15.12.23

Grupo Experiência convida para viagem a Bragança

A Estrada de Ferro de Bragança (E.F.B), extinta ferrovia que ligava o município à capital paraense, é o eixo narrativo de “Belém Bragança – Os trilhos da Esperança”, do Grupo Experiência, em cartaz neste sábado, 16, às 20h, dentro da programação de reinauguração do Teatro Margarida Schivasappa. 

O papel do artista como um observador atento e sensível é fundamental na criação artística, independentemente da disciplina específica em que esteja envolvido. A capacidade de observar o mundo ao redor, absorver experiências e se envolver emocionalmente com a realidade é um catalisador poderoso para a expressão criativa. 

O diretor e dramaturgo Geraldo Salles é um exemplo do quanto essa observação aguçada se torna a matéria-prima inspiradora que transforma observações em obras. Não à toa, à frente do Grupo Experiência, ele está em cartaz há 40 anos, com Verde Ver-o-Peso, um espetáculo que se inspira no cotidiano da maior feira a céu aberto da América Latina.

É assim que surge “Belém Bragança – Os trilhos da Esperança”, espetáculo que o Experiência estreou este ano no palco do Teatro do Sesi, e que retorna em cartaz, com única apresentação neste sábado, 16/12, na inauguração do teatro Margarida Schivasappa. 

Desta vez, Geraldo Salles, a inspiração veio de uma visita feita à Bragança, onde passou alguns dias e teve oportunidade de conhecer pessoas que lhe contaram histórias da cidade e da Estrada de Ferro. Curador de experiências, filtrando e interpretando o universo bragantino, o diretor e dramaturgo entrou, então, num estado criativo e ao se deparar com um livro unificou o fio narrativo.

“No hotel em que estava hospedado eu encontrei um livro sobre a Estrada de Ferro e vi que entre Belém e Bragança eram cerca de 9 horas de viagem. Fiquei pensando que seria bonito e interessante contar as coisas curiosas que sucediam, abordar também questões históricas e políticas, além de trazer a cultura bragantina junto”.

Apaixonado pelas histórias locais, pelas pessoas e pela cultura única do lugar, o diretor encontrou na Estrada de Ferro de Bragança uma fonte inesgotável de inspiração para criar uma narrativa envolvente. Os anos, porém, se passaram, até que ele propôs escrever o espetáculo com José Leal, o saudoso Zecão que, além de ator integrante do Grupo Experiência, havia escrito alguns dos quadros de Verde Ver-o-Peso, e topou. A obra teve inicio, mas com a perda do ator, em abril de 2021, a ideia ficou novamente engavetada.

Personagens históricos e música ao vivo

Geraldo já retoma à ideia apoiado, desta vez, pela escritora bragantina Mariana Bordallo, que já vinha realizando uma espécie de consultoria sobre as histórias e a cultura bragantina, junto ao próprio Zecão, e que mesmo sem ele chegou ao texto final junto a Geraldo salles e equipe do grupo Experiência. 

Com Mariana entram em cena personagens literalmente familiares, além de uma série de personagens importantes que costuram a narrativa, entre eles, seu pai e tio Armando Bordallo da Silva, médico e intelectual bragantino, que ajudou a fundar e participou de associações que impactaram a economia, a educação e promoveram a conscientização do meio ambiente do município de Bragança, na zona do salgado paraense, e Bolívar Bordallo da Silva, advogado,

historiador, folclorista e intelectual bragantino. Também entra em cena, logo no início, Simpliciano Fernandes de Medeiros, meu bisavô, na época Intendente de Bragança, presente na inauguração da ferrovia, entre outros. 

Não darei spoiler de outros personagens, mas são 20 pessoas envolvidas ao todo no espetáculo, entre atores, técnicos e músicos, sim, trata-se de um musical. E um spoiler agora. Neste sábado, 16, além de dois músicos em cena, teremos também a presença e participação do músico e compositor bragantino Toni Soares, autor da trilha do espetáculo. 

“É um musical e não poderíamos trabalhar com músicos que não fossem essência também dessa cultura. O Toni Soares é um dos fundadores do Pavulagem, tem um trabalho muito imbuído na cultura bragantina, que ele vive, então fez todo sentido e teremos sua presença neste sábado”, afirma o diretor. 

Efervescência cultural e econômica

A Estrada de Ferro de Bragança (E.F.B), como uma inovação tecnológica facilitou a comunicação entre as cidades, impulsionando trocas culturais e o escoamento de produtos agrícolas, contribuindo para o desenvolvimento das regiões beneficiadas por suas linhas. 

A inauguração do primeiro trecho que ligava Belém e Benevides ocorreu em 1884, mas a inauguração só mesmo 1908, desempenhando papel crucial na integração cultural e econômica entre Belém e a cidade de Bragança.

Em Bragança, segundo maior centro urbano da região, a época foi de efervescência, em conexão direta com Belém. O espetáculo explora então essa jornada de cerca de 9 horas de viagens sobre os trilhos. Geraldo Salles, sensível a essa riqueza narrativa, traz à vida essas histórias, proporcionando ao público uma viagem fictícia entre as duas cidades, permeada por relatos autênticos daqueles que testemunharam a jornada nos vagões da E.F.B. 

José Leal, colaborador e amigo do diretor, desempenhou um papel fundamental na adaptação das histórias reais coletadas para uma comédia de costumes. Embora inspiradas em eventos reais, as histórias foram habilmente ajustadas ao roteiro, preservando apenas algumas personagens reais para manter a autenticidade.

Final emocionante 

A peça é uma homenagem não apenas à Estrada de Ferro de Bragança, mas também às pessoas que moldaram sua história. 

Ao trazer à tona as memórias dessas experiências, Geraldo Salles também permite que o público mergulhe numa rica e pouco conhecida história do estado do Pará. A viagem do espetáculo encerra quando o trem, saído de Belém, chega à Bragança, no dia da procissão de São Benedito, em plena festa da Marujada. 

É portanto um marco, que Belém terá oportunidade de ver pela segunda vez, mas é de certo que Bragança precisa urgente ver também. “Vamos fazer este retorno neste sábado, mas queremos fazer uma temporada de mais dias. E também queremos chegar a Bragança. Estava quase tudo certo com o secretário de cultura, mas acabou sendo adiado, aguardamos que em 2024 possamos levar também para o lugar que inspirou tudo isso”, finaliza Geraldo Salles. 

Serviço

 “Belém Bragança – Os trilhos da Esperança”, do Grupo Experiência. Neste sábado, 16, às 20h, no teatro margarida Schivasappa do Centur, em Belém-Pa. Ingresso trocado por 1kg de alimento não perecível.

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