Natália Matos (2014 – Na Records) tem como referência as sonoridades de Belém, a cidade onde a cantora nasceu, e as referências musicais de São Paulo, onde Natália viveu por oito anos, dividindo-se entre a música e a arquitetura. Há um ano sendo produzido, o CD agora chega ao público com um show de lançamento, nesta quinta-feira, 14, no Teatro Margarida Schvasappa, a partir das 20h30.
Entre a faculdade de arquitetura e a música, levou quase uma década, até que Natália resolvesse deixar e Paulicéia para retornar a Belém. As experiências sonoras adquiridas entre São Paulo e Belém, porém, acabaram servindo de inspiração para o resultado que está no CD, que sai com o patrocínio do Programa Natura Musical, via Lei Semear.
A ideia é trazer a mesma sonoridade particular e diversa do disco para o palco e ao vivo. A direção musical do show é de Guilherme Kastrup, produtor do disco, que também assina bateria, percussões e MPC. Completam a banda, os músicos Caê Rolfsen (Viola, Guitarra 12, Violão), Danilo Penteado (Cavaco e Guitarra), Zé Nigro (Baixo e Teclados) e Marcio Jardim (Percussão).
Além do CD físico, nesta quinta-feira também será lançada uma linha de camisetas com alguns desenhos, assinados pela cantora. Mais uma faceta da artista. Os mesmos também fazem parte do encarte do disco. “É e a primeira peça da minha parceria com minha amiga designer de joias, Bárbara Müller, que produziu, também a partir destes desenhos, um pingente em prata, que será mais um mimo aos fãs. Esta primeira peça, produzida artesanalmente, em prata, tem produção limitada", diz Natália.
O novo trabalho da cantora já vem sendo divulgado na imprensa e dentro de projetos, como o Música na Estrada, que levou Natália a cantar, em maio deste ano, nas cidades de Parauapebas e Curionópolis, situadas na região sudeste do Pará. Foi quando ela mostrou, pela primeira vez, parte das músicas do CD, enquanto algumas faixas também já são tocadas nas rádios ou disponibilizadas no site do próprio Natura Musical.
No show, Natália vai cantar a inédita canção de Dona Onete, “Coração Sangrando”, gravada com participação de Zeca Baleiro, “Cio”, "Beber Você”, “Maria do Pará”, entre outras. A coordenação de produção também é dela, com produção de Carla Cabral e Engrenagem. A luz do espetáculo é criação de Patrícia Gondim e o som, de Assis Figueredo.
Depois do lançamento do CD em Belém, a ideia é circular. “Estou nas articulações para fazer o lançamento em São Paulo e no Rio, e logo refazer aqui, mas ainda não tenho datas”, confessa a cantora. Na entrevista a seguir, a cantora fala mais sobre sua carreira e o novo trabalho.
Holofote Virtual: O que te fez fincar os pés em Belém, novamente?
Natália Matos: A minha volta foi em busca de uma estrutura/apoio prático e emocional, depois de optar por me afastar um pouco da arquitetura para dar este pulo para dentro da música e fazer dela profissão e novo norte na minha vida. E tem sido bom reforçar minhas raízes, que estão evidenciadas não só na minha música, mas no meu jeito de ser.
Gosto muito de São Paulo e tenho vontade de voltar a morar lá, sabendo que ali é o grande centro da produção cultural do país, mas isso deve vir mais pra frente, com planejamento. E sempre estarei na incansável "ponte aérea" SP - Pará.
Holofote Virtual: Lembro que em 2102, você ainda em São Paulo, recém selecionada para este edital, me disse que estava muito feliz, focando na carreira musical... Até o lançamento desse disco, o que você fez neste sentido, tem dado certo?
Natália Matos: Naquele momento, eu estava tendo a certeza da possibilidade de concretização deste evidente sonho que é o primeiro CD. Já de volta à Belém fiz shows autorais, me arriscando aqui e ali para tentar encontrar uma cara, para sentir o que eu queria e tão logo sentir a reação do público.
O mote era experimentar, e a partir desse patrocínio, todas as possibilidades que eu tinha em mente, tiveram que passar por um processo de escolha. E as escolhas foram feitas a dedo, desde o produtor, passando pela referência de músicos, que eu queria, as referências musicais, passando pelo repertório e compositores que eu queria gravar, enfim, que história eu queria contar com tudo isso.
