Lançamento que já vinha sendo anunciado desde o ano passado, “Não precisa dizer eu também”, livro de poemas de Caco Ishak, vem finalmente à público nesta quarta-feira, 20, a partir das 18h30, na livraria da Fox (R. Dr. Moraes, 584), com direito a sessão de autógrafos do autor.
Não é um livro de amor? Embora o negue, é a isso que, de certa forma, nos remete o título. Pra ser mais exata, à dor que ele nos causa quando já não está lá, não existe mais no outro e, ainda assim, gostaríamos de tê-lo, recíproco, pulsante, híbrido.
O escritor paulista Marcelo Montenegro que assina a orelha explica melhor e diz que ao abrir o livro, “a sensação é meio a de estar removendo uma espécie de curativo. De um circo-ferida no qual – e no fim das contas – o tempo é – ao menos, deveria ser – ‘o maior acrobata de todos’”.
Então, é sim, um livro de amor, afinal quantas facetas este sentimento tem?
Depois de Belém, Caco segue para São Paulo, onde deverá lançará o livro, editado pela 7Letras, no Cemitério de Automóveis, bar teatro do dramaturgo Mário Bortolotto, espaço festejado por vários artistas, inaugurado no final de 2012, e para o Rio de Janeiro, levando seus poemas para a livraria da própria editora, em Ipanema.
Melhor ter logo o seu, pois a tiragem é indefinida.
“A 7Letras está com um esquema novo, impressão a laser, o que tornou tudo mais rápido e barato. Não se fala mais em edição e reedição, mas em impressão e reimpressão”, diz Caco, que nasceu em Goiânia, mas veio pra cá aos cinco, para onde o pai, este sim, paraense, voltou transferido.
Caco graduou-se em Direito. Não exerce. É Mestre em Epistemologia da Comunicação, pela universidade de São Paulo. Não porque sonhe com a academia, apenas a comunicação afina mais com suas predileções ou diversões profissionais, especificadas assim em um perfil postado na internet: criação literária, tradução literária, ghostwriting, roteiro, consultoria criativa, preparação de originais, revisão.
Caco é um turbilhão, uma avalanche mas que, se olhar rapidamente, talvez não se dê conta. Por via das dúvidas, saia de baixo. Ele é capaz de fazer e pensar mil coisas, sem querer ser especialista em nada. É o que ele mesmo conta na entrevista que segue mais a frente aqui. Enquanto respondia ao Holofote Virtual as inúmeras perguntas enviadas por e-mail, ele também me tirava algumas dúvidas pelo facebook, mandava erratas às respostas, ações paralelas à tradução de um livro, que deve entregar por estes dias à Editora Leya.
Citado pelo O Globo como um dos expoentes da fervilhante cena cultural paraense, Caco tem livros engavetados, prestes a serem retomados, um deles o romance intitulado “Cowboy”. “Não Precisa Dizer eu também” é o segundo livro de poemas. Em 2006, lançou “Má reputação”, também pela editora 7letras. Pergunto se ainda dá pra comprar e onde. “Diz que tá esgotado. A tiragem foi de apenas 500 exemplares. Encontrei alguns na Estante Virtual”, responde rapidamente.
Holofote Virtual: “Não precisa dizer eu também”. Gostei do título. Ele logo me sugere aquele clima que fica quando você diz eu te amo pra alguém. É teu segundo livro de poesia. Como ele surge, e os poemas falam de que (in)exatamante?
Caco Ishak: Obrigado. O título foi roubado, só não me sinto à vontade pra entrar em detalhes. Os poemas não têm uma fórmula, nem um tema específico. Surgem enquanto passo cheddar no pão ou quando acaba a gasolina. Não corro atrás deles.
Holofote Virtual: Você nasceu em Goiânia... O que te trouxe para Belém, aos cinco anos de idade?
Caco Ishak: Meu pai nasceu aqui. Ele foi professor da UFGO, onde conheceu minha mãe, sua aluna. Casaram-se, eu nasci e eles logo viajaram pra estudar fora. Fui junto. Na reta final dos estudos, eu e minha irmã fomos mandados de volta ao Brasil, direto pra Goiânia e pro colo da vó, até eles voltarem e nos mudarmos pra Belém.
Ou seja: nem dá pra dizer que morei em Goiânia, apesar de minha infância/adolescência toda ter sido "oito meses aqui, quatro meses lá" - era um bom aluno, sempre passei direto até o primeiro ano do segundo grau. Depois, não teve jeito.
Holofote Virtual: Como é este teu percurso, dá pra contar um pouco?
Caco Ishak: Caí fora de Belém em setembro de 2009, quando fui pro Rio terminar meu romance. Duas semanas depois, estava em São Paulo. Não tinha nada melhor pra fazer, resolvi embarcar num mestrado. O problema foi que logo me apaixonei por uma pequena de Belém e o jeito foi voltar. Acabamos nos casando. Em quatro anos, mudei oito vezes de casa. Bem por aí. Minha vida não é interessante.
