16.12.23

Um Psica histórico com sabor de Virada Cultural

A 11ª edição do festival faz história. Inspirado pelo evento paulista, no centro histórico de São Paulo, o Psica criou um corredor na Cidade Velha, interligando 4 palcos e acertou! 

O Psica 2023 não chegou a ser uma virada cultural, mas isso é possível. A partir deste percurso criado na sexta-feira, romperia-se a fronteira da Cidade Velha com a Campina, abrangendo o Solar da Beira, o Mercado de Carne.

Indo além, teremos a Estação das Docas e o Boulevard da Gastronomia, onde já estão cervejarias, restaurantes e o Sesc, com seu centro cultural e Casa das Artes Cênicas, garantindo que, no dia seguinte, até 18h, a programação seguisse em espaços internos.  E para isso, basta uma boa articulação, coisa que já é nata nos irmãos Gerso e Jeft.

Ontem, ao aterrisar neste território histórico com programação gratuita, o Festival Psica também entrou para a lista dos projetos da sociedade civil que acreditam no centro histórico como um território potente para um turismo saudável, inclusivo e construtivo, que valoriza a diversidade cultura e o patrimônio, como fatores de impulsionamento econômico e de geração de renda. 

Bem organizado e com uma programação diversa, o criou um percurso pelo qual foi muito fácil transitar, mesmo com os carros circulando. 

Do Kabana do Gerso, na Praça do Carmo, era seguir na contra mão dos carros pela rua Siqueira Mendes (a primeira rua de Belém) para chegar, no segundo palco, o Voador, no Píer da Casa das Onze Janelas e, retornando deste à Praça Frei Caetano Brandão, indo em direção à Igreja de Santo Alexandre, chegávamos ao terceiro palco, o Guelra, observado pela Igreja da Sé, no Complexo Feliz Lusitânia, o maior de todos. 

Dali era só continuar caminhando para o quarto palco, também grandioso, o Megazord, com aparelhagens, montado de frente para a Praça do Relógio, porta de entrada do Ver-o-Peso, indicando a transição para outro bairro histórico, a Campina. Este ano, entretanto, o corredor encerrou ali mesmo, sob as bênçãos do Mercado do Peixe.

Os horários dos shows foram bem planejados, permitindo o ir e vir entre os palcos, cujos horários, bem planejados, permitiram-nos conferir quase todas as atrações. Alguns shows ficaram com horários sobrepostos no palco Guelra e o Kabana do Gerson. Não pude ver tudo, mas dentre o que vi, destaco a seguir alguns dos momentos marcantes em cada palco

Dos momentos mais emocionantes da noite

No Rio Voador, que abriu uma janela importante à Guitarrada nesta edição do Psica, reunindo os mestres Solano, Aldo Sena, Curica, pioneiros e conterrâneos de Mestre Vieira, o criador do gênero já falecido e que bem merecia uma homenagem neste palco, e o Clube da Guitarrada, que reúne pelo menos duas gerações influenciadas por eles. 

Infelizmente não consegui assistir direito. O som já chegava distorcido no anfiteatro, até onde consegui ir para ver o show, devido à lotação de pessoas. Tava bonito, o público não abriu o pé, principalmente quem conseguiu chegar mais próximo do palco. 

O píer é bacana mas tem esse problema em todas as ações realizadas lá com grande público. Vi um pouco de longe, ouvi Solano contar a historia da música lhe dada de presente pelo saudoso Sebastião Tapajós, intitulada Rei Solano. Dancei à beça, mas com a dificuldade de pelo menos ouvir melhor o que se passava no palco, desisti de ficar até o final.

Mateus Aleluia é um canto em oração

No Guelra, Mateus Aleluia, certamente era uma das atrações mais aguardadas desta noite gratuita. Seu Mateus, como também o chamam, mostrou porque sua trajetória é uma notável contribuição para a música brasileira. Nascido em Cachoeira, Bahia, em 1942, a carreira deslanchou na década de 1970, quando ele integrava o grupo Tincoãs, um conjunto musical formado por três vozes masculinas que se destacou por suas interpretações de músicas afro-brasileiras, especialmente os ritmos relacionados ao candomblé. 
 
A voz marcante, as entonações profundas de Mateus Aleluia transformaram sua performance, nesta sexta à noite, em uma espécie de ritual, oração e emoção coletiva, digo isso sem nenhum exagero. Em carreira solo, as raízes da música afro-brasileira seguem como sua abordagem principal, refletindo sua profunda conexão com suas origens culturais. Deu para sentir na alma. Valeu muito, Psica!

