1.12.15

Comunidade Riacho Doce inspira teatro paraense

"Zeca de Uma Cesta Só", encenado pelo Grupo de Teatro Universidade Federal do Pará (GTU-UFPA), será apresentado no dia 05 de dezembro, às 19h, na comunidade Riacho Doce. O espetáculo, com direção de Rodrigo Pimentel e Léo Ferreira, já foi mostrado também no Festival Estudantil de Teatro (FETO), realizado em Belo Horizonte, onde recebeu o prêmio de Menção Honrosa. Em parceria com o LACOR-UFPA, serão realizadas também, de  09 a 11 de dezembro, oficinas gratuitas para jovens e adolescentes do Riacho Doce.

A peça é inspirada no dia a dia a comunidade do Riacho Doce. Em cena, o espetáculo mostra uma empregada doméstica moradora da comunidade e as peripécias que ela tem que fazer para conseguir sobreviver em uma sociedade desigual e excludente. Toda a trama tem como fio condutor um sábado pela manhã, no qual foram doadas cestas básicas a moradores da comunidade.

A doação de cestas básicas, ponto de partida da trama, aconteceu realmente e se deu em dezembro de 2013. Foi registrada em vídeo por Léo Ferreira, um dos diretores da peça, aluno do curso de licenciatura em Teatro, da Escola de Teatro e Dança (ETDUFPA) e morador da comunidade há 20 anos. Com a noção de responsabilidade social que o teatro possui, além de levar aos palcos a vida dos moradores do Riacho Doce, Zeca de Uma Cesta só, arrecadou, durante 2014, alimentos não perecíveis que se transformaram em cestas básicas que atenderam 60 famílias carentes da comunidade.

A estrutura baseada em um teatro crítico social, de cunho marxista, toma por orientação o Teatro do Oprimido de Augusto Boal e o Teatro didático de Bertold Brecht, importantes pensadores e encenadores desta arte dos palcos. O elenco é formado, em sua maioria, por jovens atores e atrizes, grande parte, alunos dos diversos cursos da ETDUFPA, e, quase todos moradores da periferia de Belém. 

A estreia  em 2014 foi fruto do Projeto Novos Encenadores, desenvolvido pela ETDUFPA e coordenado pelas professoras-doutoras Wlad Lima e Olinda Charone e também pelo professor Paulo de Tarso. Já em suas primeiras apresentações a resposta do público foi bastante positiva, credenciando o espetáculo a voltar a cartaz outras vezes e ganhar prêmios da UFPA, observações atentas da crítica especializada e, por ultimo, o prêmio nacional recebido em Belo Horizonte, durante o FETO.

O sucesso deve-se a duas coisas: ao mergulho e disponibilidade de cada pessoa ligada a ele, e por fato mostrar, de maneira muito simples e reveladora, o dia a dia das periferias brasileiras. 

O espetáculo ganha força ainda porque traz em seu elenco, atores, atrizes e técnicos que vivenciam este universo periférico. Os jovens diretores, por exemplo, moram em áreas muito pobres da periferia de Belém e trouxeram sua vivência para o enredo da trama. 

Léo Ferreira mora na comunidade do Riacho Doce e que presenciou as várias mudanças na área ao longo de 20 anos. O ator é paraense, formado em Licenciatura e Bacharelado em Geografia pela UFPA e mestre em Geografia também pela UFPA em sanduiche com a Universidade Federal Fluminense. Este conhecimento social e político herdado de sua formação como geógrafo fica bem latente na construção do espetáculo. Atualmente Léo Ferreira, curiosamente é aluno da graduação em Licenciatura em Teatro da UFPA e também aluno da Especialização em EJA-ARTE-AMAZÔNIA, ofertada pela ETDUFPA.

“Eu não consigo ver o conhecimento de forma vertical, hierarquizada, por isso enfrentando todas as críticas que esta escolha me causou, resolvi mesmo sendo mestre, voltar a fazer graduação, pois vi na arte e no teatro uma chance de levar conhecimento e tocar as pessoas de maneira mais profunda e sensível...” , diz Léo.

Ele lembra que 2006, ano em que entrou na universidade, o único som de festa de vestibular que ouviu na comunidade foi o de sua aprovação, mas percebe que muito vem mudando de lá pra cá. "Hoje, passados 10 anos, quando sai o resultado do vestibular pipocam festas aqui no  Riacho Doce, então as coisas estão mudando, lentamente mas estão. E a universidade que antes levantava muros para se afastar da comunidade, agora tem que ampliar portas para o acesso de jovens historicamente marginalizados..”

Serviço
Zeca de Uma Cesta só. Dia 5 de dezembro, às 19h, na Comunidade do Riacho Doce (AV. Tucunduba / Quadra 10 ), no bairro do Guamá, em Belém.

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