30.5.12

Periferia e cárcere na tela do centenário Olympia

A Central Única das Favelas – CUFA-PA – e a ONG Crias do Futuro realizam nesta quinta-feira, 31, uma sessão inédita dentro da programação dos 100 anos do Cinema Olympia. Serão lançados os quatro filmes produzidos ano passado nas oficinas do projeto Cine Periferia Pai D’égua. A sessão inicia às 19h, com entrada franca.

Cultuado pela alta sociedade belenense no inicio do século passado, o Cinema Olympia está recebendo em sua programação de 100 anos de atividade ininterruptas, três curtas documentários e mais um de ficção, que retratam uma realidade bem diferente da que foi vivida pelos seus antigos espectadores da Bélle Èpoque paraense. 

Poderia ser ironia, mas não é não. Estamos falando de um trabalho sério que vem sendo desenvolvido pela CUFA Pará e Crias do Futuro nos bairros de periferia e em Centros de Recuperação Carcerários de Belém. Uma ação dessas só poderia merecer destaque num espaço assim tão nobre quanto, como é o histórico Olympia. 

Realizados em oficinas ministradas na Associação Beneficente Amigos do Guamá e na Escola Temístocles Araújo, no bairro da Marambaia, além dos Centros de Recuperação (CRCs) Feminino e do Coqueiro, os filmes são a própria voz da periferia e do sistema carcerário, feitos por quem mora nela e vive a realidade da reclusão. 

Cena do documentário "Ressocializar: é preciso?"
E é justo este o maior objetivo do projeto Cine Periferia Pai D’égua, dar voz e visibilidade a quem é visto sempre à margem. 

Os temas foram escolhidos pelos moradores dos bairros Guamá e Marambaia, e pelos homens e mulheres detentos nos Centros de Recuperação Carcerária, que participaram do projeto. 

Em “A vida no Cárcere”, realizado no Centro de Recuperação Feminino, as internas falam sobre seu cotidiano dentro do presídio e o que percebem de diferente sobre a vida depois que são reclusas em suas celas. No curta “Ressocializar: É preciso?”, os internos também falam de sua realidade, do dia a dia, de seus anseios.

Os participantes da oficina do Guamá abordam a urbanização do bairro e o preconceito que sofrem. Eles dizem que quando vão procurar emprego são logo tratados como marginais. E sobre isso surge no documentário uma paródia desses programas policiais sensacionalistas em evidencia na televisão brasileira, que geralmente tratam as pessoas que moram na periferia como bandidos. 

Oficina do Guamá
Já os alunos da escola da Marambaia resolveram fazer diferente e produziram uma ficção. Eles tratam a questão do bullying dentro da escola, com uma visão bem realista do problema. 

Estes são os primeiros filmes realizados pelo Cine Periferia Pai D´égua que vem, desde o ano passado, realizando sessões itinerantes de cinema.

Na programação, filmes que discutem a problemática e a realidade nas periferias das cidades. No ano passado, por exemplo, o 1º Cine Periferia, além de começar a realizar as oficinas que tiveram como resultados estes quatro filme inéditos, levou também a crianças, adolescentes e adultos filmes como “5xFavela – Agora por nós mesmos”, “Quem faz a minha moda sou eu” e “Favela no Ar”, documentários que retratam a vida nas comunidades. As sessões passaram por centros comunitários e escolas de Belém, e ainda ao Olympia, só que não eram lançamentos. 

As oficinas audiovisuais atenderam ao todo 80 pessoas, sendo 20 alunos em cada turma. Na sessão que dá início ao 2º Cine Periferia quase todos eles e seus familiares estarão presentes, incluindo as famílias dos internos e das internas. Alguns dos detentos (as), aliás, estarão presentes na sessão, mediante negociações feitas entre os dirigentes do projeto e o sistema penal. 

Filmando na Marambaia
 Elrik Lima, minitsrante das oficinas, assim como toda a equipe do Cine Periferia, acreditam que através do cinema é possível ressocializar.

 “Isso fica bem claro em uma das falas de um dos detentos. Eles mostram todas as oportunidades dentro do cárcere e fazem o contra ponto com a liberdade, onde nenhuma oportunidade de formação, emprego e renda lhes foi dada”, afirma Elrik.

Para a coordenadora da Cufa Pará, Aline Machado, os três curtas documentários e o de ficção são exatamente aquilo que é o mote principal do projeto. “É a periferia falando de sua realidade, falando o que pensa, mostrando como vive. Dessa vez somos nós que dizemos quem somos e a que viemos. Dessa forma não precisamos que estudiosos, antropólogos, psicólogos venham nos dizer quem somos. Se tivermos instrumentos para mostrar a nós mesmos, fazemos as nossas reflexões e buscamos uma melhora na nossa qualidade de vida”, aponta a coordenadora. 

Além de Aline Machado, e de Elrik, a Cufa Pará tem ainda em sua equipe Victor Pamplona, na coordenação de produção e Márcia Lima, na Comunicação. Elrik Lima é quem assume a área do audiovisual. Saiba mais no blog da entidade www.cufapara.blogspot.com

Serviço
Lançamento dos filmes do Cine Periferia Pai D’Égua. Nesta quinta-feira, 31, às 19h, no Cine Olympia – Av. Presidente Vargas. Entrada franca. Mais informações: 91 83001636 / 9289 8703.

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