18.12.23

Discosaoleo lança reprensagem do Tuyabaé Cuaá

Walter Freitas/Foto: Alberto Bitar
Comemorando os 35 anos do álbum clássico de Walter Freitas, o selo apresenta a nova edição em cópias limitadas, já em pré-venda, até 22/12. O lançamento presencial será no sábado, 23/12, às 11h30, co. audição comentada, na Discosaoleo, dentro da programação Risco no Disco, que traz como convidados o radialista e produtor musical Beto Fares e o jornalista e poeta Edson Coelho. 

Em 1988, Walter Freitas lançou pelo selo Outros Brasis o disco Tuyabaé Cuaá. O álbum havia sido gravado no ano anterior, após um longo período de estudos e experimentações do músico e compositor, que desejava alcançar uma sonoridade original. Agora, a obra que se tornou raridade e é considerada um marco na música paraense ganha nova prensagem pelo selo Discosaoleo.

Ao longo do tempo, as oito faixas do disco tiveram grande impacto sobre a crítica especializada. Por ocasião da edição em CD, em 1998, o jornalista Clemente Schwartz escreveu: “O álbum ‘Tuyabaé Cuaá’ é diferente de tudo que já foi lançado no mercado em todos os tempos”. No mesmo ano, o também jornalista Edson Coelho afirmou: “Tuyabaé Cuaá, paradoxalmente, é o novo que já nasceu destinado a ser clássico”.

No mesmo texto, Edson pontua que “Walter apropriou-se ‘fisicamente’ de uma linguagem – a popular, principal formadora de uma cultura – e potencializou-a resgatando expressões em desuso e acrescentando aos dialetos novos termos indígenas e africanos. Chegou ao requinte de praticamente fundar uma linguagem (...)”.

Mais recentemente, a propósito da reprensagem em vinil, o radialista e apreciador de música Beto Fares destacou que, num momento em que orquestras inteiras podem ser sampleadas, trabalhos orgânicos de grandes mestres da música seguem cumprindo o objetivo da emoção:

“Um clássico desse segmento é Tuyabaé Cuaá, disco do ator, escritor, compositor e cantor Walter Freitas, (...) carregado de desempenho artesanal que mostra, nota por nota, hábitos, costumes e transformações da região norte do Brasil.” Segundo ele, trata-se de uma “joia do cancioneiro popular”, “garantida para as novas gerações nesse oportuno relançamento da Discosaoleo”.

Uma sonoridade pra chamar de minha!

Foto: Alberto Bitar
Músico autodidata, Walter Freitas ressalta a importância do lugar onde cresceu no desenvolvimento da sua musicalidade. Nascido no bairro da Sacramenta, foi lá que o artista absorveu muitas de suas referências e onde realizou o intenso período de experimentação que originou as composições de Tuyabaé Cuaá. 

Ele conta: “A Sacramenta, na época, era um celeiro de informações que eu precisava obter pra chegar aos resultados que eu queria, que eu buscava (em alguns momentos até sem saber o que), pra consignar uma decisão que eu tomei, de construir uma sonoridade que fosse, nos termos que eu utilizava na época, somente minha”.

Foi no retorno de um período de dois anos em São Paulo, quando Walter tinha 18 anos, que teve início uma fase essencial de sua dedicação à música e à composição, num exercício que gerou a linguagem particular do artista. “Eu fui percebendo que eu estava fazendo coisas no violão, nas letras, na minha forma de cantar, que eram diferenciadas”, relata. Apenas quando sentiu ter alcançado um resultado original, decidiu mostrar o que fazia.

Circulando no cenário artístico de Belém nos anos 1980, Walter se aproximou do grupo Sol do Meio-Dia e, posteriormente, de Nilson Chaves, com quem (ao lado ainda de Almirzinho Gabriel e Genésio Tocantins) realizou uma série de concertos fundamental para que chegasse ao lançamento de seu primeiro disco. 

Ao final da temporada, foi convidado por Marcos Quinan para ser um dos primeiros artistas a gravar pelo selo Outros Brasis, que o produtor estava criando junto com Nilson. Destes contatos, surgiu o planejamento para as gravações de Tuyabaé Cuaá, realizadas no Rio de Janeiro, em 87. 

A escolha das faixas veio na esteira da decisão de Walter Freitas de criar sua própria marca: “Eram as canções que eu tocava, que eu ouvia, que eu lia a letra, que tinham exatamente aquilo que eu buscava, ou seja, elas ao serem executadas me davam como resposta essa certeza: tu estás cantando uma coisa que ninguém fez antes”. 

Walter ressalta que Tuyabaé Cuaá é um recorte de todo um contexto criativo desenvolvido por ele em anos de carreira, atuando também em outras linguagens, como a literatura e o cinema. No entanto, ele reconhece o poder próprio e inegável do disco de tocar os ouvintes ao longo de gerações.

Conceito musical e audição de emoção profunda

O álbum foi lançado no dia 25 de junho de 1988 e, como comenta Walter, não teve uma grande aceitação imediata, mas é um trabalho que envolve profundamente o público que o aprecia. 

“Não tem milhões de pessoas curtindo, ouvindo, acessando, mas ele vai muito fundo em quem ouve, em quem gosta, aí é como se ele implodisse o conceito musical, implodisse o ouvido das pessoas, implodisse a emoção das pessoas, fizesse elas se voltarem pra um universo que elas desconhecem. As pessoas ficam abismadas diante do que elas ouvem, diante do que elas veem, diante do que elas percebem quando escutam as músicas do Tuyabaé Cuaá”.