Holofote Virtual: Imagina se fosse... (risos). Fizestes Comunicação, mas li em algum lugar que você prefere manter-se longe da academia...
Caco Ishak: Na verdade, não me graduei em Comunicação. Pensei: por que vou perder tempo com outra graduação se posso fazer logo uma pós-graduação duma vez? Aí, fiz o mestrado por puro passatempo, uma diversão e tanto - sério. Mas não pretendo seguir a carreira acadêmica. No mais, todo diploma tem seu valor, claro, só que um jornalista se faz nas ruas, ainda que dentro de casa.
Foto publkcada no jornal O Globo, em 2012 |
Holofote Virtual: Atuas como jornalista. Você colaborou com o Jornal do Brasil, a revista Rolling Stone...
Caco Ishak: Cheguei a cursar dois anos de jornalismo, mas, como disse, caí fora de Belém e simplesmente dei continuidade aos "estudos da comunicação" na pós. Sou graduado em Direito. Não, nunca exerci. Mal ia às aulas. Estava ocupado demais com Orlando Arouck, bebendo ou preparando uma edição do Macacada Fashion (que nome!), fanzine que lançamos ainda no primeiro ano de faculdade.
Gosto do jornalismo, não tenho como fugir dele. Ele torce a cara pra mim, eu torço de volta, fico afastado por um tempo, mas não demora muito e já era de novo. Gosto da liberdade que uma reportagem (independente) oferece, coisa que a academia acaba tolhendo um pouco.
Holofote Virtual: És sempre assim, múltiplo?
Caco Ishak: O primeiro livro que comprei não foi do Sartre, nem do Pessoa. Foi a autobiografia do Magic Johnson. Na época, eu tinha 10 pra 11 anos e queria ser jogador da NBA. Uma apendicite me desviou do caminho, só pode. Importa (ou nem tanto assim) é que, no livro, ele dizia não ser o melhor nas enterradas, nem nas cestas de três ou na defesa, não era o melhor em nada. Mas sabia fazer um pouco de tudo e se destacava por isso.
Acho que nunca me senti o melhor em nada e a confissão do Magic Johnson acabou sendo um consolo. Devo ter levado pra vida. Ou isso pode não ter nada a ver e ser apenas o que me ocorreu agora. As pessoas estão cada vez menos especialistas, não sou eu quem diz. Todo mundo sabe mexer no Photoshop (mentira, eu não, ainda uso o Paint), cozinhar, todo mundo é articulista. No fim, somos todos um bando de presepeiros.
Holofote Virtual: O que está mais na veia, no dia a dia?
Caco Ishak: A escrita, sem dúvida. Toda criação passa por um papel e um lápis.
Holofote Virtual: Ei, vi um vídeo teu no Youtube... tocando e cantando... Que é isso? Um novo projeto!
Caco Ishak: Não, nem pensar. Não por enquanto. Talvez.
Esse vídeo é antigo. Deve ter bem uns cinco anos. Era um projeto que eu tinha com o Gustavo Godinho, a gente tocava o terror nas festas, mas nunca fora delas. Logo depois de desistir da NBA, quis ser um astro do rock. Tinha doze anos, por aí.
Não demorou pra sacar que não ia rolar. Só que eu já tinha composto umas 200 músicas toscas no violão - tudo sem letra, ficava gemendo a melodia feito um retardado (até o dia em que entrasse num estúdio, quando as escreveria). Ainda bem que se perderam com o fim do Trama Virtual. Claro, não baixei nenhuma pra fazer um backup e não faço ideia de onde estão os arquivos digitais originais.
Sobraram só as K7's que gravei entre meus 15 e 18 anos. Tentei formar algumas bandas, nada que tenha passado do primeiro ensaio dentro do quarto. Melhor assim.
De vez em quando, aparece um corajoso e faz uma versão. Molho Negro, por exemplo, tem uma de Québec. O Sady Menescal, ex-Minibox Lunar, e com quem também já tive banda de um mês, meu cumpadre, é quem me persegue. Quem sabe, um dia, ele não me vença pelo cansaço.
Holofote Virtual: Cinema tá no foco....
Caco Ishak: Sempre me agradou a ideia de trabalhar com audiovisual, mas nunca levei adiante. Faz pouco, dirigi e roterizei um curta documental com o poeta paraense Jamil Damous, ainda não editado. Também co-roterizei o documentário Pessoas&&&Roupas, dos Morbach Bros, Beatriz e André, que está sendo rodado.
E escrevi o roteiro prum clipe da Molho Negro, em fase de captação de recursos.
Faz tempo que quero documentar a Rota 66 brasileira, instituída durante a ditadura militar e nunca levada a cabo, mas tudo não passa de brincadeira, fetiche, diversão.
