21.12.23

Ópera Estúdio com estreia no cemitério Soledade

Parque Cemitério da Soledade (Ag. Pará)
"Visagens e Assombrações de Belém - Ópera Rock", adaptação da obra do escritor Walcyr Monteiro para o teatro musical, estreia nesta sexta-feira, 22, às 19h, no Parque Cemitério da Soledade. 

A apresentação é única e ocorre dentro da programação do projeto “Uma Noite no Museu” da Secult-Pa, como o resultado do trabalho da turma de 2023 do projeto de extensão  "Ópera Estúdio", do Instituto Carlos Gomes, em parceria com A Liga do Teatro. Em cena, 20 alunos (atores/cantores) do Instituto Carlos Gomes e música ao vivo da banda Álibi de Orfeu. 

"Visagens e Assombrações de Belém - Ópera Rock" é a livre adaptação de sete contos do livro homônimo de Walcyr Monteiro, com dramaturgia e direção cênica de Bárbara Gibson, coreografia de Paola Pinheiro , direção musical e geral do Maestro Pedro Messias, com participação da Banda Álibi de Orfeu, produção da companhia A Liga do Teatro e realização da Fundação Carlos Gomes.

“Eu já conhecia a obra de Walcyr Monteiro, como boa paraense. Visagens é um clássico que eu li na escola, na infância. Estudei com o filho dele e tive oportunidade de participar de uma outra homenagem a ele, interpretando A Mulher do Táxi”, diz Bárbara Gibson.

Ensaio do espetáculo, nesta semana,
no cemitério. Foto/registro: Larissa Imbiriba
Familiarizada com a obra, a diretora não esconde a emoção de trazer para o teatro musical feito em Belém, um autor paraense tão importante para a literatura paraense. “Ele é muito importante pra literatura regional, nacional e com obra reconhecida também internacionalmente. É uma honra pra mim”, diz Bárbara.

Em formato de Ópera Rock, a temática, a música, além da coreografia tornam-se mais interessantes ainda pelo espaço em que será apresentado o trabalho. “Para nós o local é inusitado, como será para o próprio público. É diferente pra gente, pois ocupamos teatros, mas este espaço público tem tudo a ver com o livro. Vários contos do Walcyr ocorrem dentro do cemitério, inclusive do próprio Soledade, a ambientação é interessantíssima”, continua a diretora cênica.

Privilegiando contos da obra que ela achou que melhor funcionariam para o teatro musical, Bárbara chegou em sete textos, alguns mais clássicos como “A Mulher do Táxi” e “Matinta Pereira”, e outros menos conhecidos. “Tem um que fala de um fantasma erótico do Soledade”, comenta. “Todos trazem aspectos lúdicos e mágicos que casaram muito bem”.

Liga do Teatro assume a produção

A Liga do Teatro é um grupo que vem desenvolvendo um trabalho especializado em teatro musical. Já produziu trabalhos como “Queen, Um Toque de Mágica”. Foi a partir desse espetáculo que surgiu o convite do maestro Pedro Messias para Bárbara Gibson, dramaturga do grupo.

“Tínhamos convidado o maestro Pedro Messias para nos dar uma consultoria na montagem do espetáculo e na época, 2019, ele já havia me falado que havia se identificado e que gostaria de trabalhar com o grupo. Estamos agora fazendo isso e tem sido uma experiência incrível essa parceria com o Instituto e a Fundação Carlos Gomes”, diz Bárbara. 

E parcerias são muito bem vindas em se tratando de teatro musical. “Ainda é um grande desafio, mas o teatro em geral é, pela questões basilares, dificuldades de local de ensaio, conseguir pauta em teatro, conseguir recursos financeiros. As questões burocráticas também afetam todos os fazeres teatrais, porém tem uma questão específica no teatro musical que necessita de mais tempo de ensaio e de mais profissionais envolvidos, porque estamos falando de ter pelos menos três linguagens envolvidas, a teatral, a musical e a coreográfica”, desabafa.

Composições autorais adaptadas ao espetáculo

Álibi de Orfeu ao vivo  (Foto: Divulgação)
As composições são autorais, todas da banda Álibi de Orfeu, mas não foram produzidas especialmente para o espetáculo. Foram escolhidas a partir de uma curadoria para se aproximar da temática da peça. 

“É o trabalho de uma banda de rock paraense que toca um som mais melódico rock, suas composições são bem diversificadas passam por vários gêneros. As letras trazem temas ambientais e políticos, mas também falam de lendas urbanas como, por exemplo Rasga Mortalha que está na ópera rock”, diz o maestro Pedro Messias 

O maior desafio dessa adequação musical, segundo ele, foi a de dramaturgia. "Foi um desafio trabalhar a obra musical, adequando as letras do Álibi de Orfeu para a encenação proposta pela diretora Bárbara Gibson. E fizemos tudo foi em conjunto também com a banda. Por se tratar de uma ópera rock, que carrega uma carga emocional e dramática em si mesma, a música conta também a história, não é só fundo musical”, ressalta o maestro.

