9.2.19

Itinerância e fase de estudio sem chumbo nos pés

Naldinho Freire, no estúdio Budokaos
Foto: Gabriel Freire
Após três anos germinado em estúdios e palcos no país e no exterior, o projeto “sem chumbo nos pés”, de Naldinho Freire, músico e compositor paraibano, radicado em Belém, chega ao formato de álbum. O blog passou uma tarde no estúdio Budokaos, onde o produtor Marcel Barreto está realizando a edição e pré-mixagem das 12 faixas do disco, e conversamos com o compositor, que prevê o lançamento para maio, em Belém do Pará, com participações especiais.

Naldinho Freire, 53, passou 6 anos afastado dos palcos até que iniciasse um processo inverso para gravar este que será seu quarto álbum. Em 1996, lançou, ainda em vinil, o LP Lapidar; em 2005, o CD Viandante e, em 2006, o CD Raízes, do qual se desdobrou o artigo “Quando as palavras são raízes”. Em 2008, lançou o DVD “Raízes Traços Contemporâneos”, que faz um diálogo entre a música de tradição oral do Nordeste Brasileiro e a música moderna, já trazendo o namoro do músico  com música eletrônica, presente neste novo trabalho.

De espírito poético e repleto de liberdade, envolvendo cerca de 30 artistas, alguns deles com participação no disco, até chegar nesta fase de estúdio, “sem chumbo nos pés” foi apresentado em Recife (PE), Belém e Icoaraci (PA), Rio de Janeiro e Niterói (RJ), Maceió (AL), João Pessoa (PB), Natal e Pium (RN), e ainda por Praia e Tarrafal, em Cabo Verde, Lisboa, Braga e Porto, em Portugal.

Nessa espécie de laboratório itinerante, por onde passava, Naldinho Freire não perdia a oportunidade de gravar com os músicos que encontrava pelo caminho e assim, o disco traz gravações feitas em estúdios de João Pessoa, Natal, Fortaleza e Praia, além de Belém, onde já está no terceiro estúdio, de onde já sairá para masterização e prensagem. Aqui, ele gravou também inúmeras participações, como da baterista Juliana Salgado e Gláfira, além de Lucas Torres (guitarra) entre outras, que ele ainda quer guardar surpresa.

Marcel Barreto
Foto de Naldinho Freire
Marcado pela canção, utilizando violão de madeira, corda de aço e nylon, em diálogo com a música eletrônica, sem chumbo nos pés consolida o flerte com os elementos dos sintetizadores e os bits eletrônicos, que já estavam de certa forma presentes no trabalho do Raízes Traços Contemporâneos. Tive oportunidade de ver o show, em outubro de 2017, no Teatro do Centro de Artes da UFF, última etapa do projeto Territórios da Arte, realizado pela universidade em parceria com a Funarte. 

O músico já estava acompanhado pela instrumentista paraense, Beá Santos. Já o tinha conhecido, antes, durante a passagem do projeto Territórios da Arte, por Belém em agosto daquele ano, e depois do desfecho nesta apresentação em Niterói, que contou com participação especialíssima da cantora e compositora Kátia de França e o do músico Pierre Caprez, o blog passou a acompanhar sua trajetória.

O artista fez apresentações em Belém, no Sesc Boulevard, no Núcleo de Conexões Na Figueredo e na Livraria da Fox Video, além de Icoaraci, no espaço Na Casa do Artista, numa parceria com a pesquisadora e produtora cultural Auda Piani, que viajou com o artista a Cabo Verde para participar de um evento de música e gastronomia. 

Um projeto de liberdade

Na entrevista a seguir, Naldinho conta mais detalhes sobre o surgimento e desdobramentos de um trabalho “sem chumbo nos pés”.


Naldinho Freire
Foto de Juliana Salgado
Holofote Virtual: Três anos num processo que, ao que tudo indica, não deve finalizar com o lançamento do álbum. Como foi tirar o chumbo dos pés e se lançar neste trabalho?

Naldinho Freire: Em 2016, eu ainda estava na representação da Funarte, mas chegava à noite em casa e ia abrindo as gavetas para revisitar coisas que eu tinha feito ao longo dos anos. Já no final daquele ano, comecei a fazer novas composições, e já recebia poemas de amigos, o que daria o norte do projeto que é cheio de parcerias. Foi quando vim de férias para Belém e mostrei as canções à Inês Silveira (produtora), entreguei a ela para ler, ouvir algumas coisas. Precisei ficar um pouco longe disso. Ela fez uma curadoria, e no universo de umas 60 composições, chegamos a umas 20.