Flor de Mururé entrega tudo no Kabana do Gerso

Já de saída do Complexo Feliz Lusitânia, ainda vi uma pequena parte da apresentação da Amazônia Jazz Band e da participação de Nazaré Pereira.  Segui para o Kabana do Gerson para ver o show do Flor do Mururé. Cheguei antes dele subir ao palco e em tempo de dar um abraço de boa sorte. Mururé estava nervoso, jeito dele, no palco, domina tudo, se entrega. É potência e afeto. Entre os momentos marcantes do show, Flor de Mururé recebe e canta junto com Íris da Selva e Borblue. Explode emoção. Ontem, também estava  no palco, o Trio Manari. Ô show bonito, minha gente. 

Flor é um artista novo na cena, mas já com trajetória fonográfica e premiações. No lançamento do primeiro EP "Eu sou Flor", em 2019, o artista tinha entre 17 e 18 anos. A música que intitula o EP,  acabou gerando, em 2021, um videoclipe, lançado com apoio da Lei Aldir Blanc. 

O clipe, dirigido por Flores Astrais, conta com a participação de cinco artistas trans/travestis. Atualmente, segue imerso na criação do primeiro álbum de estúdio e de um curta-metragem que registra seu processo criativo, integrando projeto apoiado pela Natura Musical.

Homem trans não-binário, Flor de Mururé desafia os rótulos e inspira com sua arte outras pessoas trans. Sonoramente, vai do côco ao hip hop, chegando à guitarrada, ao pop e ritmos amazônicos. Eu diria que de modo geral é ele é rock and roll na expressão criativa da palavra, consolidando sua presença como um artista versátil e engajado. 

O som das aparelhagens

Já passava da meia noite, quando cheguei à Praça do Relógio. O público já se aglomerava, vindo de todos os demais palcos. Situado na área mais aberta de todo o percurso o Megazord prometia, mas chegava a minha hora de partir. Fiz alguns registros para não esquecer a visão que tivemos das aparelhagens Ouro Negro e Lendário Rubi, num ângulo a partir da Praça D. Pedro II e como se diz por aqui, peguei o beco.

Programação segue no Mangueirão

O evento continua neste sábado, 16, e domingo, 17, no Mangueirão, onde o rolê não é gratuito, mas oferece facilidades de acesso, acompanhem pelo perfil do festival no Instagram. A programação está intensa, prometendo ser mais um sucesso. Patrocinado pela Petrobras e Nubank, via Lei de Incentivo à Cultura, Minc, o Festival Psica 2023 conta ainda com diversos apoios, incluindo do Governo do Estado e da Prefeitura de Belém. 

Sábado | 16 de Dezembro

Palco GUELRA

17h00 Abertura

18h25 Suraras do Tapajós 

20h15 Zaynara

22h20 Don L + Nego Gallo

00h30 Jorge Ben Jor

Palco RIO VOADOR:

17h40 Baixo Calão

19h10 Odair José e Azymuth

21h00 Majur

23h30 Gang do Eletro

MEGAZORD

22h00 Momento Kenner

02h00 Tudão Crocodilo 

Palco KABANA DO GERSO:

18h40 Núbia 

20h00 Miss Tacacá convida Pokaroupas

21h20 Sumano

22h40 Irmãs de Pau 

23h40 MU540

Palco Karretinha

19h00 DJ Roberto Figueiredo

20h05 DJs Meta/Esquema

21h10 Tristan Soledade

22h15 DJ Pedrita

23h20 DJ Jon Jon 

Domingo | 17 de Dezembro

Palco GUELRA

17h00 Abertura

18h05 Dead Fish 

20h10 La Pupuña

22h20 Jaloo

01h00 Viviane Batidão part. Gaby Amarantos

Palco RIO VOADOR:

17h10 Elisa Maia

19h00 Rachel Reis

21h10 FBC

23h30 Alcione convida MC Tha

MEGAZORD

02:00 Carabao 

Palco KABANA DO GERSO:

18h40 Vanessa Ayres

20h00 Zudzilla

21h20 Os Quentes da Madrugada

22h40 Slipmami 

00h00 Banda Mega Pop Show & Luiz Guilherme

01h20 Frimes 

Palco Karretinha

19h35 DJ Zek Picoteiro

20h40 Dj Mayara Barreto

21h45 Dj Gil do Mauro Som

22h50 Dj Dyselma 

23h55 Jr Alucinado & Cleiton

01h00 David Sampler & Nayty show

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