Coreografia inspirada em lendas e assombrações

A coreografia, tão importante para a encenação de um espetáculo musical ficou sob a direção de Paola Pinheiro. A bailarina e coreógrafa comenta que o tema cultural regional despertou se interesse em fazer o trabalho. 

"Isso ajudou muito na inspiração da coreografia, numa pesquisa de movimento, assim como a dramaturgia feita pela Bárbara Gibson. Trouxemos toda essa carga mística que tem as nossas histórias, as músicas dão um tom a mais. Eu nunca tinha trabalhado com coreografia de músicas de rock e com banda ao vivo. Espero que o público reaja bem a essa encenação inusitada. É também a primeira vez que vou dançar num cemitério", confessa Paola.

Sobre o escritor Walcir Monteiro

Walcyr Monteiro nasceu em Belém, em 27 de janeiro de 1940 e faleceu no dia 29 de maio de 2019, aos 79 anos. Apaixonado pelas narrativas orais que coletava nos mais diversos municípios da Amazônia, o escritor foi um incansável pesquisador dessas histórias, que foram preservadas nas páginas das dezenas de livros escritos.

Era formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e Economia pela Universidade da Amazônia e também atuou por muitos anos como professor e jornalista profissional, quando colaborou com diversos jornais e revistas que circularam no estado. 

E foi esta última vocação que prevaleceu em sua trajetória, a partir do momento que decidiu começar a publicar a série “Visagens e Assombrações de Belém”, numa coluna que assinava no jornal A Província do Pará.  Ele teria completado 83 em janeiro deste ano. 

O saudoso escritor segue, porém, como um dos nomes mais importantes da literatura paraense e sua principal obra “Visagens e Assombrações de Belém” serve de referência para novos escritores que mergulham no universo fantástico das histórias e lendas da Amazônia.

Projeto de extensão da FCG

O Ópera Estúdio é um projeto de extensão desenvolvido pelo Instituto Estadual Carlos Gomes (IECG). Foi criado em 2013 com o objetivo de preparar os cantores líricos paraenses para atuar em montagens de ópera em Belém. No curso, que tem duração de um ano, eles melhoram a performance com aulas de técnica vocal e preparação cênica. A seleção de novas vozes é feita sempre no início de cada ano por meio de audição seletiva. 

“O Ópera Estúdio tem como intenção principal preparar os alunos para uma carreira artística de forma mais completa possível, envolvendo desde a pré -produção, montagem, divulgação, figurino, cenário, locação. O Ópera Estúdio é uma ferramenta metodológica”, comenta Pedro Messias.

Este ano montamos a ópera “Príncipe do Egito”, com orquestra da FCG, e agora encerramos com este espetáculo no cemitério, e já estamos planejando o ano que vem. A temporada promete mais surpresas ao público e para os alunos,  muita música de qualidade, muita paixão pelo que gostamos de fazer que é o teatro musical e a ópera”, finaliza o diretor geral.

Um cemitério aberto à programação cultural

Reabertura do cemitério, como parque
no dia 11 /01/2023
Fundado em 1850, como uma necrópole pública para enterrar milhares de vítimas da epidemia de febre amarela, no século XIX, o Cemitério da Soledade hoje em dia é um parque. Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), desde em 1964, como Patrimônio arquitetônico, urbanístico e paisagístico de Belém , hoje é um parque cemitério. 

A obra foi entregue este ano pelo governo do estado, dia 11/01, na véspera dos 407 anos de Belém, mas ainda com uma segunda fase a ser finalizada em 2024, repetindo a parceria com o Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação da Universidade Federal do Pará (Lacore/UFPA).
 
Este ano também, com a criação do projeto Uma Noite no Museu, a Secult-Pa colocou o parque no circuito turístico da cidade, também como um dos espaços a receber programação cultural. E é por isso, que o convite assombrado para sextar no cemitério está feito. Vamos de ópera rock em meio aos mausoléus? 

VISAGENS E ASSOMBRAÇÕES BELÉM - ÓPERA ROCK

Ficha Técnica

Direção  Geral  e Musical - Maestro  Pedro Messias 

Dramaturgia  e Direção Cênica - Bárbara  Gibson 

Direção  Coreográfica - Paola Pinheiro 

Maquiagem - Matheus Ribeiro

Assistente de Maquiagem - Maiteh Fonseca

Produção  - A Liga do Teatro  e  Ópera Estúdio 

Arte - Victor Azevedo 

Redes Sociais - Luiza Imbiriba

Apoio - Banda Álibi  de Orfeu

Elenco

Samantha Pacheco | Lúcia Lobato | Vagner Mendes | Vitoria Cantanhede | Lunna Campbell | Kyria Monteiro | Lucas Mateus | Eugênia Lobato | Discórdia | Lohane Tk | Bianca Marinho | Breno Machado | Léo Meneses | Walace Sousa | Mariluz Vidonho | Olavo Mendes.

Serviço

Visagens e Assombrações de Belém, em Uma Noite no Museu. Nesta sexta-feira, 22/12, às 19h, no Parque Cemitério Soledade. Gratuito. Av. Serzedelo Corrêa - entrada também pela Dr. Moraes, entre Gentil e Conselheiro Furtado - Batista Campos.

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