O intuito era de chegar num repertório para um concerto, que finalmente acabei estreando, em janeiro de 2017, no Teatro Mamulengo, em Recife (PE). Fui experimentando. A cada momento, colocava uma, tirava outra, ia observando isso, a reação da plateia, os músicos que eu chamava para fazer participações e foi assim chegamos às 12 músicas do álbum.

Holofote Virtual: E como foi esse processo de gravar de forma itinerante com os músicos que você convidava a participarem dos shows nas cidades por onde passou o “sem chumbo nos pés”?

Naldinho Freire: Quando eu estava na cidade que eu queria e pretendia uma participação de um ou mais artistas, conseguíamos um estúdio e eu já gravava ali mesmo. Em João Pessoa, gravei com Pedro Osmar, e Adeildo Vieira, pessoal do Musiclube da Paraíba, as meninas Déa Limeira, Glaucia Lima, que são da minha época, anos 1990. Esse momento foi quando estava na circulação do show com Beá Santos, que inclusive fez a direção no estúdio dessas gravações, na Paraíba. 

Em Cabo Verde eu gravei a guitarra de Manuel di Candinho, a voz guia de Mario Lucio, e todo o meu violão guia. A guitarra ficou tão legal que a gente está utilizando essa guitarra mesmo no disco. Candinho toca muito é um virtuose da guitarra, mas também toca piano, é um grande músico.  O Mario Lucio, depois esteve em Fortaleza para um concerto dele, e lá ele colocou a voz definitiva. O Ivan Ferrarro, criador da Feira da Música de Fortaleza, nos ajudou a arrumar um estúdio. Esse trabalho traz muitas energias. Eles dois, aliás, virão para o lançamento do álbum aqui em Belém. 

Gláfira
Foto de Juliana Salgado
Holofote Virtual: Como é esse negócio de mostrar o trabalho antes e gravar depois? E de onde vem o nome do disco?

Naldinho Freire: Gravei meu primeiro vinil foi em 1993, lançado em 1995, e eu ainda não tinha experimentado essa situação. Mas depois me afastei e fui pra gestão pública, durante seis anos, quando saí da Funarte em 2017 precisava  mostrar outra coisa, o que eu tinha de novo, em outra proposta de trabalho, pois o que eu tinha era música ao vivo e resolvi me largar a compor na estrada. 

Já o nome do disco “sem chumbo nos pés”, vem de uma canção que traz essa frase. “Pássaros sem chumbo nos pés, nós somos pássaros também”, e é isso, temos essa possibilidade de voar de outra forma. Então isso foi naturalmente se formando a partir dessa experiência e eu adorei o processo. Não foi algo de caso pensado, direcionado para isso, de fazer processo inverso, foi naturalmente.

Holofote Virtual: Como você está conseguindo realizar esta fase de estúdio e lançamento, você conta com algum apoio?

Naldinho Freire: Ao residir em Belém e realizar a estreia do "sem chumbo nos pés" em 2017, tive a oportunidade de apresentar esse projeto que traz o intercâmbio cultural com artistas caboverdeanos ao Deputado Federal Edmilson Rodrigues. Assim, a proposta foi contemplada através de emenda parlamentar para a realização das gravações, da fabricação e do lançamento do CD, incluindo a vinda dos caboverdeanos para o concerto e ainda para  participarem de um seminário onde trataremos desse intercâmbio, tudo isso em convênio com a FACTUR e PROEX/ FADESP - UFPA.

Lucas Torres
Foto de Naldinho Freire
Holofote Virtual: Além da circulação de show você também difunde suas canções pelas redes sociais. As plataformas digitais estão acabando com a tradição de se gravar um disco fisicamente?

Naldinho Freire: Sim, difundo pelas redes sociais e estou em plataformas digitais, mas percebi que as pessoas quando vão a um show, elas querem levar algo do artista, quando elas gostam do trabalho. Mas é claro que as plataformas digitais são fundamentais na forma de distribuição, sem dúvida. 

Aliás, há mais 150 plataformas de música no mundo, e eu trabalho assim desde 2010. Naquele ano, durante a Feira Música Brasil, em BH, fiz contrato com a Quae, e acho que sou o único artista que não é de Minas que tem trabalho com esta empresa, que distribui seu trabalho para diversas plataformas. Este ano, por exemplo, recebi um link de uma plataforma da Rússia e outra da Coreia que têm música minha.

Acompanhe o trabalho do artista em suas redes sociais:

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