Foi um tempo de amadurecimento intenso. Hoje já faz um ano do inicio das gravações do disco e olho pra trás e vejo como é bom aprender a concretizar sonhos, fico sinceramente emocionada e ávida para os próximos passos.
Natália Matos: Costumo dizer que este disco é feito de mergulhos e voos. Mergulho no que é meu, minhas referências musicais daqui, os grandes compositores do Pará, que conseguem ser universais em suas músicas, mas com suas particularidades que encantam. E voos para chegar ao que não é meu, pois não nasceu comigo, mas que se tornou, por opção minha, referência.
Esse jeito de fazer música de alguns paulistanos que misturam samba, punk, rock, trip-hop, reggae e até carimbó, num só som (risos). Aquela sujeira inquieta que traduz justamente aquele lugar de confluência de povos e culturas. Eu queria ver a nossa música misturada com aquele jeito de fazer música e precisava de um grande cara que produzisse, de forma quente, este novo som.
Foi quando Felipe Cordeiro me apresentou ao Guilherme Kastrup, que abraçou a ideia e juntos escolhemos o time do CD e tudo mais que veio pela frente. Guilherme é surpreendentemente musical e fera. Tem um pé na MPB, outro na música experimental e os olhos atentos ao hoje. Soube fazer acontecer lindamente o que eu tinha apenas em mente.
Holofote Virtual: Quais tuas influências musicais, elas estão presentes nessa produção atual?
Natália Matos: Na minha criação, os discos lá de casa eram dos grandes da música brasileira, de Milton a Arnaldo Antunes, de Gal a Na Ozzetti; todos de música paraense, do Brega ao boi, passando pelo carimbó e guitarrada; algumas coisas do jazz americano; vários latinos e pouca coisa do rock como Dylan e Led Zeppling.
O som que faço hoje tem influência da música brasileira como um todo, da feita no Pará, que traz a o Brega, cúmbia, lambada, boi e o carimbó, e da própria música independente nacional, da qual já faço parte, e principalmente a paulistana que tem África e América latina, misturados ao rock, reggae e música eletrônica.
Na vitrola eu ouço Billie Holiday e Caetano
No som eu ouço Itamar e passo torto
No celular eu ouço Portished e Françoise Hardy
No violão eu arranho Gil e Zeca Baleiro
Holofote Virtual: O Zeca gravou uma faixa do disco e em São Paulo, além dele, vieram outras parcerias, como elas se firmaram?
Natália Matos: O Zeca foi um presentão que apareceu no caminho. As gravações do meu disco tiveram um tempo de descanso, e neste tempo Guilherme produziu/ gravou o Cd primeiro CD infantil do Zeca Baleiro. Acabou que o conheci lá pela Toca do Tatu (estúdio do Kastrup) e trocamos ideia, ele conheceu um pouco do meu disco que estava com as bases já gravadas, surgiu o convite para uma participação no infantil e logo depois eu o convidei para gravar a música da Dona Onete comigo.
Foi especial a participação, e depois ele ainda acompanhou um pouco a mix do disco, foi um querido. Depois de lá, rolou o Baile do Baleiro com Felipe (Cordeiro), Manoel (Cordeiro) e eu, no Parque dos Igarapés, em Belém, um astral. E ainda tem um lindo carimbó que Zeca fez pra mim, mas acabou não entrando no CD por conta do timing, mas outros discos hão de vir e quem sabe...
Holofote Virtual: Como começou a tua relação com a música, já morando em São Paulo?
Natália Matos: Comecei substituindo um amigo da Ulm (Universidade Livre de Música Tom Jobim), no famoso bar do Cidão (ponto de encontro de amantes do samba, localizado em Pinheiros), que recentemente passou por uma triste demolição (fechou as portas definitivamente em janeiro deste ano). Fiz quase um ano cantando samba, choro e ainda me metia a cantar um Waldemar Henrique, um Ronaldo silva e uns carimbós por ali.
