12.4.22

Alepa reconhece Siriá como patrimônio cultural


Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa) reconhece o Siriá como patrimônio cultural e imaterial do estado do Pará. De autoria da deputada estadual Dilvanda Faro (PT), o Projeto de Lei 391/2021 foi aprovado por unanimidade pelos deputados e deputadas, nesta terça-feira (12). Agora, o PL segue para sanção do Executivo.  

Depois da Guitarrada e do Carimbó, é a vez do Siriá, enquanto gênero musical, ser reconhecido como patrimônio cultural imaterial do Pará. O gênero foi reinventado pelo cametaense Mestre Cupijó na década de 1970, ao misturar diversos ritmos tradicionais da região do Baixo Tocantins, como o Samba de Cacete. A notícia se espalha e é comemorada por músicos e familiares do mestre.

"É muito importante que a cultura do nosso povo seja reconhecida. O Siriá vem da manifestação do Samba de Cacete mas o papai foi quem, a partir dos anos 70, repaginou o ritmo que ficou como hoje a maioria das pessoas conhece”, diz Osvaldo Castro, um dos três únicos filhos vivos de Mestre Cupijó, que aprendeu a tocar com o pai e o acompanhava em algumas de suas apresentações.

"Fico muito feliz em saber que algumas pessoas se importam com isso. Esse reconhecimento é importante não só para o Mestre Cupijó, mas para todo o povo cametaense e do estado também. Nossa musica é autêntica, precisa ser preservada e fomentada para que continue sendo repassada para as novas gerações", conclui. 

Jorane Castro, cineasta e sobrinha de Cupijó, contou a história do músico em seu documentário “Mestre Cupijó e seu Ritmo”, um projeto que se desdobrou em DVD e num baile, que circula em casas de show e festivais de música. O longa traz depoimentos de pessoas que eram próximas ao Mestre e uma mescla de imagens de arquivo que apresentam as falas de Cupijó, bem como de seus filhos e de várias integrantes do projeto. 

“O Siriá foi um ritmo inventado pelo Mestre Cupijó, os dois estão intimamente ligados. Não é carimbó, como comumente se confunde, é um ritmo que ele inventou a partir dos ritmos tradicionais do baixo Tocantins”, explica Jorane. "Ele pesquisava muito os ritmos tradicionais e ouvia muita música nas rádios, e como artista e interprete dessas culturas, ele acabou misturando muita coisa que se transformou no que se conhece hoje como o Siriá", diz Jorane.

Cupijó mistura samba de cacete, banguê e merengue

O multi-instrumentista Joaquim Maria Dias de Castro, mais conhecido como Mestre Cupijó, acelerou as batidas e incluiu arranjos de sopro, agregando, ainda, a influência caribenha, como o mambo e o merengue. “A banda dele, que era o saxofonista, já usava instrumentos elétricos, como baixo e guitarra, teclado, além de bateria. A música dele é uma criação, além de ser um mestre da cultura popular, assim como o Vieira, que criou a Guitarrada, e a Dona Onete que criou o Carimbó Chamegado. Eles todos merecem ser homenageados, reconhecidos e nós tivemos a sorte de conviver com eles”, celebra Jorane Castro.

Gileno Foinquinos,  músico cametaense chama atenção para uma história curiosa sobre a origem do Siriá. “O Siriá deve ser oficializado como gênero musical, ao se tornar patrimônio, mas não era um ritmo, era uma música feita no gênero musical chamado Samba de Cacete. Temos poucos catálogos sobre isso, então qualquer iniciativa que evidencia a existência  e fomentar os nosso ritmos é muito louvável, pra mim é maravilhoso”, diz.

“Este Projeto de Lei tem como objetivo reconhecer e dar o devido valor para o gênero musical reinventado pelo cametaense Mestre Cupijó, para que as novas gerações de músicos encontrem as antigas gerações, e, assim, descubram e conheçam melhor a música popular do nosso Pará”, destaca a deputada Dilvanda Faro, autora do PL.

Além de músico e compositor, Cupijó foi vereador e advogado. Morreu em Belém no dia 25 de setembro de 2012, acometido por um câncer. Afastado dos palcos por conta da doença, ele reclamava do ostracismo. 

Vamos aguardar que o PL seja sancionado,  tornando o Siriá patrimônio e que a partir disso sejam criadas políticas públicas que fomentem essa cultura no Pará. Isso vale para todos os demais gêneros musicais já reconhecidos como patrimônio cultural imaterial. 

(Imagens desta postagem são reproduções da Internet)

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