17.7.12

Olho D'Água circula com espetáculo premiado

Vindo de Santarém, no Oeste do Pará, o grupo Olho D´Água está novamente em Belém para apresentar o premiadíssimo “’As Bondosas’ Mulheres Chordeiras”, nesta quarta-feira, 18, no Teatro Maria Sylvia Nunes - Estação das Docas - às 20h. A entrada custa 2 kg de alimentos não perecíveis. Recomendado para maiores de 14 anos, o espetáculo foi mais uma vez premiado, desta vez, contemplado com o Prêmio Funarte Myriam Muniz de Teatro para circular pelo país.

O grupo ganhou o Prêmio de Teatro Myriam Muniz da Funarte, na categoria circulação, mas a verdade é que desde que o espetáuculo estreou em 2005, já esteve em várias cidades, participando de festivais e eventos teatrais, entre eles, o II Festival de Teatro da Amazônia, realizado em Manaus, no mesmo ano de sua estreia, e já saiu dali premiado - Melhor Espetáculo (Júri Oficial), Melhor Ator (Adriano Feitosa) e Melhor Direção (Elizangila Dezincourt).

O grupo foi inicialmente formado por Tamara Saré, Clodoaldo Corrêa, Rosinaldo Garcia, Amilton Matsunaga, todos fotógrafos que também faziam parte do Olho D’água Produções de imagens, agregando a eles Elder Aguiar e Elizangila Dezincourt, que iniciaram um trabalho na área teatral. Em 2002 montaram o primeiro espetáculo “As Dez Mais Do Córtez Cerebral”, uma comédia pastelão em um ato, seguido pelas “’As Bondosas’ Mulheres Choradeiras” e ainda “Contos, Cantos e Encantos Tapajônicos”.

Comédia de costumes - As Bondosas Mulheres Choradeiras é baseado no texto do ator, diretor, dramaturgo e produtor maranhense Ueliton Ronton. 

A história se passa no velório de uma aristocrata chamada Tereza e mostra na trama, as situações vividas pelas personagens Astúcia, Prudência e Angústia, três carpideiras, que traduzem sentimentos individuais universais do ser humano.

O espetáculo tem duração de 80 minutos e discute o mundo sob o ponto de vista das choradeiras que, interpretada por atores, fazem uma caricatura do feminino em favor da Sátira à hipocrisia, discutindo o mundo sob a ótica das questões existencialistas que atormentam a humanidade.

Os integrantes do grupo Olho D'águagua conheceram o trabalho de Rocon em 2004, ao participar da Mostra de Artes do Cariri, no Ceará. Na mostra, o grupo santareno apresentou seu primeiro espetáculo e assistiu a montagem de “As Bondosas”, encenado pela Cia. Lua, dirigida por Ueliton Rocon. Foi o início de um intercâmbio que resultou na montagem do Olho D’água.

No ano seguinte, o espetáculo foi apresentado no mesmo local. “O teatro ficou lotado. As pessoas já conheciam a montagem do Rocon e queriam ver como ficou a nossa versão”, lembra Elder Aguiar, produtor do GRUPO Olho D’Água, que bateu um papo com o Holofote Virtual.

Holofote Virtual: Pelo que li à respeito no portfólio de vocêss, o espetáculo foi montado pela primeira vez em 2006. É isso mesmo? Como surgiu o projeto de montagem?

Elder Aguiar: Fomos selecionados pelo SESC – Crato no Ceará para participar da IV Mostra de Artes que acontece no Cariri. Fomos com o espetáculo “As Dez Mais do Córtex Cerebral”, onde nos apresentamos num circuito chamado Over12 de Teatro que consiste em 12 horas de apresentações ininterruptas nos mais variados espaços do SESC. Antes da nossa apresentação, assistimos a este espetáculo com o título de “As Bondosas” e foi paixão a primeira vista, conversamos com o autor – Ueliton Rocon e em seguida já estávamos trabalhando nele. 

Holofote Virtual: Exato. O atual espetáculo foi baseado no texto do Ueliton Roncon, mas vocês deram um enfoque diferente e um toque mais do próprio grupo. Quais as diferenças? 

Elder Aguiar: Sim! Na montagem, o próprio autor fala que seu espetáculo tem característica de um teatro que ele denomina de Claustrófobo, um teatro mais “sombrio”, fechado com uma luz bem focada. Um figurino feito com pano de rede. Enquanto direção, no trabalho dos atores a Elizangila, se procurou um novo ritmo para o espetáculo, uma nova pulsação, com um tempo de comédia diferenciado.

