9.5.12

Livro de Paulo Scott ganha lançamento em Belém

Habitante Irreal é o mais novo romance de Paulo Scott,  escritor considerado um dos mestres da literatura contemporânea brasileira. A obra, realizada com patrocínio da Bolsa Petrobras de Criação Literária, será lançada em Belém, nesta quinta-feira, a partir das 20h, na Livraria Saraiva, no Boulevard Shopping, com participação dos escritores paraenses Karina Jucá e de Caco Ishak.

“Habitante irreal” representa um salto na carreira de Scott, 45 anos, escritor gaúcho radicado no Rio de Janeiro. A trama se passa em Porto Alegre nos anos 1980, após o fim da ditadura.  O leitor acomapnha a trajetória do militante Paulo, que se desilude com o Partido dos Trabalhadores e com a política estudantil. Abaixo segue a entrevista excluiva enviada por Caco Ishak ao Holofote Virtual. 

Caco Ishak: Já se disse em algum canto que o Brasil seria o novo celeiro da literatura mundial, com Cuenca, Galera e Nazarian despontando nas trincheiras. O que teria nos levado ao posto? Por que tão tardiamente? Ou Lispector, Leminski, os modernistas não eram páreos à novíssima literatura brasileira? 

Paulo Scott: Bem. Há nomes recentes, uma nova geração de brasileiros e portugueses e angolanos por aí, talvez com a sorte de um mundo mais ágil na troca de informação, com a língua espanhola superando a inglesa em quantidade de pessoas falantes (e com um crescente interesse dos leitores do espanhol pelo português) e também com essa súbita importância do Brasil no contexto econômico internacional. Não tenho uma explicação exata.

Caco Ishak: Embora sutil, Habitante Irreal vislumbra o período pós-transição ditadura / democracia. Tua trajetória pessoal foi, até certo ponto, contrária à do Paulo fictício, no que diz respeito ao direito e à própria política. Quais foram tuas desilusões? 

Paulo Scott: Minha trajetória é absolutamente diferente da vivida pelo Paulo do livro. Há cenários parecidos, momentos históricos parecidos, mas não posso afirmar que fui tão idealista ou ingênuo.  Minhas desilusões dizem respeito a mim mesmo e ao que, mais ou menos consciente, se deixou levar pela arrogância de uma geração que jurou não repetir os mesmos erros das gerações anteriores. 

No fim das contas, vejo que há evolução, no entanto não será a minha geração a salvar o mundo e acabar com as suas injustiças; pelo contrário, fomos a geração que provou: o homem não é bom. 

Caco Ishak: Ainda vivemos esse período de transição? De um lado, hipsters e sua ironia apolítica. Do outro, movimentos como o Fora do Eixo. Quais posições esses jovens estarão assumindo daqui a quinze anos, baseado no que viste da tua própria geração?

Paulo Scott: Sim; sobretudo se trabalharmos com a ideia de bem-estar e desenvolvimento econômico, fatores que têm relação direta com a qualidade da educação escolar oferecida.

A maioria cansará e se tornará mais conservadora; são os que tratarão das suas próprias vidas. Alguns enlouquecerão ou cometerão suicídio. 

Outros se conformarão, mas manterão a pose artística. Possivelmente alguém entrará para a história. E haverá os que encontrarão um jeito de tirar proveito da política. É claro que não tenho bola de cristal e estou apenas ironizando a partir do tema “O girar da roda”. 

Caco Ishak: Deixaste três (ou duas?) versões do romance pra trás antes de chegar na que seria a final. Qual era o papel do índio nelas? 

Paulo Scott: Donato sempre foi a esperança de redenção (que é um dos traços fortes da natureza humana); o que mudou apenas foi a intensidade da sua loucura. Esse personagem era bem mais louco nas versões anteriores (posso dizer que, até chegar à versão que acabou sendo publicada, nos domesticamos um pouco). 

Caco Ishak: Quanto de Paulo e quanto de Henrique existe no Scott? Como foi tua infância? 

Paulo Scott: Sou de uma família bem estruturada, tive uma infância feliz, mas não fui uma criança feliz; há muitas explicações possíveis, é difícil explicar numa entrevista. 

De certa forma, a literatura é um dos meus modos angustiantes, e angustiados, de acertar contas com aquela tristeza, com aquele desajuste (sigo dependente e escravizado por aquele modo de olhar o mundo); sei lá, melhor parar por aqui.

Caco Ishak: E os dias em Londres, amadureceram o escritor em qual sentido (rumo)?

Paulo Scott: Amadureceram o poeta. A liberdade que experimentei morando lá (o contraste com a opressão ainda visível no Brasil) trouxe uma noção mais clara das limitações da existência e aguçou meu temperamento melancólico e, embora pareça um paradoxo, minha raiva crônica. 

Caco Ishak: Sair pra viver de literatura é dos conselhos mais recomendáveis? Qual foi tua necessidade? 

Paulo Scott: Não sirvo de exemplo a ninguém. Achei apenas que seria um idiota se não fizesse essa opção. O que posso dizer é que a história ainda não chegou ao fim: é muito difícil viver no Rio e pagar as contas e despesas vivendo apenas da própria ficção. 

Caco Ishak: Aonde Ithaca Road te levou? O que os leitores encontrarão nessa nova estrada, livro adentro? Previsão de lançamento?

Paulo Scott: Nunca estive tão sem o chão debaixo dos pés como nesta conclusão do Ithaca Road. É basicamente a história de Narelle, uma neozelandesa de vinte e nove anos com psoríase que acaba protagonizando a história. Às vezes, ela fala comigo. Noutras vezes, sei que nem ela escolhe, simplesmente se cala. Não há previsão de lançamento.

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