Este é um aspecto determinante na longevidade da obra, que agora é relançada pelo selo Discosaoleo com reprensagem em vinil 180 gramas preto, com capa dupla, ilustração inédita de Mindiyara Uakti (filho de Walter), pôster com foto de Alberto Bitar e colagem de jornais antigos, em trezentas cópias limitadas e numeradas. O disco já está em pré-venda, até o dia 22, e será lançado no dia 23, com audição comentada, reunindo Walter Freitas e os convidados Beto Fares e Edson Coelho.

Sobre a Discosaoleo 

Foto: Alberto Bitar
A Discosaoleo sempre teve por maior objetivo contribuir para a valorização e a movimentação do cenário artístico independente local, abrindo as portas para trabalhos de diferentes linguagens e estilos. Criada em 2014 pelo audiófilo Léo Bitar, como selo fonográfico analógico, também se tornou um espaço aberto ao público para venda de discos e realização de programações culturais variadas.

Desde a estreia, o selo já lançou vinis de Ana Clara, The Thump!, Molho Negro, Pio Lobato e Dulce Quental (RJ), além de um álbum de Zé Manoel (PE), em parceria com a Três Selos, e fitas cassete de Pratagy e Meio Amargo. 

Em 2023, após um intervalo de seis anos, a Discosaoleo retomou os lançamentos com o projeto 30por3, uma coletânea em fita e distribuição digital, reunindo Erik Lopes, Jimmy Góes e Mainumy, e agora retorna ao vinil com a reprensagem de Tuyabaé Cuaá, de Walter Freitas – iniciativa que marca o início das comemorações pelos dez anos de atividades da loja e selo.

De acordo com Leo Bitar, “é um presente pra quem gosta de música, pra quem gosta de LP, é um presente pro Walter e é um presente pra gente, também, que trabalha na Discos, e pra quem gosta da loja e do selo”. “Faz tempo que eu penso em relançar esse disco”, complementa.

Leo diz que este “é um disco muito querido que tenho na minha coleção e uma obra-prima da música local, um dos grandes discos independentes da música brasileira, e eu sempre tive essa intenção de relançar, de dar esse novo fôlego pra esse trabalho, que é tão delicado, tão especial, e que merece essa comemoração dos 35 anos”. Com esta reedição cheia de detalhes preciosos, Tuyabaé Cuaá é colocado novamente à disposição dos colecionadores.

Lista das faixas: 

Lado A

Hei Sapecuim! (Walter Freitas - Antônio Moura)

Tiã Tiã Tiã (Walter Freitas - João Gomes)

Fruta Rachada (Walter Freitas - João Gomes)

Salvaterra (Walter Freitas)

Lado B

Janataíra (Walter Freitas)

Pixãim (Walter Freitas - João Gomes)

Igaçaba (Walter Freitas - João Gomes)

Oração da Cabra Preta (Walter Freitas - Domínio público)

Ficha técnica original (1988):

Célia Vaz - arranjo para quarteto de cordas e regência em Fruta Rachada e Igaçaba Fernando Carvalho - arranjo para quarteto de cordas e regência em Pixãim; violão em Hei Sapecuim!, Salvaterra e Tiã Tiã Tiã

Jacques Morelembaum - cello em Hei Sapecuim! e Janataíra; participação especial no cello em Fruta Rachada 

Liana Carneiro - flautas em Pixãim 

Marcelo Salazar - percussão em todas as músicas 

Marcos Amma - percussão em Salvaterra 

Mingo - percussão em todas as músicas

Nilson Chaves - violão em Fruta Rachada e Janataíra; dois violões em Igaçaba

Quinteto de cordas: Daniel Passuni – violino; Osvaldo de Souza – violino; Fernando Thabaldi – viola; Luiz Cláudio Coimbra - cello em Fruta Rachada, Pixãim e Igaçaba; Jabez Oliveira - cello

Walter Freitas - violão e voz em todas músicas e viola de 10 caipira em Salvaterra

Todos os arranjos de base por Walter Freitas

Gravação: Denilson e Leco

Mixagem: Leco, Denilson, Carlão e Nilson Chaves 

Produção musical: Nilson Chaves

Assistentes de produção: Liana Carneiro, Marco André, João Gomes e Roseli Naves Produção executiva: Marcos Quinan e Nilson Chaves 

Fotografia: Guiga Melo e Paulinho Dourado 

Direção de arte e ilustrações (capa e encarte): Sérgio Bastos 

Produção geral: Marcos Quinan

Gravado nos Master Stúdios, Rio de Janeiro, de 26 de janeiro a 6 de fevereiro e em 22 de agosto de 1987.

Ficha técnica da nova prensagem (2023):

Produção: Léo Bitar

Masterização: Assis Figueiredo

Ilustração da capa interna: Mindiyara Uakti

Fotografia do pôster: Alberto Bitar

Adaptação gráfica: Tita Padilha

Arte do pôster: Thaise Freitas

Serviço

Lançamento da reprensagem do álbum Tuyabaé Cuaá, de Walter Freitas, pela Discosaoleo, na programação Risco no Disco, com o artista e os convidados Beto Fares e Edson Coelho, em audição comentada do vinil, dia 23 de dezembro, às 11h30, na loja do selo (Campos Sales, 628, porão). Entrada gratuita.

A pré-venda está aberta e segue até o dia 22. Contatos e informações nas redes sociais da Discosaoleo: instagram.com/discosaoleo; facebook.com/discosaoleo.

(Com informações da assessoria de imprensa)

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