17.12.15

Na retrospectiva do blog, um papo com Deia Brito

Em Londres, dois anos intensos
2015 iniciou com reencontros. Um deles reuniu a banda Solano Star, em Belém, depois de longa e tenebrosa espera dos fãs, por mais de 15 anos. Foi aí que reencontrei Deia Brito, paraense que há 22 anos reside em São Paulo, atuando como produtora de arte e, mais recentmente, como personal organizer. Feliz no circuito do cinema independente, em entrevista ao blog, ela conta que, além mergulhar na sétima arte, experimenta, principalmente, a vida.

Nascida em Belém, no bairro do Jurunas, em 1966, Deia Brito estudou Economia, na UFPA, mas logo larga o curso para ir  estudar em Londres. Era início dos anos 1990. Dois anos depois, volta a Belém, mas já não se readaptando, parte pra capital paulista. Em meio a isso ainda vai trabalhar numa pousada em Trancoso, na Bahia, para retornar a São Paulo, em 1995, quando a sétima arte a pega de jeito, traçando uma história que na verdade já havia começado em 1990, em Belém, quando é convidada para trabalhar como assistente de produção de catering em "Brincando nos Campos do Senhor", longa de Hector Babenco, realizado no Pará.

Depois disso, Deia Brito não parou mais, trazendo atualmente no currículo, vinte e sete longas metragens, oito curtas, cinco minisséries - a mais recente se chama PSI, exibida pela HBO -, além de vários filmes publicitários, em sua carreira. Trabalhando principalmente com produção de arte, fez em 1995, "A Loura Incendiária", de Mauro Lima. Em 1996, "Alô!", de Mara Mourão, em 1997, fez "A Hora Mágica", de Guilherme de Almeida Prado e em 1998, "Através da Janela", de Tata Amaral e "Dois Córregos", de Carlos Reichenbach.  Neste momento Deia já tinha certeza que sua escolha havia sido certeira. Em 1999, fez "Domésticas", do badalado Fernando Meirelles e Nando Olival.

 Equipe de "Que horas ela volta?", de Ana Muylaert
No inicio dos anos 2000, ela estava na equipe de "Bicho de 7 cabeças", a primeira experiência com Laís Bodansky, e  "Bellini e a Esfinge", de Roberto Santucci. Em 2001, fez “Desmundo", de Alain Fresnot e em 2002, "Quando 2 corações se encontram", de José Roberto Torero, e "Meteoro", de Diego De La Texera. No ano de 2003 realizou "Bens Confiscados", do grande e saudoso Carlos Reichenbach, em 2004,  "Crime Delicado", de Beto Brant e em 2005, "A Casa de Alice", de Chico Teixeira.

Entre outros filmes, Deia também fez, em 2006, filmes que circularam nos cinemas do país, como "Mutum", de Sandra Kogut e "Chega de Saudade", de Laís Bodansky. Em 2009, fez "Vips", de Toniko Melo, em 2010 teve o prazer de trabalhar com Cao Hamburguer, em " Xingú", em 2011, "A Busca", de Luciano Moura e "Hoje", mais uma vez com Tata Amaral. Em 2012 realizou "Fios de Ovos", com direção de Matias Mariani, em 2013, "Ausência", novamente com Chico Teixeira e ainda "Super Crô", de Bruno Barreto. 

"Desculpe o transtorno" – direção Tomaz Portela, "Campo Grande", de Sandra Kogut e "Que horas ela volta?", de Ana Muylaert foram os mais recentes, realizados em 2014, com lançamento e circulação em festivais em 2015.  

Embora a vida seja corrida e cheia de trabalho em São Paulo, Deia Brito está sempre por Belém, nunca a trabalho, pois talvez o ‘mercado’ audiovisual paraense desconheça sua experiência. Ela vem a passeio, para rever a família, os amigos e, mais recentemente, para encontrar o namorado, o designer e ilustrador Branco Medeiros. Num desses retornos, ela bateu um papo com o blog e falou sobre sua trajetória, sobre o amor pela cidade das mangueiras e planos futuros. 

Em Belém do Pará, família, passeio e namoro
Holofote Virtual: Já são mais de 20 anos morando em São Paulo, o que lembras dos tempos em estavas em Belém?

Deia Brito: O meu envolvimento com Belém na minha fase adulta era elétrico, com muitas festas, namoros, viagens e amigos. Eu vivi essa fase de Belém com muito prazer! Entrei na faculdade de Economia da UFPa, em 1984, mas não me formei, saí antes, o curso não me interessou.  Comecei a trabalhar com produção de campanha política da extinta De Campos. 

Aprendi a trabalhar com produção com meu amigo querido que se foi, o Antar Rohit, com ele aprendi como fazia, agendava, organizava todo o processo de produção e montagem das exposições dos trabalhos dele, isso tudo regado à tapioquinha com café na Feira do Açaí, ali no Ver-o-Peso, e ouvindo músicas da Nana Caymmi, quando finalizávamos o dia.

Holofote Virtual: E continuas com muitas ligações por aqui...

