2.10.14

Miasombra estreia com novidades no Pauta Mínima

A arte milenar de contar histórias com sombras é o foco do grupo Miasombra que surgiu com a pesquisa desta linguagem para a montagem do espetáculo “À Sombra de Dom Quixote”, em cartaz, a partir desta quinta-feira, 2, até domingo, 5, com sessões sempre às 20h, no Teatro Cuíra  - Edital Pauta Mínima.  Em sua terceira temporada, o espetáculo se mostra, mais uma vez, revisitado, sempre experimentando luz e sombra e trazendo novos resultados. 

A experimentação em busca de resultados que contemplem as novas apresentações é o desafio do grupo. A cada nova dimensão física de espaço, um novo espetáculo. O Mia Sombra formatou "À Sombra de Dom Quixote", no Estúdio Reator (2010/2011), e o reinventou na temporada no Sesc Boulevard (maio de 2014).

“Outro dia conversávamos sobre uma companhia de teatro que se apresenta com o mesmo espetáculo, há mais de dez anos e de como eles o resignificam, sempre que o mesmo é encenado. Desejo isso para o nosso espetáculo. A renovação sempre”, continua Milton Aires, que integra tanto o universo da encenação, como o da produção, dentro do projeto.

“O  Cuíra é o maior espaço que vamos ‘enfrentar’. E o processo de experimentação que norteia o projeto, está ligado às potencialidades e dificuldades que os espaços nos impõe a cada montagem. Desta vez, as necessidades de resoluções técnicas vão estabelecer um confronto direto com a nossa relação com o espetáculo no sentido de termos que abrir mão de alguns elementos estéticos”, considera David Matos, o diretor, que assina também a dramaturgia do espetáculo.

Em cena, a história de Dom Quixote, ganha um novo viés. A ideia do projeto era buscar a essência desse cavaleiro que existe em cada um de nós e não recontar a história do personagem. 

“No espetáculo, nossos cavaleiros enviam cartas ao Sr. Quixote para que ele não desista de seu sonho, de sua Ducineia. E é como se estas cartas fossem enviadas a nós mesmos, aos nossos Quixotes internos, para que não desistamos de nossos sonhos e desejos”, observa Milton Aires.

 “A sombra é um personagem que nos leva ao encontro com um quixote que estaria situado em uma pós obra do Cervantes, à sombra, a margem ou em algum lugar não muito claro”, diz ele. 

“O teatro de sombras, nesse espetáculo, nos ajuda a chegar próximo dessa imagem de um sonho inacabado. Nesse sentido outros elementos somam-se a sombra, como a presença dos atores e bonecos, tão importantes para a encenação, como a Luz e a escuridão”, complementa o ator que realizou, em 2009, um sonho, ao concretizar o espetáculo, ao aprovar seu projeto no Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz. Ali um desafio se impôs não só a frente de seu núcleo iniciático, mas a todos que foram se envolvendo e formam hoje o coletivo.

À sombra do Oriente - O teatro de sombras é uma das mais antigas manifestações teatrais do Oriente, presente em países como Índia, Indonésia, Tailândia, Sri Lanka e China. Por isso é que durante muito tempo, tanto na Europa quanto aqui no Brasil, nós conhecíamos o Teatro de Sombras como Sombras Chinesas. 

O interesse por essa arte vem crescendo de modo significativo no país, nos últimos anos, o que é possível confirmar quando nota-se a existência de grupos dedicados a ela em São Paulo, nos trabalhos da Companhia Quase Cinema, o Grupo Sombras e Lendas e a Companhia Fios de Sombra; em Curitiba, com o Grupo Karagowzk; em Porto Alegre, com a Companhia Lumbra Teatro de Animação. Há ainda grupos que montam vez ou outra um espetáculo com sombras. 

Não é o caso do Miasombra, cujo interesse é o teatro de sombras só que com um querer a mais. “Nós já experimentamos e continuamos a experimentar este espetáculo, mas agora acho que chegou a hora de assumir. Queremos fazer cinema, com o teatro de sombras”, disse David Matos, durante um dos ensaios do grupo para esta nova temporada.

De fato. A reprodução da realidade já não é o que estimula os artistas, que se interessam pela recriação do real, utilizando diversos processos criativos, como a sombra de silhuetas recortadas em diversos tipos de materiais; a sombra obtida com objetos tridimensionais; e as sombras corporais. E isso tudo junto, bem pode ser cinema.

“O trabalho que faço nas oficinas de roteiro que ministro têm influenciado cada vez mais no espetáculo, porque nossa pretensão sempre foi dar ao espetáculo uma característica de narrativa cinematográfica. Estamos cada vez pensando nessa transformação da dramaturgia teatral para a estrutura dramática do cinema”, explica David Matos, diretor, que assina também a dramaturgia grupo.

O Miasombra mistura todos estes processos, fruto de um dramaturgismo, que Milton Aires explica caber perfeitamente na figura do direto David Matos. “O dramaturgista é uma especie de "demiurgo" que acompanha, orienta e evidência peculiaridades da carpintaria da criação de um processo teatral, conduz de forma colaborativa o processo. David, além de ser o nosso olhar de fora da cena, o diretor do espetáculo, também exerce esse papel em nossa rotina de trabalho. Ele significa, provoca questões e cria junto conosco as resoluções estéticas e dramatúrgicas que o espetáculo deve ter e como essa criação vai chegar até o público”, diz Milton.
    
Através da coletividade e compartilhamento de informações, o grupo ainda tem mais planos para o seu Dom Quixote, que continuará sua jornada. Para David Matos, tudo é possível, pois a maior dificuldade que inviabilizaria qualquer projeto seria a falta de generosidade, e quanto a isso não há dificuldade para o grupo.

“Porque é isso que somos, é o que fazemos entre nós, é o que doamos para o projeto: generosidade. Seja ela de tempo, conhecimento, limitações, tudo. Nos reencontros ou quando estamos longe é isso que nos une. Simples assim”, finaliza David.

Serviço
À Sombra de Dom Quixote”, de 2 a 5 de outubro, no Teatro Cuíra - Rua 1 de Março, bem na esquina da Riachuelo. O ingresso custa R$ 10,00 com meia entrada a R$ 5,00, para estudantes. Mais informações: 91 8134.7719.

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