Tudo começou na fila de matricula para o curso de Comunicação Social, na UFPA, em 1985. Paulo Emmanuel encontrou uma velha amiga que o convidou para fazer uns desenhos pro jornal do DCE e, naquele mesmo ano, teve a primeira charge publicada num informativo rodado em “stêncil comum”.
De lá pra cá, são muitas memórias sobre fanzines, exposição no bar 3x4, cotidiano na redação do jornal A Província do Pará. Essa história é o próprio autor quem conta no livro, que tem ainda a apresentação do jornalista e cartunista Walter Pinto, que aborda ainda um pouco da história do cartunismo paraense, passando pela trajetória do desenhista.
Em formato PDF, com mais de 50 páginas de charges, o livro vem recheado de críticas que ilustram as trapalhadas e crueldades do atual governo que a gente vai chamar sempre de desgoverno, seja do Bolsonaro, na esfera federal, ou de Zenaldo, no caso da capital paraense, mas não se poupa também o governo estadual e nem outros políticos e magistrados que colaboraram para o golpe de 2016.
Paulo Emmanuel nasceu em Manaus, mas se criou em Belém. Editor da revista de humor PH Parazão Herbo e, desde 1986, participa de salões de humor no país e no mundo. Já ganhou diversos prêmios. Ultimamente, porém, ele diz que não tem sido fácil fazer charges.
“Todo dia as notícias defasam meia hora depois de ter acontecido. Isso é muito ruim porque não tem mais um assunto. E para o chargista virou uma loucura”, diz ele que faz questão de afirmar que mesmo assim “o time é muito bom”, e cita LatuFF, Laerte, Aroeira, Duke, Cazo, Camelo e muitos outros que tem o nanquim nas veias. Daqui de Belém não tenho visto, mas é notória a competência dos colegas do traço”, comenta.
O humor com obstáculos em tempos de Pandemia
Historiadores terão certamente um trabalho hercúleo para contar tudo isso que vem ocorrendo politica e socialmente no país, desde 2013. Manter o humor em tempos de Golpe já é complicado, mas e agora, que os tempos são também de pandemia?
“O humor basicamente é frágil e tenso. O riso é nervoso. O raciocínio é atropelado pelos acontecimentos, que pra mim, as sandices do “Bozo” são piores do que a pandemia. Pior por que é ela que está matando. Quando ele se expõe e diz para as pessoas que é apenas uma “gripezinha”, muitos estão em todos os lugares espalhando o vírus e ele diz que é o isolamento que não está dando certo. É perverso”.
Quando a pandemia se estabeleceu, ele estava e segue, assim, produzindo, principalmente esculturas e caricaturas em miriti, que ele diz estarem fazendo sucesso e tendo procura. “Estava indo ao meu estúdio, mas depois da última sexta estou direto em casa. O trabalho remoto, para ele, não é exatamente uma novidade. “Pra mim é tranquilo. Sempre foi assim quando estou fora do mercado. Trabalho sem problema. Na verdade sou meio avesso ao burburinho. E ficando velho isso vai piorando...”, brinca.
Pai de quatro filhos e já avô, ele diz que não é muito otimista em relação ao futuro, mas pondera. “Considero que, estar vivo, produzindo e criando, merece um grande respeito por parte do ser humano, temos que agradecer a Deus a oportunidade de estar contribuindo de alguma forma com as pessoas. Pelo menos eu tento e insisto”.
Emmanuel acredita que o que o humor tem trazido contribuição neste momento triste da história da humanidade.
“O humor serve pra ‘humanizar” o ser humano. Sou caçador de sorrisos no facebook. Quando faço uma postagem, um comentário, ou uma charge, eu conto aquela carinha feliz, por que eu penso que, quando ela aparece , alguém deu um sorriso. E isso me faz feliz. Fico verdadeiramente satisfeito. Tipo numa postagem: 9 sorrisos x 7 curtidas. Digo: Estamos ganhando. Apesar de saber que muitos estão nervosos, apreensivos”.
Os planos daqui para frente estão voltados a um novo projeto de realizar instalações com miriti que está criando. “Um projeto contemporâneo que está em andamento. É grande e ousado e espero conseguir alcançar porque ele é bastante complexo”, diz ele que acredita que a melhor maneira de apoiar a cultura neste momento é fazendo e difundindo.
“Está complicado porque as relações virtuais não se mostram olhos, nem caras, mas não dá pra parar. O artista é um ser transformador e isso tem que ser potencializado. Os canais de fomentação cultural deixam a desejar sempre. Mas acredito numa transformação pós pandemia. Só não sei se é pra bom ou pra ruim. Uma coisa eu sei. Meu caminho está estabelecido e só cabe a mim alcançar meus sonhos”, conclui.
O Humor em Tempos de Golpe
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