O novo EP é mais um dos preciosos projetos que se concretizaram, por meio da Lei Aldir Blanc. Reúne seis canções que contam, cada uma, histórias sobre a carreira da artista. Cançãozinha e Natureza são interpretadas só por Nazaré Pereira, mas em quatro outras músicas, ela divide o vocal com quatro convidadas, Rosângela Maria, em Aboio do Sertão; Rita Macêdo, em Brasileira; Naieme, em Caixa de Sol; e Luciana Sousa, em Xapuri. Juntas, elas celebram o talento e a força da musicalidade da mulher nortista que canta a poesia da Amazônia.
Para Nazaré, gravar neste momento foi “um ato de amor, que está em cada palavra, em cada música. Um grito de força para as pessoas que estão sofrendo com a perda de tantos amigos”, diz a cantora que ainda não sabe quando poderá retornar aos palcos. “A pandemia aqui na França está esquisita, o show que eu ia fazer em ‘santropê’ foi cancelado, porque ainda está muito complicado, mas eu rezo muito, para que isso termine pra eu voltar às minhas festinhas gostosas, preparar minhas músicas e escutar os amigos cantando”.
O EP “Canções da minha História” contou com elaboração de projeto cultural e produção executiva de Luci Azevedo; assistência de produção, de Aurélia Moura. Na direção musical, Davi Benitez, que também fez o piano, Davi Amorim, na guitarra e violão; e Bruno Mendes, na bateria e percussão. As fotos são de Renato Chalu (@jambufilmes ); Capa e Tipografia, de Thay Petit, com arte/divulgação de redes sociais, por Tale Campos. O projeto foi contemplado no edital de música da Secult e Lei Aldir Blanc Pará. Uma das músicas, “Cançãozinha” também foi contemplada no edital de credenciamento do SESC-PA, Lei Aldir Blanc.
Ontem (21), Nazaré Pereira celebrou ‘in memorian', o aniversário de nascimento de Dona Maria, que completaria então 101 anos. “Dedico a ela esse EP, dona Maria, minha mãe morena e mando um beijo a todos os meus fãs”, disse a artista que está em Paris, aguardando a segunda ordem para retomar seus shows e novas gravações. Vivendo há muitas décadas na capital francesa, ela se projetou como artista para o mundo, carregando consigo as origens de sua cultura amazônica.
Nazaré Pereira: A ideia desse projeto foi da Luci Azevedo, ela elaborou o projeto e me apresentou a proposta, o que me chamou atenção o fato das participações serem todas mulheres. Topei na hora porque já tinha vontade de realizar um projeto assim. Além das regravações, tive a oportunidade de colocar canções que me marcaram ao longo desses quase 45 anos de carreira nas plataformas digitais pro mundo todo ouvir, de acordo com a modernidade tecnológica. A música é a minha vida, é o que faz meu coração não parar de pulsar.
Todas as músicas são memórias da época das minhas grandes turnês. Eu comecei a recordar de como eu compus algumas músicas, exatamente o que me inspirou. É o caso de Cançãozinha - essa música eu fiz pra uma pessoa que trabalhou comigo por muitos anos no início da minha carreira. Num belo dia de show, ele chegou pra mim e disse que tinha sido convidado pra trabalhar com o Chico Buarque e foi embora.
Aquela atitude pra mim foi um choque, eu lembro de ter chorado muito naquela noite, achei que era uma grande ingratidão da parte dele. Então, peguei papel e caneta e escrevi tudo que eu estava sentindo . Se você ouvir vai perceber que é uma música linda, mas é bem triste. A música teve, inclusive, videoclipe contemplado no edital de credenciamento do Sesc Aldir Blanc Pará.
Essa música foi executada no Canadá por uma grande orquestra. Natureza é meu grito pela salvaguarda da Minha Amazônia. E Caixa de Sol: é uma homenagem aos músicos que trabalharam comigo, são memórias fortes na minha cabeça. E Aboio do sertão foi uma música que eu fiz com o Luiz Gonzaga do meu lado e ele me disse que ‘Aboio não era música de mulher’ e eu disse ‘vou já lhe mostrar que vou fazer um aboio!’ Eu fiz, depois que eu fiz ele ficou apaixonado. É o Aboio do sertão que eu canto com a Rosangela Maria. E o Xapuri vocês já conhecem! Em Brasileira eu quis dizer para o povo brasileiro que não é só o carioca que dança samba, nós do Norte também dançamos. Gostamos muito de samba também.
Foto: Renato Chalú |
Holofote Virtual: Há quatro cantoras convidadas que participam do disco, que ressalta a força do canto nortista feminino. A escolha de cada uma também tem a ver com esse lugar do afeto, a que o disco se remete?
Nazaré Pereira: Eu já tinha vontade de gravar algumas músicas com a participação de algumas cantoras, e com a pandemia, algumas delas ficaram bem próximas a mim. A Rosângela Maria é da mesma geração que eu, mas as outras eu pensei que seria bom ter uma nova geração cantando comigo, e lembrei de algumas que estão sempre nos shows que eu realizo. Eu defini o repertório, mandei pra cada uma cantar pra vê se havia uma conexão sonora, e foi imediata a identificação delas com as músicas que escolheram
Holofote Virtual: Lançar um disco em meio a uma pandemia é um ato de amor à música. Como foi esse processo?
Nazaré Pereira: Foi tenso fazer esse disco mas ao mesmo tempo de uma ternura incrível. Gravar em meio a pandemia foi poder deixar a música nos abraçar já que nós estávamos impedidas desse gesto. Eu pude com esse projeto estender minha rede e apoiar, gerando trabalho pra muita gente competente que vive da arte da música.
Holofote Virtual: O disco vai às plataformas e você e quando volta aos palcos?
Nazaré Pereira: Volta aos palcos eu ainda não sei te dizer quando estarei pronta pra esse retorno. Tenho feito alguns trabalhos em Paris, partições especiais, recentemente gravei com o Chico César um programa sobre a música brasileira para TV francesa @cultureboxftv . A Covid levou 2 músicos que tocavam comigo há muitos anos aqui na França. Pra mim é um recomeço pós-pandemia, em breve estarei inteira pra cantar muita poesia da nossa Amazônia novamente.
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(agradecimentos à Luci Azevedo que viabilizou e deu apoio à produção dessa entrevista)
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