23.4.22

Cinema Olympia completa 110 de portas fechadas

Cine Olympia, em 2018
 Foto: Otávio Henriques/Projeto Circular
Patrimônio de Belém, o Olympia chega aos 110 anos com pouco a comemorar. Em 2020, a pandemia suspendeu as sessões e o cinema passou o resto do ano esquecido. Reabriu em janeiro de 2021, no dia 12, para uma sessão especial de aniversário de Belém. Depois disso, fechou as portas, chegando a 2022 desativado.

Em mais de um século, grandes filmes foram projetados em sua tela e festivais locais e internacionais foram realizados no cinema Olympia, testemunha e vítima do tempo, local onde muitas emoções foram vividas e debates realizados sobre o cinema paraense, brasileiro e estrangeiro. É sonho de todo cineasta paraense exibir seu filme naquele telão, mas isso se tornou praticamente impossível, pois o equipamento de projeção está sucateado, assim como toda sua parte interna. 

Há meses que a situação do cinema vem sendo debatida pelas redes sociais. Até Pedro Veriano, um dos nossos críticos de cinema mais respeitado, autor de livros que contam as histórias do nosso cinema, se manifestou no Facebook pedindo que a prefeitura cuide do assunto com urgência. Vas últimas semanas não faltaram histórias sobre esse importante espaço cultural da capital contadas por cinéfilos, críticos e  pesquisadores da sétima arte, também nos principais veículos de comunicação do Estado. 

O Olympia já passou por muitas crises, mas nunca havia ficado por tanto tempo fechado. O título de cinema mais antigo em funcionamento ininterrupto no Brasil ainda lhe cabe? 

Em resposta às severas críticas da população à prefeitura, o atual presidente da FUMBEL - Fundação Cultural do Município de Belém -, o historiador Michel Pinho, informou publicamente a situação grave do cinema, o que não é uma novidade, mas também garantiu que seriam tomadas providências. Na semana seguinte, teve inicio uma “manutenção preventiva”,  “para salvaguardar o patrimônio”, “a fim de abri-lo o mais rápido possível para a população”. Os reparos no telhado, porém, estão longe de atender a real necessidade do prédio. 

 Construído em 1912 pelos empresários Carlos Teixeira e Antonio Martins, donos do Grande Hotel e do Palace Theatre, respectivamente, o prédio original tinha influência da arquitetura da Belle Époque, o movimento francês do século 19 que inspirou e caracterizou a modernização de Belém, no governo de Antônio Lemos. Na década de 40, o espaço recebeu detalhes ornamentais no estilo “art deco” e na década de 60 passou pela segunda reforma que lhe trouxe a fachada atual, além de poltronas estofadas, refrigeração ambiente e tapeçaria na área interna. Depois disso, o prédio recebeu pequenas manutenções que não resistiram aos dois últimos anos.

Espaço Municipal Cine Olympia e projeto de reforma

Foto/reprodução: Irene Almeida/Diário do Pará

Não é a primeira vez que a população sai em defesa do Olympia. Em 2006, artistas, ativistas culturais, amantes da sétima arte se mobilizaram e ocuparam, em fevereiro daquele ano, o hall do Olympia, realizando uma grande manifestação de protesto e depois preenchendo os mais de 400 lugares na plateia, para assistir ao que seria a última sessão, pois os herdeiros da família Severiano Ribeiro, proprietária do cinema ameaçava vende-lo caso o poder público não tomasse uma iniciativa. 

No dia seguinte, representantes de associações de cinema e cultura do Estado se reuniram com o então prefeito de Belém, Dulciomar Costa (PTB), para achar uma solução. Foi aí que se propôs a gestão compartilhada entre o poder público e os proprietários, o que se concretizou em 2007, com a criação do Espaço Municipal Cine Olympia, como existe até hoje, mas sem que nenhuma reforma consistente tenha sido feita, como também foi solicitado na época.

Em 2012, quando o Olympia foi declarado, pela Lei 8.907, patrimônio histórico e cultural do município de Belém, tivemos esperança disso se concretizar. A Fumbel já estava até finalizando o processo de licitação do restauro, via financiamento da Prefeitura, junto ao PAC das Cidades Históricas/Iphan. O projeto era da Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb), e em agosto de 2015, aguardava-se a liberação de recursos, mas nada aconteceu. 

Em 2017, fazendo uma reportagem sobre o PAC das Cidades Históricas, deparei-me com o projeto de reforma, que previa reforma na parte externa e interna do cinema e compra de som e projetores digitais.  Na planta, se via a modernização da sala de exibição, além da criação de um café, uma livraria e um espaço para oficinas de cinema, justamente como aquela comissão em 2006 havia proposto, mas para tornar o projeto de restauro completo realidade esbarra-se em outra questão, a necessidade de comprar o prédio da família Severiano Ribeiro, proprietária do cinema, um acordo a que ainda não se chegou. Como então, garantir a reforma que queremos?

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