Este é o 13º festival, edição que inaugura o formato de uma itinerância que além da Amazônia tem pretensões de chegar também à América Latina, em um futuro próximo. Por enquanto, além de passar por Belém, o festival ainda seguirá para mais três municípios paraenses: Xinguara, Marabá e Parauapebas, numa iniciativa desafiadora.
O festival reúne grupos do teatro de rua dos nove estados que integram a Amazônia Legal: Pará, Rondônia, Roraima, Amazonas, Mato Grosso, Acre, Amapá, Maranhão e Tocantins. Desde seu surgimento, o evento mantém as suas três principais metas: oferecer espetáculos de teatro, circo e dança; ações formativas e ciclos de debates. Além dos grupos amazônidas, também há espetáculos convidados, este ano vindos do Rio de Janeiro e do Distrito Federal.
A edição tem patrocínio do Instituto Cultural Vale, com realização da Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal. A iniciativa é do O Imaginário, fundado em 2005 com o objetivo de pesquisar e investigar as diversas linguagens artísticas. Em seus trabalhos, discute a relação entre o público, o teatro e a cidade.
“O primeiro grande foco é fazer com que esses grupos de teatro da Amazônia Legal possam, uma vez ao ano, se encontrar, pra discutir as questões relacionadas a estética, e toda sua forma de conteúdo”, diz Chicão Santos, artista, professor e militante cultural, que criou e coordena o festival.
Nascido na cidade de Cacoal, no interior de Rondônia, Chicão Santos é palhaço, diretor e produtor teatral, que se mudou em 1995 para a capital Porto Velho, onde deu continuidade a suas atividades artísticas, que sempre dialogaram em transversalidades, tendo o teatro como elemento condutor de transformação pessoal, social e cultural. Em 2005, ao funda O Imaginário, ampliando seu alcance e criando os embriões e alicerces para o Amazônia Encena na Rua .
Na entrevista a seguir, ele, que só chega na semana que vem a Belém, nos conta mais sobre o surgimento do festival e suas missões, desafios e expectativas, afinal é um retorno às ruas, após dois anos de clausura pandêmica. O clima é de celebração, expectativas pelo encontro, que de certo será de muita troca cultural. Confira!
Chicão Santos em ação (Porto Velho-RO) Foto: Reprodução, Internet |
Chicão Santos: Foi em 2007, quando estive na Bahia e participei da criação do movimento brasileiro de teatro de rua, foi quando tive clareza de que deveria realizar um festival de teatro em Porto Velho, onde não havia nenhum.
A gente circulava já por outros festivais da Amazônia, como no Acre, em Manaus, e em Belém e a ausência de um festival em Porto Velho foi ficando cada vez mais evidente. Então quando retornei da Bahia, a Caixa tinha lançado um edital para premiar festivais. Inscrevemos o projeto e fomos contemplados.
O primeiro festival aconteceu em 2008, com baixo orçamento, trazendo grupos para Porto Velho (RO), vindos do Acre, Roraima e Amazonas, além da participação de Narciso Telles, ator, diretor e professor atualmente do curso de teatro da UFU (Uberlândia-MG), mas na época ele ainda morava no Rio. Fizemos a programação durante uma semana, e no final de semana fizemos cinco rodas de apresentação em praça pública e em cada uma tinham pelo menos 800 pessoas, foi uma coisa linda.
Holofote Virtual: E já são 13 edições com esta. Nesse percurso todo, como esse festival te atravessa e como se cruza com a sua própria trajetória?
Eu coordenei também um projeto chamado Escola Aberta, onde a gente reunia as comunidades nas escolas, dando oficinas. Era um lugar de muitas atividades em todos os lugares, também fazendo caravanas pelos rios e na BR, sempre discutindo essas questões. Então na minha trajetória, o festival passa por esse lugar da popularização do teatro, da inclusão, da promoção do acesso às pessoas tudo oferecido gratuitamente.
Holofote Virtual: Como surge a ideia de tornar este projeto itinerante?
Se deixar, ela canta (Circo, Amapá)) Foto: Divulgação |
Além do mais, Belém é muito importante para Amazônia. Sempre é desafiador e muito difícil organizar eventos em qualquer cidade do Brasil. E lógico que quando saímos do lugar da gente, os desafios aumentam, pois precisamos estabelecer novas relações com fornecedores, parcerias, grupos, setor público, além do próprio público e coletivos da cidade, mas a gente tem tido boa receptividade e temos estabelecido ótimas conexões.
Holofote Virtual: Quais são as expectativas de vocês com Belém?
Chicão Santos: Nossa expectativa é aprofundar nossa relação com a cidade de Belém, tão importante para toda a Amazônia. Queremos estabelecer vínculos com a cultura, tenho muitos amigos aí em Belém. Vamos ter com certeza uma troca muito legal e isso acaba tornando menores os desafios. Esperamos que as pessoas participem e partilhem suas experiência.
Sodade (Dança, Amazonas) Foto: Divulgação |
Chicão Santos: Temos várias frente de trabalho, em Belém. A Praça da República será a arena principal, onde haverá as apresentações noturnas, no anfiteatro. Durante o dia vamos fazer o bate volta em escolas e comunidade, com os grupos que vão fazer apresentações, e também teremos três oficinas, uma delas dentro de escolas e outra na Praça da Republica, além do IV Seminário Amazônico de
Teatro de Rua, que fecha a parte formativa, trazendo o debate sobre as políticas públicas voltadas às artes cênicas.
Depois iremos para Xinguara, Parauapebas e Marabá. Estamos levando três espetáculos e uma oficina; e também estamos fazendo registro audiovisual para gerar um documentário sobre todas essas questões do festival. Vamos enfrentando as distancia e celebrando as conexões.
Fashion Fake (Pará) Foto: Carol Abreu |
Chicão Santos: Nós temos trabalhado ao máximo para dissolver essa visão de que nos somos periferia do país ou que nos somos o patinho feio, excluídos do processo. É bom lembrar que nós representamos 74% do território nacional, então nós estamos mais para ser o teatro brasileiro, acaso isso fosse calculado pela territorialidade.
Anos atrás isso passava despercebido, porque RJ e SP dominavam todo o tipo de teatro, uma cultura que vinha desde o Império, mas depois da criação da Rede Brasileira de Teatro de Rua e da Rede Teatro da Floresta a gente conseguiu demarcar muitas estratégias e questões no cenário nacional. O teatro está numa efervescência, voltando às ruas, ocupando os espaços. A gente vai fazer com que esse teatro cresça e conquiste mais espaços pra gente falar da nossa cena, trazer esses temas da transformação do ser humano, da sociedade dos lugares da cidade.
Holofote Virtual: A itinerância já vinha sendo gestada. E porque resolveram iniciar por Belém?
Chicão Santos: Por conta das nossas conexões, foi fácil escolher por onde começar. Belém é a capital que foi porta de entrada para a ocupação também do nosso estado (Rondônia), trazendo os navios, barcos e os trabalhadores pra construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, uma obra civil da maior importância em todos os tempos, e que possibilitou a formação da sociedade rondoniense, então esse vinculo com Belém, pela água nos torna bastante próximos e também com certeza temos que celebrar isso. É como a gente estivesse devolvendo algo à cidade de Belém. Estamos muito felizes e contentes com a realização do projeto. E este ano será um divisor de águas, queremos celebrar com os coletivos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário