21.8.14

9º Festival Se Rasgum abre em clima de festa

A abertura do evento, nesta última quinta-feira, 21, foi nota 10. A ideia de dar o start do festival no Teatro Margarida Schivasappa do Centur deu super certo e deu ares de boas vindas ao público. Foi uma noite de encontros entre “velhos amigos” e gerações diferentes de bandas e músicos, provocando a sensação de estar em uma grande confraternização.

A escolha das primeiras atrações foi perfeita, nos deixando entre a nostalgia dos velhos tempos e os ares de um novo momento. Bolas dentro. Foram apresentados dois trabalhos paraenses em ascendência, mas de gerações distintas, e um terceiro, com um artista da “velha guarda”, digamos assim.


Suavidade e juventude em Camila Honda

Camila Honda, que acaba de lançar seu primeiro CD, abriu a programação. Voz suave, com um repertório divertido e juvenil, ela encantou a plateia. Há cerca de dois anos na cena, Camila desponta ao lado de outras cantoras, como Natalia Matos e Luê, que também acabaram de lançar o primeiro CD, e de Aila que, com um pouco mais de chão, já está indo em busca do segundo disco. 

Todas elas, além de outros artistas dessa nova geração, fazem parte dessa nova fase da produção musical no país, ligada à distribuição digital, com recursos de editais, via Lei de Incentivo e outros métodos independentes de financiamentos. Camila Honda segue como promessa de uma bela carreira, ainda se acostumando com o palco. 

Ontem fez apresentação com figurino adequado ao seu estilo e repertório que está no disco de estreia. Agradou. Foi acompanhada por Arhur Kunz na bateria e Leo Chermont, na guitarra (eles integram a banda em duo Strobo), além de Maurício Panzera (Clepsidra), no contrabaixo e Marcel Barreto em mais uma guitarra.

Antonio Novaes fez um show vibrante

Em seguida entrou em cena Antonio Novaes, que embora ainda não tenha lançado o primeiro CD da carreira solo, já é mais conhecido do cenário musical de Belém, por ter integrado, nos anos 1990, A Euterpia. 

A banda, que na época fez toda diferença, é até hoje lembrada e cultuada por muitos. Antônio mandou no show várias canções que fizeram parte do repertório da antiga banda, como “Dentro da Caixa”, que chegou a ser gravada no CD “Revirando o Sótão” (Na Music /2006), e outras que foram só executadas pelo grupo na fase paulista, entre 2008 a 2010, como “Salve Zé”, “Tenha mais cuidado”, entre outras, todas composições de Antônio, que integram o projeto Antônimo, CD que está em fase de captação.

A banda que o acompanha, com a talentosa e experiente cantora Cacau Novais, o baterista Adriano Souza, o contrabaixista Príamo Brandão, além do trompetista Thél Silva, o trombonista Jô Ribeiro e o saxofonista Marcos Puff, somados ao próprio Antônio, na voz e piano elétrico, contribuíram para a excelente apresentação. Foi um show de som encorpado e vibrante, cênico, visceral. Camila Honda deu palhinha na última canção “Do Tamanho do Mundo”. É a quarta vez que vejo este show. O público vibrou.

Nei Lisboa, um "velho" querido do público de Belém 

A noite fechou com Nei Lisboa, que abriu o show dizendo o quanto Belém continua o surpreendendo com recepções calorosas. Mas isso não é milagre ou resultado da grande mídia. Tem explicação. 

Quando Nei veio pela primeira vez em Belém, nos anos 1990, já tinha público, um mérito cavado pelo quarteto de programadores da Rádio Cultura do Pará, na época, formado por Beto Fares, hoje diretor da rádio (e que estava lá na plateia, claro), Toni Soares, que hoje segue carreira solo de cantor e compositor (ele integrou antes os grupos Porta de Casa e Pavulagem), Mariano Klautau Filho, jornalista, hoje seguindo a carreira acadêmica da semiótica e fotografia, em São Paulo, e Cesar Nunes, que continua trabalhando na rádio. 

Eles foram os responsáveis por ouvirmos naquela época Nei Lisboa, quando este sequer tocava no sudeste e em outras regiões do país. Um verdadeiro achado, como também aconteceu com Dulce Quental e o próprio Arrigo Barnabé, que embora tivesse uma carreira anterior a destes dois, passou a ser reconhecido pela geração anos 1990 de Belém, ganhando público maior por aqui. Todos vieram fazer show naquela época, lotando o Margarida Schivasappa,  por arte e graça desses quatro programadores. 

Não é mera coincidência... 

Daí que, por ironia do destino, Nei Lisboa entrou para o staff artístico do festival deste ano, e pela primeira vez, na vaga de Arrigo Barnabé, que viria com o projeto que inclui a banda feminina  “As Histéricas”, mas desistiu em cima do lance. Daí que a primeira vez de Nei Lisboa em Belém, também foi no Teatro Margarida Schivasappa do Centur. 

A segunda, quatro anos atrás, também, e isso no apagar das luzes para o fechamento do teatro, para a reforma que durou até este ano.  Nei Lisboa, feliz, volta agora, justo em sua recente reinauguração. Elogiou a organização do festival, os músicos paraenses e o próprio teatro. 

Nei Lisboa é de uma geração anterior a das bandas paraense que se apresentaram, vindo da época em  que a indústria fonográfica iniciava seu declínio, um momento em que editais não existiam. 

Dentro de seu tempo, presente, tocou e cantou músicas do mais novo CD, o álbum “A Vida Inteira”, produzido com recursos obtidos através da plataforma Crowdfound do Catarse, que funciona com doações do próprio público que por sua vez recebe em troca, muitas vezes, o próprio CD como recompensa. É uma das mais novas formas de se financiar cultura no país.

Tocou velhos sucessos, como “Telhados de Paris”, que já estava incluso no repertório da noite, e outros que o público pediu aos gritos, como “Babalu”, “Balada” e "Cena Beatnik", "Faxineira Fascinante", entre outros, para delírio geral da galera. Ao lado dele, que tocou violão também, os fiés escudeiros, os músicos Paulinho Supekovia, na guitarra, vocais e violão, Luis Mauro Filho, no teclado e vocais e Giovani Berti, na bateria, percussão e voz. 

O cantor se mostrou feliz. Mais uma vez,  com o calor do público paraense, como já é de praxe, tocou uma hora a mais do previsto, para o quase desespero da organização, pois fugiu ao tempo comprometido com o teatro. Fazer o que? Nós amamos! Ponto pra Marcelo Damaso e Renee Chalu, com sua equipe, por não desistirem nunca. 

Ainda de tarde, nesta mesma quinta-feira, tive o prazer de encontrar Nei Lisboa e Damaso, nos bastidores do programa Sem Censura Pará, na Tv Cultura. Claro que rolou uma exclusiva. O bate papo será publicado também aqui no blog. 

Enfim, a noite foi memorável. O festival chegou com o pé direito, num clima ótimo, com uma programação que se estenderá até dia 23, sábado, no Hangar Centro de Convenções e Feiras. Hoje, porém, a festa segue no anfiteatro da Estação das Docas, com os shows, gratuitos, da Orquestra Contemporânea de Olinda (PE) e os grupos Camarones  (RN) + convidados, Biltre (RJ) e UltraNova (PA). Mais informações sobre a programação, no site do festival: http://www.serasgum.com.br/

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