Deia Brito: Tento vir uma vez ao ano, principalmente na época do Círio, que encontro com todo mundo os que não moram em Belém inclusive, e reunir a família para o nosso natal paraense. Tenho alguns amigos que são muito importantes, e que quando ponho o pé em Belém, quero vê-los imediatamente.

Guardo ainda a minha visão romântica da minha cidade, quando se podia andar a pé pelas ruas, colhendo uma florzinha de jasmim e levar para casa para colocar no copo de água. E faz um ano que tenho um namorado lindo, o Branco (que você bem conhece), o que me fez estreitar ainda mais a minha relação com a cidade, retomei amizades que não via há tempos e conheci outros amigos dele.

Bastidores de "Ausência"
Holofote Virtual: Como foi a decisão de ir morar em São Paulo?

Deia Brito: Eu tinha voltado para o Brasil há 4 meses, em 1992, não estava mais conseguindo morar em Belém, depois de tanto tempo em Londres, cidade cheia de diversidade, cidade louca, pessoas, assuntos, cultura no respirar, não estava sendo fácil me adaptar em Belém novamente, foi quando rolou uma carona de um amigo paulista que estava voltando de carro para SP e queria uma companhia, não queria viajar só, eu fiquei sabendo e vim com ele.

Holofote Virtual: Fala mais dessa tua trajetória no cinema... 

Deia Brito: Quando fui morar em Londres, fiz alguns cursos de figurino para trabalhar com cinema, mas quando cheguei em São Paulo, apareceu assistência de montagem de cenário, eu fui, e nunca mais saí. Nunca exerci esse meu aprendizado londrino, só no meu jeito de vestir. Adoro montar figurinos, adoro me vestir com roupas diferentes.

A partir desse momento fiz muitos filmes publicitários e ao longo do processo fui entrando no mercado do longa metragem, meu primeiro longa foi um filme chamado "Alô!", da Mara Mourão, diretora paulista, mas não fez muito sucesso, e depois vieram "A Hora Mágica", do Guilherme de Almeida Prado, "Através da Janela", da Tata Amaral, fiz dela também "Hoje", que é mais recente, "Bicho de 7 cabeças", da Lais Bodansky.  Te envio a lista dos filmes em tempo cronológico...

Equipe de "A Busca"
Holofote Virtual: A experiência em Londres então que te trouxe a esta nova experiência como Personal Organizer, como funciona isso?

Deia Brito: É uma vontade de muito tempo, que agora influenciada por uma amiga, resolvi encarar como outra atividade. Eu sou uma ótima organizadora, todos os meus armários são super organizados, por cor, por estilo de roupa. Andei arrumando a casa de algumas amigas e todas ficaram bem felizes, na casa de uma delas, montei tudo, organizei os móveis da sala, dos quartos a cozinha, gavetas, utensílios... Então resolvi assumir isso como outra atividade conciliadora dos meus projetos de filmes.

Holofote Virtual: Em 1997, lembro que esbarrei contigo no metrô contigo. Naquela época você já estava atuando em cinema e apaixonada por São Paulo... 

Déia Brito:  Eu amo São Paulo, eu gosto dessa vida civilizada, que posso sair a hora que eu quiser e vai ter um lugar aberto, que vai me atender, que o atendente vai ser gentil, sabe... Eu sou pedestre, não tenho carro, não dirijo, então ando muito de metrô, ônibus, a pé, e sempre faço tudo de boa, tranquilo, claro que evito os horários mais cheios, porque a cidade realmente tem muita gente! É um caos organizado que eu gosto muito!

Em 1997, eu já tinha voltado de Trancoso, e estava novamente trabalhando com produção de objetos em publicidade e longas metragens nacionais, eu já estava adaptada na cidade, mas às vezes me dava aquela vontade de voltar. São Paulo é incrível, te recebe, te abre as portas, mas ela é dura, às vezes te vira a cara, e nesses momentos, que vontade que dá de sentar na beira do rio e tomar um sorvete de cupuaçu.

Em campo, na  minissérie "Alice'
Holofote Virtual: Quais os maiores desafios da tua profissão?

Deia Brito: O maior desafio é o tempo! Tempo para dar tudo certo! Principalmente na fase da filmagem, é muita gente envolvida, dinheiro, nada pode dar errado, nunca! Faço cronogramas, equipes para montagem, horários, e tem que dar tudo certo e tudo muito bem feito para aquilo que o roteiro está sendo pedido. 

E tudo isso tem de caber dentro de um orçamento que às vezes nem é o adequado. Os orçamentos de filmes no Brasil são sempre no limite, então os filmes são uma forma de superação, fazer caber a arte que o diretor pede dentro do orçamento que nos foi dado e dar certo, é sempre uma superação! 

Holofote Virtual: Alguma nova produção, quais os planos?

Déia Brito: Esse ano não mais, só ano que vem. Quanto aos planos, no lado profissional quero continuar trabalhando, dar aulas para quem está querendo aprender o conhecimento de produção para cinema, investir nesse novo projeto, continuar fazendo filmes, porque eu amo trabalhar com cinema! E na vida pessoal, criar o filho, namorar o amor, viajar, viver e ser feliz, cultivando as amizades que são importantes e continuar mantendo os valores bons, ser uma pessoa boa.

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