Já no nosso figurino, buscamos algo que remetesse a nossa realidade. Foi quando surgiu a ideia de utilizar algo parecido com o figurino que a Saraipora (personagem da Festa do Sairé) usou no ano de 1986, iguais no modelo, porém, diferente nas estampas. Nossa luz é mais aberta, mais chapada no palco e também focamos muito na questão da linguagem, adicionando ao texto, expressões da mais regionalistas. 

Holofote Virtual: Houve algum tipo de investigação sobre estas mulheres carpideiras, que costumavam chorar nos velórios? O que o espetáculo traz da pesquisa? 

Elder Aguiar: A montagem tem um de seus eixos centrais a visão de mundo que essas carpideiras tem, assim, precisávamos retratar prática de trabalho que elas desenvolviam, foi difícil, mas conseguimos encontrar uma em Santarém, onde pudemos entrevistá-la e perceber como era o seu ofício, a partir daí ficou mais fácil transformar essa prática em linguagem teatral. 

Holofote Virtual: Em 2011, vocês ganharam o Prêmio Myriam Muniz de Circulação. Para onde vão ainda e onde já estiveram?

Elder Aguiar: O projeto consiste em 11 apresentações, em 04 Estados do eixo Norte-Nordeste. Começamos pelo Estado do Maranhão, onde fizemos São Luiz, Santa Inês e Imperatriz. No Pará faremos Belém, Castanhal e Ananindeua. Vamos também para Amazonas, em Parintins, Itacoatiara e Manaus. Finalmente em Roraima, vamos estar Caracaraí e Boa Vista, mas não podemos deixar de apresentar em Santarém, onde encerraremos o projeto. 

Holofote Virtual: O espetáculo já foi mostrado aqui em Belém, no Teatro Gasômetro, em 2006. Há alguma novidade de lá pra cá dentro da montagem?

Elder Aguiar: Sim! A novidade além do figurino novo é o elenco que mudou com a entrada dos atores Ádrio Denner e Braz Filho com os personagens Prudência e Angústia, respectivamente, mudando completamente a cara do trabalho, comparando com as apresentações no Gasômetro. 

Holofote Virtual: O elenco trás vários fotógrafos, como é isso? (risos) 

Elder Aguiar: (risos) O único fotográfo profissional é o Ádrio Denner, que já expôs em várias universidades da cidade de Santarém, com projeto na área de fotografia, contemplado com bolsa do IAP 2011 e incentivado com a Lei Rouanet, na sua pesquisa intitulada Flâneur – Um Novo Olhar, mas todos os componentes fazem fotos sim, mas não de forma profissional. 

Holofote Virtual: Como é a produção de teatro em Santarém? As dificuldades de sempre em se produzir na Amazônia? Como é a cena teatral da cidade?

Elder Aguiar: Santarém tem em média uns 15 grupos de teatro, mas ativamente, apresentando sistematicamente, são pouquíssimos. Isso se dá realmente pela falta de incentivos principalmente do Governo que não tem política cultural para suprir a demanda da produção local, por isso grande maioria não apresenta seus trabalhos e acabam ficando mais no exercício do que propriamente na ação. Na Amazônia as dificuldades são imensas, haja vista que os custos são muito altos, além disso, estamos sentindo na pele a problemática da falta de espaços (teatros) para apresentar nosso trabalho.

Ficha Tècnica: Direção Geral, Figurino, Operação de Luz e Produção Executiva: Elizangila Dezincourt; Assistente de Produção: Kennedy Harilal; Ely Nunes; Maquiagem: O Grupo; Elenco: Prudência: Ádrio Denner; Angústia: Braz Filho; Astúcia: Elder Aguiar; Pesquisa musical: Levi Beltrão; Dramaturgia: Ueliton Rocon.

Serviço
Turnê das Bondosas Mulheres Choradeiras. Em Belém, nesta quarta-feira, 18 de julho, no Teatro Maria Sylvia Nunes, às 20h. Este Projeto foi contemplado com o Prêmio Funarte Myriam Muniz de Teatro. Apoio: Fundação Nacional de Artes – Funarte, Ministério da Cultura, Governo Federal, Brasil país rico é país sem pobreza, SESC – Pará, SECULT. A entrada custa 2 kg de alimentos não perecíveis.

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