21.5.12

Fotos de Chikaoka nos levam à casa de Tó Teixeira

Tó Teixeira
Aberta em março, a mostra “Pra ter de onde se ir” traz imagens pouco conhecidas de Miguel Chikaoka artista convidado da 3ª edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia. Entre elas, fotografias feitas na residência do músico Tó Teixeira.

No Museu da UFPA, a exposição, que tem curadoria de Mariano Klautau Filho, espalha-se em duas das salas, com fotografias feitas nos anos 1980 e outras décadas. Há cenas cotidianas ou de passagem de Miguel por vários municípios paraenses. Um espaço reservado, no entanto, chama atenção, em especial.

Nele, sobre uma mesa, vemos várias caixas cheias de memória. Dentro delas misturam-se fotografias. Algumas, da casa em que Miguel Chikaoka morava com a família e os irmãos em São Paulo, nos anos 1960, muito antes dele pensar em vir para Belém. Na outra, surge a residência de Tó Teixeira, um dos nomes mais importantes da música e do choro paraense. 

Miguel Chicaoka é paulista, nasceu em 1950, estudou engenharia na Universidade de Campinas (SP), onde se graduou em 1976 e depois disso morou entre 1977 e 1979 na cidade francesa de Nancy, onde frequentou a École Supérieure de Mécanique et Électricité, mas abandonou o curso antes de seu término. 

Já no início dos anos 1980, ele se afirma como fotojornalista, colaborando primeiramente com a Agência F/4 (entre os anos de 1981 e 1991) e, em seguida, com a N Imagens (entre 1991 e 1994). 

Desde então, Chikaoka vem se destacando como um dos mais singulares professores de fotografia do país, tendo exercido profunda influência sobre toda uma geração de fotógrafos paraenses graças a iniciativas como o Foto-Varal (que promovia exposições alternativas em locais públicos) e o grupo Fotoativa, que fundou em 1983 e foi transformada em associação em 2000, continuando em funcionamento até os dias de hoje.

Miguel chegou em Belém no início dos anos 1980. Em 1981 foi levado, por acaso, à casa do músico Tó Teixeira, por outro ‘chorão’, o saudoso Aldemir Ferreira da Silva, proprietário da Casa do Choro, o reduto mais efervescente do choro, na época, na cidade.

“Logo que cheguei a Belém conheci um grupo que atuava na Casa do Choro entre eles o Aldemir (Ferreira da Silva). Foi ele que me convidou pra ir até a Casa do Tó Teixeira. Enquanto os dois ficavam conversando eu andei pela casa e fiz várias fotos. Naquela época não me dava conta da importância de Tó Teixeira. Não sei direito o que o Aldemir foi fazer ali, acho que bater um papo. Lamento não ter me envolvido mais diretamente com o Tó, eu estava coadjuvante e só depois tive consciência de quem era ele”, diz Miguel revirando sua memória de 30 anos atrás. 

É fato. Nos anos 1980 Belém estava completamente envolvida, musicalmente, com a renovação do chorinho paraense, que a partir dali começava a ter espaços especificamente para se ouvir o ritmo. A Casa do Choro, idealizada por Aldemir, foi uma das pioneiras e reunia amigos e apaixonados por choro, incluindo aí, Miguel Chikaoka. 

Nas caixinhas expostas as fotografias mostram, portanto, duas casa, longe uma da outra. E dois destinos que se encontraram, embora rapidamente. 

Tó nasceu em 1895 e faleceu em 1982, um ano depois de ter sua casa fotografada por Miguel Chikaoka.

A ideia da montagem é brincar com as fotos, tentando descobrir de quem é uma e outra casa ali retratada, e também revirar a memória. Em algumas pode-se perceber claramente a casa de Tó Teixeira, músico consagrado na história da música popular e erudita paraense. 

Em algumas delas há um cartaz de aviso, onde se lê o endereço do músico: “Rua Domingos Marreiros, 340, entre Almirante Wandenkolk e Dom Romualdo de Seixas”. Em outra, há uma placa de aviso aos seus alunos, datada de 1969: “É favor que o bom aluno faz terminar a lição entregar o violão ao outro e retirar-se. Agradecido. Tó Teixeira”. Mas para decifrar outras é preciso mais atenção. 

Eis o jogo proposto ao público visitante, que além da diversão, pode sentir-se instigado a conhecer mais sobre a história deste músico, que dá nome à lei municipal de incentivo à cultura e atualmente também vem tendo sua vida e obra pesquisada pelo músico e estudioso Salomão Habib. 

Tó Teixeira - Antonio Teixeira do Nascimento Filho é um dos nomes importantes do choro paraense. Apesar disso, sua história ainda é pouco conhecida

Era negro, pobre, filho de um violonista chamado Aluísio Santos e que, por sua influência, teve contato com a música desde muito criança e, mais tarde, com seu grupo “Os desejados”, acabou se tornando uma das grandes expressões da música do Pará. 

Morou sempre no bairro do Umarizal, onde conviveu com seresteiros e boêmios de Belém. Era um artista popular e conhecedor das tradições culturais de rua, visíveis em pássaros juninos, bois-bumbás e pastorinhas do popular bairro negro e operário belenense. Por volta de 1925, Tó já freqüentava e era bastante conhecido nos espaços musicais da cidade. Sozinho ou acompanhado com seu grupo tocou em salões aristocráticos e em festas populares. 

A partir da década de 1930 atuou também nas ondas da rádio PRC-5, a Radio Clube do Pará, em vários momentos. Produziu em gêneros diversos que iam de peças de caráter popular ao clássico, passando por valsas, marchas, choros, sambas, batuques, maxixes, etc. Como muitos artistas paraenses Tó Teixeira viveu de outras atividades profissionais, foi encadernador afamado na cidade e o seu sustento em grande parte decorreu desta atividade. 

Em 1968 o pesquisador Vicente Salles fez um registro fonográfico de algumas músicas de Tó, mas tarde este material foi aproveitado no LP “Lá vem o tio Tó”, Editado por Marcos Pereira em 1976. 

O talento do músico também foi reconhecido com o lançamento do disco Música e Memória v. 2, produzido pelo Núcleo de Artes da UFPa em 1993. Atualmente, o músico Salomão Habib realiza um projeto que mergulha na vida e obra deste artista.

Serviço
O III Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia também continua com a mostra Memórias da Imagem aberta na Casa das Onze Janelas, reunindo obras de vinte e três artistas. A realização do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é do Jornal Diário do Pará. Patrocínio da Vale e Governo do Estado. Apoio Espaço Cultural Casa das Onze Janelas – SIM/Secult-PA, Museu da UFPA (Av. Givernador José Malcher, próx. à Generalíssimo), Sol Informática e Instituto de Artes do Pará. Informações: (91) 3184-9327 / (91) 8128-7527. www.diariocontemporaneo.com.br / imprensa@diarioconteporaneo.com.br / Twitter: @premiodiario. Visite as mostras de terça a domingo.

Um comentário:

Carlos Barretto  disse...

Ótima dica. Levei para o blog.
Bjs