Dali surgiram convites para cantar com um coletivo de música e poesia os Náuticos e juntos fizemos tributos ao futebol, era do radio, Adoniran barbosa, Eros, e ainda fiz meu próprio tributo a Aracy de Almeida, meu primeiro show solo na vida. Paralelo a tudo isso eu cursava arquitetura e urbanismo no Mackenzie, e no fim do curso larguei a noite no Cidão e a Ulm para dar conta das horas necessárias de estagio e etc.
Acabou que encontrei um estagio num escritório e numa área que me encantou, Arquitetura de exposições. Na artifício eu me envolvi em projetos como do pintor Antônio Bandeira, Menas: o certo do errado o errado do certo, Stockinger,
O Museu do Flamengo e entre outros a exposição Viva Elis, que me fez a cabeça para sair por aí cantando que nem passarinho. E Cá estou, dois anos depois do corte estilo Elis Regina (Joãozinho), com o cabelo já crescido e muitos passos, neste novo caminho, dados em pouco tempo.
Holofote Virtual: Chegar onde o povo está ficou mais fácil para o artista, por causa da internet, como isso se insere na tua carreira?
Natália Matos: A internet e as redes sociais são meios fabulosos da nossa geração. E isso, como tudo, tem seus prós e contras. Hoje o artista tem que ter domínio, ou no mínimo noção de tudo o que faz a sua arte andar, o que às vezes acaba o tirando um pouco dela propriamente.
Além de tudo que diz respeito à música, repertório, preparo, composição, ensaios, eu ainda faço e alimento o meu site, peças gráficas para as minhas redes sociais, tudo isso para o objetivo maior, que é mesmo que a minha música chegue em mais corações afora.
É maravilhoso poder ter contato imediato com formadores de opinião, ou algum artista que eu admiro e poder mostrar meu trabalho à eles; ou saber por um frequentador do beach park que minha música ta tocando lá, e ele virar amigo de face; ouvir histórias das pessoas relacionadas à meu trabalho, ter esse rápido retorno é muito bom. Ainda sou aprendiz com essas ferramentas, mas eu já quero ajuda de alguém! (risos)
Holofote Virtual: Além de cantar, tu também escreves e compões ...
Natália Matos: Eu sempre tive muito apreço pela poesia, pela escrita, mas a composição de letra e música é recente. Ainda sou aprendiz, mas creio que é tudo é fruto de exercício. Neste momento, talvez por falta de tempo ou pela concentração em coisas práticas, tenho produzido mais sozinha, mas já estou com saudade de uma parceria.
Já tenho planos de nos próximo ano produzir um EP com os frutos deste momento pós primeiro Disco. Mas por enquanto quero cantar este show com as músicas do disco e outras que incluímos no repertório. E aos poucos será tempo de mais novidades.
Holofote Virtual: Natália, você participou, recentemente, junto com o Antonio Novaes e o Projeto Secreto Macacos, do Música na Estrada, uma experiência musical on the road que chegou a duas cidades do interior do Pará. Na ocasião, você inclusive mostrou o repertório do disco novo...
Natália Matos: O Música na Estrada foi um presente! Poder conhecer um pouco mais deste nosso vasto estado, observar outras realidades e mais, cantar nestes outros contextos. Foi estimulante lidar com o estranhamento das pessoas, que ora se espantavam, ora se encantavam, sem nunca ficar indiferentes.
A surpresa é sempre melhor. Foi muito bonito, também, viver alguns dias ao lado de colegas da música, compartilhar experiências, obter mais referências musicais, ter os braços automaticamente abertos para um real encontro. O Antônio (Novaes) já era meu parceiro, mas pude mergulhar mais na poesia dele e reforçar este laço, e os meninos do Projeto Secreto entraram pra os favoritos, quero muito um novo encontro musical, mas por enquanto vou ouvindo os discos de dub, trip hop e musica experimental que troquei com o Jacob (Franco).
Holofote Virtual: Pra fechar! Conta, vai ter coisa inédita no show? E já dá pra ouvir o CD on line?
Natália Matos: Escolhemos especialmente para o show, três músicas que não estão no disco, mas que conversam com a temática e sonoridade do CD, que já tem quatro faixas disponibilizadas pelo Natura Musical para download, mas o disco já está lançado, na íntegra, em várias plataformas de streaming, iTunes, Radio, Deezer, Spotify, e ainda no Youtube. No meu site: www.nataliamusica.com tem link para tudo isso e ainda a ficha técnica completa do CD.
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