27.9.19

Territórios e afeto na obra de Ana Cristina Mendes

Ana Cristina Mendes, de Fortaleza, Ceará, está no em Belém participando do projeto Territórios, o encontro internacional que finaliza neste final de semana, deixando como legado, a mostra que abrirá na próxima segunda-feira, 30 de setembro, Na Casa do Artista, em Icoaraci, Belém do Pará.

O espaço de arte paraense, coordenado pelo artista visual Werne Souza e pela produtora cultural Auda Piani, em parceria com a Ponte Cultura, entidade alemã, realizam a residência artística com 25 artistas da Alemanha, França, Inglaterra, Etiópia e Brasil. Entre os brasileiros, vários paraenses, como Nina Matos, Lucia Gomes, José Viana entre outros, e três cearenses, entre eles Ana Cristina Mendes.

A artista visual é estilista e mestre em Artes pelo PPGArtes ICA-UFC. Em suas obras e performances ela utiliza tecidos, um material que faz parte de seus afetos desde criança, quando o universo dos armazéns têxteis estava presente em seus passeios preferidos, feitos com sua mãe. Tal afinidade transbordou para a vida profissional como estilista, na criação de roupas como prolongamento do corpo, concebendo-as como premissa de discussão e inserção nos ambientes.

A artista à direita da foto, com outros artistas residentes
As propostas de Ana nos revelam paisagens construídas, geográficas, humanas e afetivas, que ganham corpo nas instalações. Na mostra Territórios, por exemplo, ela constrói a paisagem de uma experiência afetiva, cujas camadas afetivas, a cada lugar que passa, ampliam sua materialidade com os elementos incorporados.

“Meu trabalho reflete essas lutas e posições de resistência e como paisagem que tem se reconstrói a cada novo território que habita, desde o Ceará, passando pela Provence, na França, e agora em Belém, trazendo consigo flores do Mercado Ver-o-peso. Uma relação que faço com a atual situação da Amazônia adicionando camadas de esperança e afetos as tensões que hoje friccionam essa região e todo o mundo”, diz a artista.

“Sertão de fora”, obra que ela apresentou na abertura o evento, no dia 18 de setembro na Galeria do CCBEU, onde pode ser vista até a próxima segunda-feira 30 de setembro, é uma paisagem inventada de um sertão que também já foi mar. O trabalho foi pra Alemanha e França por intermédio da Ponte Cultura, associação alemã, propositora desse evento que propõe experiências, atravessamentos e intercâmbio cultural para além da exposição. 

Sertão de fora, na Galeria do CCBEU, até segunda, 30 de set.
“Sobre o meu trabalho, na Provence, fiz uma ação no verão em uma paisagem árida, no entanto as flores do campo resistiam. Era o habitat de dois animais símbolos do sertão do Ceará. Dois jumentos, fêmeas. Nessa ação, criou-se uma relação forte de espaço, afetos e deslocamento de Territórios.  As flores são essas camadas que ganham mais corpo quando acrescento Belém, uma vez que essas flores foram adquiridas no mercado Ver O Peso e o mundo está preocupado com a Amazônia. A obra ganha força de alerta. Esquecemos nossas flores históricas?”, questiona.

Ana Cristina atua como artista visual,  na fronteira de diferentes linguagens artísticas, mas sempre ativando o tecido e a vestimenta como suporte e matérias subjetivas do trabalho. Nas performances, o figurino era elemento chave de discussão, assim como meio de pensar a ideia de compressões nas esculturas. Ele é o elemento estético e problematizador em seu trabalho e é movido pelo desejo de escape de um corpo poroso, aberto aos disparos que os acrescentam camadas afetivas. 

A obra, em detalhe. O tecido com as flores do campo.
À medida que esses escapes pelo mundo acontecem, seja através da relação ao lugar de origem, às travessias, o mar como espaço de contágios e deslocamentos de paisagem, esse tecido amplia-se em conexões e alcances ao outro. Ana já participou de exposições coletivas, individuais, performances e residências artísticas em âmbito nacional e internacional.

DIA 30 SEGUNDA-FEIRA
9h - Exposição de encerramento "Territórios".
Aberta ao público até dia 30 de outubro.
Local: Na Casa do Arista

Serviço
O espaço Na Casa do Artista fica R. Padre Júlio Maria, 163, próximo a Orla de Icoaraci. A antiga Estação de Trem localiza-se na mesma rua, número 937-995. Mais informações, pelo WhatsApp: 91 98134.7719.

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