Holofote Virtual: Tinhas alguns sites, a galeria virtual de arte urbana baixocalão. A primeira no país??? E também o blog ¡c¡ao!¡cret¡n¡!. Tentei acessar. Não consegui. Quais ideias você compartilhava por lá?
Caco Ishak: Exclusivamente virtual, sim. A exposição e a comercialização se davam apenas no próprio site, o que acabou possibilitando a exposição coletiva de artistas de todos os cantos do país a custo (quase) zero. Chegamos a fazer algumas exposições físicas também, mas já no fim de tudo.
O cretini começou em 2002, salvo engano. Foi meu segundo blog. Uns dois anos depois, recebi o convite de Tiago Casagrande e Leandro Gejfinbein, por intermédio da musa Joana Coccarelli, pra migrar pro condomínio deles, o Verbeat, onde fiquei até 200…9? 10? Até o condomínio fechar.
Compartilhava, é claro, cretinices. Foi meu laboratório literário, aquele velho clichê. Jogava uns poemas, umas crônicas, as matérias que escrevia, praticamente todo tipo de porcaria. O melhor mesmo eram os vizinhos. Os supracitados, Luiz Biajoni, Edson Aran, o também paraense Renmero Rodrigues (que acabou de terminar um romance)… até o Laerte passou por lá. Bons tempos.
Holofote Virtual: Poesia é tua paixão? Que autores te seduzem?
Caco Ishak: Eu estaria fodido e mal pago, com o perdão da palavra, se poesia fosse minha paixão. Eu que sou a paixão dela, a diaba me persegue, mas não caio nessa não.
Gosto muito de reclamar, essa sim é uma paixão. Thomas Bernhard, nesse sentido, é mestre. No fim, tudo o que não comporte um certo conjunto de palavras proibidas, como costuma dizer o escritor Sergio Mello, é passível de minha atenção.
Infelizmente, ou felizmente, essas palavras proibidas acabam eliminando 60% do que me chega às mãos logo nas primeiras páginas.
No fim, os autores que mais me seduzem são os que ainda não foram publicados. Aqui em Belém, por exemplo, temos vários e bons não publicados. O já citado Renmero Rodrigues, Marcelo Damaso, Gustavo Rodrigues, Natalia Brabo, Karina Jucá, André Arruda, Rafael Guedes, Ismael Machado. Ficção ou poesia, digo.
Holofote Virtual: Quando sai o primeiro romance e romance... tem garphic novel também? Já começaram os trabalhos? O que tem mais pra sair dessa cartola?
Caco Ishak: O romance está guardado na gaveta, à espera de revisão e do devido distanciamento. Não tenho pressa - tive ao escrevê-lo; urgência, na verdade. Tampouco vou esperar por minha boa vontade e, enquanto ela não vem, bolo outras formas de conquistar o mundo - e cair do cavalo, por supuesto. A graphic novel só tem o argumento, por enquanto. Fábio Vermelho acabou de engatar uma parceria com um escritor gringo, Christian Attridge, mas a próxima é comigo. Devo iniciar os trabalhos em abril ou maio, tão logo as coisas se acalmem por aqui.
Holofote Virtual: Acreditas num mercado literário? Na internet? Ajuda?
Caco Ishak: Acredito em um mercado que se desenvolveu a ponto de competir de igual pra igual com os ditos tradicionais. É uma questão de postura, pouco tem a ver com a internet. A internet ajuda tanto quanto atrapalha. Definitivamente, não é a salvação de nada.
Apenas uma plataforma que logo será substituída. Por outra que, talvez, permita uma evolução considerável na maneira como nos relacionamos.. Se eu escrever um livro usando uma Olivetti, mandar pra uma editora pelos correios e o povo lá gostar, meu livro será publicado. Caso contrário, não tem seguidor no Twitter que dê jeito. Então, o melhor é só escrever e escrever, mesmo, sem esperar por milagres.
Holofote Virtual: “Não precisa dizer eu também”. Quem são teus parceiros no livro?
Caco Ishak: Ah, tive vários parceiros ao longo do caminho. Era pra ter sido uma edição artesanal, numerada, com uma ilustração pra cada poema. Paulo Ponte Souza e Kael Kasabian fizeram parte desse projeto, idealizado pelo S. Lobo, então editor da Barba Negra. Mas o selo fechou antes que pudéssemos concretizar o mingau. Quando resolvi publicar só os poemas mesmo eu procurei a 7Letras. Acabou sendo o início da parceria com Fábio Vermelho, que fez uma ilustração pro miolo do livro - pra não perder tanto o encanto da proposta inicial.
Holofote Virtual: Fechando o papo plagiando a Marilia Gabriela (heheh)... O Caco por ele mesmo...
Caco Ishak: Antes, diria: a fraude do século. Hoje, isso me soa pretensioso demais. A fraude da semana está de bom tamanho. No fim, o pai da Malu. Posteridade, pra mim, é minha filha.
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