Ruído Rosa é composição de Maí em parceria com o compositor e poeta Renato Torres, e traz arranjos de um músico paulista, Herãn Leme. O single, o terceiro da artista de Paragominas, nos convida a refletir sobre as cobranças sociais. O lançamento é neste sábado, 7 de março em todas as plataformas de streaming. O jornalista Taion Almeida, bateu um papo com a artista e a gente publica aqui, confiram!
Do nascimento até o fim da vida, todos socializamos. E no meio da socialização enfrentamos a pressão para exercer papéis sociais. Ser alguém de sucesso, conquistar fama ou riqueza. Todos em algum momento carregamos uma pressão para ser ou fazer algo que não partiu de dentro de si, mas da exigência externa. Um ruído entre o que a pessoa gostaria de dizer e o que o mundo quer ouvir. Esse desencaixe é o que motivou a cantora paragominense Maira Momonuki, mais conhecida como Maí, a escrever seu mais recente lançamento, a canção Ruído Rosa, que estreia nas plataformas de streaming neste domingo.
O estalo para escrever a canção veio quando ela tomou contato com um trecho do documentário Tarja Branca, onde a educadora Lydia Hortélio falava sobre como os estudantes, especialmente as crianças, tem sido abordadas de forma desgastante. “Em um trecho ela comenta que as prioridades estão sendo repassadas da forma errada. Que uma criança não nasce apenas para fazer o vestibular, por exemplo, mas para viver bem. Que todos nós nascemos para ser gente e não ‘ser alguém na vida’. Fiquei pensando bastante sobre essas palavras” comenta Maí.
Após identificar o ruído a artista resolveu cantá-lo e, para isso, foi preciso assumir a sua cor – rosa. Uma cor que, em si, não tem nenhuma ligação com gênero mas que a cultura tradicionalmente estabelece como feminina.
“Quando você é uma mulher, essas pressões sociais são mais delicadas. São sempre mais presentes. A letra da música é bastante pessoal, dialoga sobre duas facetas minhas, sendo menina e mulher enfrentando as expectativas do mundo” explica. Ir além do ruido rosa, como a cantora nos convida a fazer no refrão da música seria então viver a sua vida superando as barreiras que as imposições sociais estabelecem às mulheres.
Por uma feliz coincidência, a canção de mensagem empoderadora, será lançada ao público na véspera do Dia Internacional da Mulher, o 8 de Março, data mundialmente lembrada pela resistência e luta feminista. “Foi uma surpresa saber que o Spotify lançaria a canção na sua plataforma nessa data. Venho trabalhando nela já há algum tempo, ela estava pronta desde janeiro. Mas acho que mesmo planejando não teríamos pensado numa data tão boa” brinca a artista.
No mapa do Spoify
Ruído Rosa será o terceiro single de Maí disponível nas plataformas de streaming. No Spotify acompanham a música a regravação de Ela é Carioca, de Tom Jobim, e a canção autoral A Noite Cai. As músicas são as primeiras de um artista paragominense na mais popular plataforma de streaming do mundo. Um fato que a autora das canções aponta evidenciar para a dificuldade de se fazer música no interior.
“As pessoas não tem ideia de como é mais complicado fazer música no interior. A estrutura é muito diferente de uma capital. Não temos estúdios para ensaio por exemplo. Nem sempre você tem um músico para lhe acompanhar. Você encontra pessoas que tocam muito bem mas não trabalham com o tipo de som que você faz” comentou a cantora.
Para assumir o seu papel como cantora, Maí muitas vezes se valeu da colaboração de pessoas que viviam bem longe. O músico, poeta e compositor Renato Torres de Belém, é parceiro de composição de Ruído Rosa. Já o arranjador e multi-instrumentista Herã Leme, de São Paulo, é um colaborador frequente na maioria das gravações da cantora.
“Tudo começou há quase dez anos. Peguei meu notebook e com a câmera dele, que era bem ruinzinha, comecei a fazer alguns vídeos cantando e divulguei nas redes sociais e grupos de músicos de Belém e outras cidades. A qualidade não era essas coisas, mas me abriu portas. Foi assim que eu conheci várias pessoas e pude começar a fazer gravações melhores” relembra.
A gravação de Ruído Rosa, bem como as demais canções na plataforma, se deu através da colaboração à distância. Pela internet Maí e Renato compuseram a letra enquanto Harã gravou os instrumentos “Ele me recomendou comprar um condensador de voz para fazer a gravação à distância. Eu gravo as vozes em Paragominas e envio pela internet”, explica.
Faça você mesma - Além de cantar nas músicas, Maíra foi a responsável por praticamente todos os outros detalhes do seu material de divulgação. “Em Paragominas não temos figurinistas. Para o material de divulgação eu mesmo produzi os figurinos, criei os conceitos das fotos e fiz a edição final do material” explica a cantora.
Mais do que apenas uma vaidade, esse envolvimento multimídia é importante na viabilização do trabalho de forma independente “É importante pensar nas coisas além da música porque geralmente você vai lidar com orçamento bem limitado para contratar profissionais e fazer esses serviços. Nas vezes que eu precisei de um fotógrafo ou design eu procurava já levar um conceito do que eu queria porque assim gastávamos menos tempo e recursos tentando achar uma solução” comenta.
Se oportunizar também é importante na hora de construir espaços para se apresentar. Como sua cidade natal não tinha um circuito musical para músicos de estilos como rock, MPB e bossa nova, Maíra se juntou a alguns amigos e colegas músicos para organizar eventos como o festival Bossa ‘N Roll e o concerto Sabor Açaí. “Já levamos alguns artistas para se apresentar em Paragominas e já viemos a Belém algumas vezes. Me inscrevi e fui classificada para as seletivas do Festival Se Rasgum e trouxemos uma grande torcida para acompanhar a apresentação” rememora.
Iniciativas assim, para a artista, são um caminho para superar as pressões e expectativas alheias e ir além das barreiras impostas pelo ruido rosa. “Estamos sempre nos movimentando. Compondo, cantando, divulgando… estar fazendo isso já é desafiar a projeção que muita gente faz com relação ao que eu deveria fazer ou querer. Para muita gente eu não deveria estar fazendo o que eu faço, mas isso é o que eu quero fazer e construir, é o que eu sou e por isso não vou desistir” afirma Maí.
Mais sobre Maí
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(Holofote Virtual com Taion Almeida, jornalista e produtor de conteúdo)
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