13.10.14

"Ópera Profano" faz nova temporada em Belém

Um travesti rouba a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré e a esconde dentro do Cine Ópera, um cinema dedicado a exibição de filmes adultos, frequentado por transgêneros, garotos de programa e homens da classe média. 

É esta a temperatura de “Ópera Profano”, espetáculo com dramaturgia de Carlos Correia Santos, que fica em cartaz de 14 a 18 de outubro (terça a sábado), sempre às 20h, no Porão Cultural da Unipop. 

A montagem da Companhia Teatral Nós Outros, que estreou em 2010, é um drama com atmosfera underground, adaptada do texto do autor, vencedor do Prêmio Literário Cidade de Manaus de 2005. É dele que surge no palco, um musical, reunindo atores, cantores, bailarinos, coreógrafos, músicos e cenotécnicos, além de um repertório com cerca de 17 canções autorais, compostas para o projeto. Nesta nova temporada, há novidades em cena.

Na trama, a travesti Tota provoca um tumulto na capela de onde sai a procissão da trasladação. Em meio à confusão, ele furta a imagem da Santa e a leva para o Cine Ópera, um tradicional cinema de filmes pornográficos que fica localizado, a poucos passos da Basílica de Nazaré.

Tudo isso tem uma razão afetiva: Tota quer realizar o sonho de sua colega travesti Baby que, dentro do cinema, está lutando contra as complicações decorrentes do HIV. Baby sonha em se aproximar de Nossa Senhora e rezar por um bom descanso.

Paralelamente, acontece o encontro de Lucas, um garoto de programa; Ângelo, jovem que frequenta o local sem que a família suspeite, e a decadente travesti Mira que, na juventude teve um filho que não vê e nem tem notícia há muitos anos.

Em outra situação, também dentro do cinema, três misteriosas figuras femininas transitam por entre os personagens, sem serem vistas, e tentam entender por qual razão todas aquelas vidas são completamente ignoradas pela sociedade.

“A montagem desse texto foi um desafio que abracei de forma intensa. A dramaturgia propõe um mergulho muito inusitado, delicado e humanista num universo que a sociedade insiste em deixar à margem. Num tempo em que se tem discutido cada vez mais a homofobia, vamos falar também um pouco do direito que o universo LGBT possui de ter sua fé, seus cultos religiosos. Por que Maria não pode estar onde travestis e garotos de programa estão?”, diz Hudson Andrade, diretor do espetáculo.

A peça surge de um processo de oito meses de estudos sobre o universo LGBT, realizados através de eventos, como o Terças Profanas. Ao mesmo tempo em que os atores eram instrumentalizados, o público também participava, tendo a cesso a informação e opinando sobre os temas. O projeto, ao longo de três semanas, abordou: violência homofóbica, direitos homoafetivos e a convivência com o vírus HIV. Participaram desses encontros artistas e estudiosos, como Helder Bentes, Kauan Amora, Rafael Ventimiglia, Hugo Mineirinho, Eduardo da Amazônia, Iracy Vaz, Bruna Lorrane e Milton Ribeiro.

Para o autor, a nova encenação captura de forma apurada a essência de sua obra. “Estou muito feliz com a visão do Hudson para o meu texto.

A direção dele, além de respeitar o texto, manteve a essência dark que ele tem. Conseguimos produzir o que eu sempre quis, que é um espetáculo com tons de ópera rock” diz Correia, que também estará em cena, cantando e tocando, através de seu selo Versivox.

A versão atual da Nós Outros para “Ópera Profano” traz no elenco Nilton Cézar (Baby), Luiz Girard (Mira), Jadylson de Araújo (Tota), Danilo Monteiro (Ângelo), Heythor Costa (Lucas), Marlene Silva (A Misteriosa), Lady Guimarães (Conselheira 01) e Karina Lima (Conselheira 02).

Na trilha, ao vivo, junto a Correia Correia Santos (melodias, violão, voz, direção musical), estão o guitarrista Angelo Silva (arranjos e execução de guitarra) e baixista Pedro Soares (arranjos e execução de baixo). A direção de luz é de Sônia Lopes e os figurinos, de Hudosn Andrade, com assessoria de Aníbal Pacha. O diretor assina ainda a cenografia.

Serviço
Ópera Profano, montagem da Companhia Teatral Nós Outros. Dias 14, 15, 16, 17 e 18 de outubro, às 20h, no Porão Cultural da Unipop (Senador Lemos, 557, entre Dom Pedro I e Dom Romualdo de Seixas). Ingressos: R$ 20,00 com meia para estudantes. Apoio: Unipop, Atores em Cena, Casa da Cultura Digital Pará, Versivox e Parla Página. Ingressos: R$ 20,00 ou $R 10,00 para estudantes (meia). Produção não recomendada para menores de 18 anos (contém cenas de nudez e violência emocional).

(postagem com informações da Parla Página - assessoria de comunicação - com edição do Holofote Virtual)

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