio preparou para este DVD.

Holofote Virtual: A partir das tuas memórias, como surge o Trio Manari?

Kleber Benigno Paturi: O Manari foi formado a partir de outro grupo chamado Percussão Brasil. Foi quando tocamos no Canadá, éramos bem uns 20 percussionistas, que percebemos o interesse que as pessoas lá fora têm pelos ritmos do Norte do Brasil.

Eles gostaram muito e pediram o bis dessas músicas da região do Pará. Foi aí que caiu a nossa ficha. Chegando aqui começamos a pesquisar os ritmos do Norte. Fomos pesquisando devagarzinho e vimos que dava para montar um grupo. Então é isso, ano 2000. O grupo tem 18 anos, mas de amizade mesmo temos mais de 20.


Holofote Virtual: O nome do grupo é muito legal, como surge essa ideia?

Kleber Benigno Paturi O nome surgiu de uma brincadeira. O “Ma”, de Márcio, o “Na”, do Nazaco e o “Ri”, de Paturí, pegando a última e não a primeira sílaba do nome.

Holofote Virtual: Ficou parecendo uma palavra indígena...

Kleber Benigno Paturi Na verdade as coisas vão se encontrando, não foi nada pensado, mas é isso. Graças a Deus.

Holofote Virtual: Nesses 18 anos vocês já realizaram muitas coisas, como as participações em festivais importantes... 

Kleber Benigno Paturi: Participamos de festivais de word music. E isso só acrescentou, conhecemos muitos músicos, tanto percussionistas, quanto outros instrumentistas, guitarristas, baixistas, e fizemos um elo, amigos pelo mundo, tanto que a gente tem algumas coisas gravadas com gente de fora, que nunca ninguém falou nada, porque nem a gente fala, né? (risos).

Mas eles lançam aí fora, e isso é legal. Isso fez com que a nossa cultura musical ganhasse mais visibilidade. Muitas pessoas, antes da gente, já vêm divulgando isso, querendo um lugar ao sol. E é isso que a gente tenta fazer quando vai pra um festival desses, a gente não vende só o nosso grupo, a gente garante o lugar do nosso Estado, do Norte do Brasil nessa cena e mostramos o nosso trabalho, que nem mesmo o nosso país e nem o mundo conhece muito ainda.

Holofote Virtual: O Manari mergulha nessa pesquisa dos ritmos da Amazônia e utiliza instrumentos especiais, artesanais, específicos para o trabalho que desenvolve. É isso que vem caracterizando mais ainda o trabalho de vocês?

Kleber Benigno Paturi: Fomos aos festivais dos EUA e na França justamente porque temos uma sonoridade diferente. Nos classificamos porque a gente tocou Carimbó, Samba de Cacete. A gente foi pra lá por causa desses ritmos, por causa dessa nossa identidade cultural.

E chegando lá foi melhor ainda, porque eles só tinham visto pelo vídeo, ou só pelo áudio, e lá eles viram ao vivo, como é o som mesmo, e foi muito bom, muito emocionante, tanto que a gente conseguiu tocar com vários caras maravilhosos como o Alex Acuña, Giovanni Hidalgo, Luis Conti, que são percussionistas mundialmente conhecidos, caras que já gravaram com Dizzy Gillespie, Madonna, Michael Jackson, então são pessoas maravilhosas que ficaram nossos amigos assim, de a gente ter o e-mail, o telefone, isso é legal, isso é bom.

Holofote Virtual: Vamos falar das músicas inéditas que estarão no DVD. Estão trazendo a essência do Manari?

Kleber Benigno Paturi: Há músicas supernovas que são muito percussivas, e nessas músicas somos só nós no palco. Os nomes ainda estão sendo criados (risos). Também vamos regravar Dançando no Rio, que é do 1º CD. A gente está mergulhando mais no universo percussivo nesse momento, fomentando mais a percussão aqui do Norte para que seja mais vista aí fora do Brasil.

Holofote Virtual: Todo mundo percebe que têm tocado pouco juntos, digo enquanto show do Manarí, mas estão sempre tocando com outros artistas, e sempre que um de vocês vai tocar é apresentado como do Trio Manari, ou seja, o Manari está sempre presente na cena, é isso? 

Kleber Benigno Paturi: É legal isso, porque inclusive cada um tem seu trabalho solo e dá força um pro outro, então quando a gente vê outro amigo no projeto dele, não tem aquela coisa de “poxa, que merda, o cara não está comigo”, não. O cara tem que fazer o trabalho solo dele também, porque é o sonho dele, aquelas músicas que ele está tocando ali são do sentimento dele, algo individual e que ele pode botar o que ele quiser, porque ele não vai ter os outros amigos enchendo o “saco”. (risos).

Holofote Virtual: O que tu estás fazendo paralelamente ao projeto de gravação do DVD?

Kleber Benigno Paturi: Paralelamente, eu voltei a estudar, estou fazendo uma graduação em música, licenciatura em música, e também voltei a estudar percussão erudita, que é um curso técnico em percussão erudita, mas para formação mesmo. Não que eu vá me tornar um percussionista erudito, é mais para lapidar o que eu penso e é sempre bom estar estudar, né? 

Holofote Virtual: O que se pode dizer ao público que amanhã vai prestigiar a gravação do DVD?

Kleber Benigno Paturi: Uma coisa só, que todo mundo que for ao show possa se comover com o que a gente toca, e que realmente comece a dar valor a todos os artistas aqui da região. Eu há 18 anos falo a mesma coisa. Eu, Márcio Jardim e Nazaco, todos nós artistas paraenses não devemos nada para nenhum artista do Brasil. O que está faltando é o público aqui do Norte do Brasil valorizar também estes artistas. Aí a gente vai longe, é isso, bora fazer junto isso, um beijo pra todo mundo.

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