A coletiva O Futuro é Mulher traz as diversas manifestações da arte, como pintura, fotografia, performance, vídeo, arte gráfica, gravura digital e novas tecnologias. A exposição também abre espaço para o diálogo entre o acervo da Fundação cultural do Pará e a profusão de novas protagonistas da arte paraense. Abertura nesta quarta-feira, 11, às 19h, na Galeria do Centur.
O texto a seguir é de Eliane Moura, artista e Arte Educadora.
Num passado recente, em dados coletados no sítio virtual da Fundação Cultural do Pará, no ano da inauguração da Galeria Theodoro Braga no Centur, em 1986, e no ano seguinte, não tivemos uma única exposição realizada por mulheres. Somente a partir de 1988, nesta galeria, algumas mulheres figuraram em exposições coletivas e individuais; artistas como Dina Oiveira, Rosângela Britto, Rose Vasco, Izer Campos aparecem nos registros, mas o número de mulheres artistas é, em proporção, bem menor que o de artistas homens.
O que isso representa para as artistas mulheres? Como lemos esses dados? Como nos posicionamos frente ao preconceito que, ainda hoje, ocorre no campo da arte? Por qual motivo as duas galerias de arte desta fundação carregam nomes de figuras masculinas – um artista plástico e um filósofo? (E bem tentamos que o Hall Benedicto Monteiro, inicialmente destinado a ser um espaço expositivo, se chamasse Hall Julieta de França, escultora paraense discípula de Rodin, invisibilizada pela História).
Precisamos lembrar da tradição maluvida da arte feminina, que por séculos foi silenciada em salões, catálogos, museus, e que em sua persistência/resistência segue por novos caminhos. Perde-se a objetificação do corpo feminino e parte-se para um novo lugar de fala: a mulher que diz da mulher, de si e de seus pares, e assim constrói-se em novas paisagens e lugares para um discurso necessário no qual são diluídas as fronteiras ideológicas da hegemonia masculina na cena da arte paraense.
O movimento coletivo e artístico feminino em Belém (Pa)
Cartaz de 2012 - Mulheres Líquidas |
A potente produção de arte feminina que apresentamos na mostra O Futuro é Mulher traz vinte e nove artistas que fazem parte desse movimento – não de resgate, mas de afirmação, de posicionamento político, cultural, artístico – que a Galeria Theodoro Braga percorre desde 2008, com a realização de coletâneas como Anima: Além do Sentido (2011, com oito artistas mulheres) e Mulheres Líquidas (2012, com sete artistas mulheres).
A representatividade artística feminina nestas duas exposições ainda estava em construção; notamos hoje uma explosão de novas artistas trabalhando incansavelmente nas mais diversas técnicas: pintura, fotografia, performance, vídeo, arte gráfica, gravura digital, além de outras manifestações em arte e novas tecnologias. Esta exposição abre ainda um espaço para o diálogo entre o acervo da fundação e a profusão de novas protagonistas da arte paraense.
“The Future is Female”: a partir dessa perspectiva de futuro, na qual trabalhamos para um mundo de equidade artística e de gênero, desejando um lugar de livre trânsito para as mulheres no mundo e na arte, impulsionadas pela rede feminina e feminista através da sororidade entre as artistas, vemos surgir grupos de jovens artistas mulheres.
O Coletivo M.AR. e o Coletivo Vênus, por exemplo, organizam colaborativamente os meios de produção e divulgação, criando seus próprios espaços de exposição de forma independente, com ações concretas e focadas no feminino. A independência artística é urgente para a mulher que foi por tanto tempo estigmatizada. Assim, O Futuro é Mulher torna-se o hoje, o agora, pois para as mulheres artistas o tempo já foi cruel demais.
Serviço
A Exposição coletiva "O Futuro é Mulher" abre nesta quarta-feira, 11, às 19h, na Galeria Theodoro Braga da Fundação Cultural do Pará, onde fica até 10 de abril, com visitação de segunda a sexta, das 9h às 19h - Av. Gentil Bittencourt, 650 - subsolo. Mais informações: (91) 3202 4313.
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