O livro tem quase 800 páginas, reúne 20 trabalhos assinados por quase 30 pessoas, entre filhas, filhos, parentes, amigos e pesquisadores mobilizados para recuperar a história dos defensores da reforma agrária, direitos humanos e meio ambiente mortos no Pará.
Nas páginas desta obra constam casos de dirigentes sindicais, advogados, religiosos, chacinas e defensores do meio ambiente. O fotógrafo Sebastião Salgado cedeu fotos do Massacre de Eldorado, enquanto o procurador da República Felício Pontes assina artigo sobre a missionária Dorothy Stang, assassinada em 2005. Já o professor de Direito Rafael Pimenta, irmão de Gabriel, assina o artigo sobre o defensor dos direitos humanos.
A violência nas paragens da região é compreendida no livro sob o prisma estrutural que marca o avanço do capital sobre a Amazônia, como atesta os recentes acontecimentos transcorridos no estado do Amazonas, que redundou no assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips. Fato precedido pela chacina da família do senhor Zé do Lago, ocorrida em janeiro, no município de São Félix do Xingu, no Pará.
Romaria em memória de Dorothy Stang, assassinada em 2005, em Anapu-Pa. Registro de Miguel Chikaoka cedido ao livro. |
Gabriel Pimenta, João Batista e Paulo Fonteles integram o bloco dedicado aos advogados que combateram o latifúndio, enquanto que no quarto item, estão a Irmã Adelaide, Padre Jósimo e a Romaria das Meninas, que compõem a seção dedicada aos religiosos. Na parte dedicada às entrevistas, seguem relatos do Padre Paulinho, ex-coordenador da CPT do Pará, e o recém falecido dirigente camponês do Maranhão, Manoel da Conceição. Por por fim, o sexto anexo faz um resumo sobre casos de mortes e o andamento dos processos.
Felício Pontes assina artigo sobre a missionária Dorothy Stang, ombreado pelo padre Amaro, agente da CPT em Anapu, sudoeste do estado, onde a missionária e igualmente agente da CPT foi assassinada em fevereiro de 2005. Por lá, no Lote 96, as tensões permanecem. Fazendeiros e pistoleiros diariamente ameaçam os moradores e lideranças. Permanências de uma democracia esgarçada, marcada pela concentração da terra e da renda, o Estado autoritário, as coerções públicas e privadas. Toda ordem de abuso contra os mais fragilizados. Assim como Dorothy, Amaro sofre todo tipo de pressão: ameaças, criminalização por conta da missão que desenvolve junto aos camponeses, até preso foi.
Familiares assinam artigos sobre a memória das vítimas
Paulo Fonteles, morto em 1987. Registro de Miguel Chikaoka cedido ao livro. |
O nome de Dezinho chegou a constar na lista de pessoas marcadas para morrer por conta do combate que realizava pela reforma agrária. As autoridades do Estado sabiam. Todos sabiam. Nada foi feito. A hoje advogada e filha do dirigente sindical, junto com a viúva assinam o relato, Joélima da Costa e Maria Joel, respectivamente. Com o assassinato de Dezinho, dona Maria assumiu a direção do sindicato. Assim como o esposo, dona Joel viveu e ainda vive inúmeras situações de ameaça.
A professora da rede pública e mestra em História pela UFPA, Luzia Canuto, narra a saga do pai, João Canuto e dos irmãos que foram assassinados na cidade de Rio Maria, sul paraense. Como Dezinho, Canuto foi morto em dezembro. O crime ocorreu no dia 18. João foi morto com 18 tiros desferidos à queima roupa. Anos depois três filhos de Canuto foram sequestrados. Somente um sobreviveu, Orlando. Entre os acusados das atrocidades na cidade de Rio Maria, sul paraense, constam fazendeiro Vantuir Gonçalves Cardoso e o político Adilson Laranjeira. Eram tempos da União Democrática Ruralista (UDR). Instituição animada pelo hoje novamente governador de Goiás, Ronaldo Caiado.
A morosidade do Incra é colocada como fator que redundou na tocaia que matou o casal, que também teve os nomes em listas de marcados para morrer. Os irmãos de José, a advogada recém formada, Claudelice Santos é quem assina o artigo junto com Claudenir. Ela e a família assumiram a bandeira ambientalista do casal. Claudelice fez parte de uma turma de Direito da Terra, da Unifesspa. Iniciativa criada e direcionada para pessoas ligadas à defesa da reforma agrária, direitos humanos e do meio ambiente.
As tropas foram comandadas pelos militares Major Oliveira e o coronel Pantoja. Os laudos comprovam que boa parte dos 19 sem terra foram executados à queima roupa. Da cúpula de mandantes, somente Oliveira encontra-se vivo. Assim como em outras casos, o manto da impunidade cobre o caso. Os advogados José Batista Afonso e Carlos Guedes assinam o artigo.
O sangue não conhece cercas na Amazônia. A História da “conquista” da fronteira é uma história de expropriação de suas populações e assassinatos. Situações amalgamadas por precárias investigações, processos morosos e inconclusos no Judiciário – quando os mesmos chegam a ser instaurados -, este célebre por sua parcialidade em situações de conflitos que envolvem grandes corporações, grileiros de terras e fazendeiros e a sociodiversidade local da região.
“Quem não vive na Amazônia não sabe como o perigo nasce e descamba com o sol e vem ainda com a noite, cotidianamente” esclarece o derradeiro texto do livro, assinado por Júlia Iara, militante do MST/MA, publicizado quando da passagem de 21 anos do Massacre de Eldorado, em 2017.
Serviço
Lançamento do livro Luta pela terra na Amazônia: mortos na luta pela terra! Vivos na luta pela terra!
Belém – 30/07
Local: UFPA – Fórum Social Panamazônico (FOSPA), hall do Auditório Benedito Nunes
Hora: 11h
Imperatriz/MA – 19/08
Local e hora: a definir
Xinguara – 13 e 14/09
Local: Sintepp – (Sindicato dos Trabalhadores e das Trabalhadoras em Educação Pública do Pará)
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