Nesta sexta-feira, 22 de março, as cinzas do pesquisador e historiador, falecido aos 81 anos, no último dia 7 de março, no Rio de Janeiro, serão jogadas na Baía do Guajará, em Belém do Pará. A cerimônia vai acontecer às 16h30, na orla da Estação das Docas. Autoridades, artistas, amigos e familiares estarão presentes, mas não haverá nenhum ritual mais formal.
Marcelo Salles, filho de Vicente Salles, em entrevista ao Holofote Virtual, informou que tudo será simples.
Alguns artistas devem prestar homenagens, mas tudo será realizado de maneira espontânea como o próprio Vicente Salles gostaria.
“Ele várias vezes manifestou este desejo de ser cremado e que suas cinzas fossem depositadas na Baia do Guajará e é isso que vamos fazer”, reforça Marcelo, ainda abalado pela perda. "Isso tem sido bastante difícil pra nós, mas acho que faz parte do processo para aceitação dos fatos”, diz Marcelo, em contato pelo telefone.
Marena Salles, 74, viúva do também jornalista e escritor, está chegando a Belém hoje, para participar do lançamento do Livro Serie Restauro – Volume 5, às 19h, no Theatro da Paz, e para o qual Vicente deu uma de suas últimas contribuições à memória da cultura paraense. Cerca de 100 páginas da publicação, que teve organização do secretário de cultura, Paulo Chaves Fernandes e de Rosário Lima, foram escritas por Vicente Salles.
Marcelo lembra que, várias vezes, eles o viram trabalhando no texto e discutindo por telefone alguns problemas sobre alguns programas do Theatro da Paz.
“Mas não tivemos acesso direto ao texto. Nós não tínhamos o costume de interferir no seu trabalho, a não ser quando ele pedia alguma opinião ou uma ajuda especifica. Normalmente eu só tinha contato com os seus textos quando já estavam publicados”, disse.
Natural de Igarapé- Miri, no nordeste paraense, Vicente Salles era pesquisador, historiador, folclorista e musicólogo, além de ser um dos mais importantes intelectuais do século XX, da Amazônia e do Brasil, e que continuava, com mais de 80 anos, produzindo e colaborando com diversas áreas.
Generoso, Vicnte Salles tinha como hábito compartilhar conhecimento. Certa vez em relação ao acervo de sua pesquisa doado ao
Museu da UFPA, ele disse que o que mais o deixava feliz era que, aquele
trabalho de digitalização e restauro, era a possibilidade de que grande parte do que ele reuniu, durante anos de
sua vida, poderia, assim, sobreveiver a ele. E de fato, irá, é o que se espera. Na entrevista que segue, Marcelo nos conta mais sobre esta profícua produção, que inclui material de acervo, livros prontos a espera de lançamento e muita coisa inédita.
Holofote Virtual: A produção de Vicente Salles é enorme. Mas imagino que ainda haja muita coisa que está com a família e que deve ser organizada...
Marcelo Salles: Sim. Existe um material imenso no seu apartamento em Brasília, que ele adquiriu depois de ter transferido o seu acervo para Belém. Parte deste material ele já havia organizado e deu instruções para onde deveria ser destinado. A outra parte, teremos que fazer um levantamento com calma para que seja devidamente destinado.
Holofote Virtual: E deve haver também escritos inéditos. Vocês têm conhecimento disso?
Marcelo Salles: Sim, ele produziu muito até os últimos dias. Ele tem muitos trabalhos inéditos. Temos a intenção de organizar o que for possível e tentar de alguma forma publicar estes livros. Um dos trabalhos que ele deixou incompleto foi A Música e o Tempo no Grão Pará. Este é uma série em quatro volumes em que ele conseguiu publicar apenas o primeiro e o quarto volume. O segundo ele estava fazendo uma revisão e o terceiro que estava na faze de organizar o texto. Este projeto grandioso tinha mais de quarenta anos de trabalho.
A obra que com certeza sei que esta para ser publicada é os Mocambeiros, pelo IAP. Sei que tem outros trabalhos em algumas instituições para serem publicadas, mas no momento não tenho certeza de que trabalhos são estes.
Holofote Virtual: Certa vez em uma entrevista que fiz com Vicente, em 2006, ele me disse que quando era criança cantava na igreja e a partir daí, percebeu que gostava de música. Há muito a contar sobre ele em uma biografia. Isso está sendo pensado?
Marcelo Salles: Já existe alguns trabalhos acadêmicos sobre o trabalho dele, mas uma biografia ainda não existe. É uma ideia a ser pensada com carinho. Sei que ele deixou um esboço de uma autobiografia. Também sei que Rose Silveira está desenvolvendo um trabalho específico sobre a trajetória de vida em relação à pesquisa do negro no Pará.
Holofote Virtual: Este texto escrito para o livro que vai ser lançado nesta quinta-feira, 21, sobre o Theatro da Paz, teria sido a sua última escrita?
Marcelo Salles: Em Belém talvez sim, mas não posso afirmar que esta tenha sido a última. Em dezembro de 2012, a Rose Silveira fez uma serie de entrevistas com ele no Rio de Janeiro para o trabalho sobre a sua trajetória em relação ao Negro no Pará. A informação que tenho é que parte destas entrevistas foram publicadas em 5 de fevereiro de 2013, no Diário do Pará.
Holofote Virtual: Fora a produção dele, que lembranças ficam da sua relação com seu pai?
Marcelo Salles: É difícil eu dizer uma coisa que mais tenha me marcado. Tenho muitas lembranças maravilhosas da convivência com meu pai. Poderia citar tanto no campo afetivo como no campo profissional. No momento não sei o que responder.
Nenhum comentário:
Postar um comentário