1.8.23

Bienal das Amazônias abre para o público na sexta

Mais de 120 artistas e coletivos de oito países da Pan Amazônia, além da Guiana Francesa vão ocupar um espaço de 7,6 mil metros quadrados localizado no centro comercial, na R.  Manoeal Barata, em Belém do Pará. Em sua primeira edição, a Bienal das Amazônias tem como tema “Bubuia: Águas como Fonte de Imaginações e Desejos”. A abertura é nesta sexta, 4, e a mostra seguirá aberta ao público até novembro. 

Durante três meses, o público vai conhecer um tanto da produção da arte na Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela, Suriname, Guiana, Guiana Francesa e Brasil (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão, para além de outros estados brasileiros), unidades de um todo, da Pan-Amazônia.

Tudo isso em um espaço inusitado, recriado no centro comercial de Belém. Onde já foi a maior loja de departamentos de seu tempo, com quatros pavimentos e 7,6 mil metros quadrados, agora se torna um lugar que abriga e dá acesso à arte.  A escolha foge dos habituais museus e galerias e traz o foco aos artistas das Amazônias, uma estratégia incorporada pela Bienal de romper com os “usuais” modos de fazer arte, considerando métodos, estética, materiais, espaços e narrativas. 

A expectativa é que a médio e longo prazo, a instituição possa fortalecer e dinamizar as metodologias amazônicas no que tange às produções simbólica e artística. Uma das metas é impulsionar o intercâmbio entre criadores e espectadores de todos os países e estados que compõem a região, bem como as demais regiões do mundo, em especial o Sul Global.  As atividades previstas para Belém e outras cidades da Amazônia Brasileira devem atender direta e indiretamente cerca de 300 mil pessoas até 2024.

Novo horizonte — Ao criar esse espaço de protagonismo das artes amazônicas, a Bienal quer se firmar como uma instituição de arte que nasce no Sul Global (América Latina) e potencializa o poder narrativo dos povos amazônicos, em muito invisibilizado ou tomado por terceiros. 

No entender da idealizadora da Bienal e diretora executiva, a produtora cultural Lívia Condurú, essas ações planejadas pela instituição geram “o deslocamento do debate sobre as artes, seu status quo e poderes de transformação econômica e social, que, historicamente, têm partido dos eixos dominantes do mercado das artes”.  

Lívia observa que, apesar da multiplicidade de realidades vividas nos estados e países que compõem a Amazônia Legal, “estamos habituados a assistir pessoas e projetos usando o nome da Amazônia de maneira rasa e irresponsável, cheia de conceitos como ‘sustentabilidade’, ‘carbono neutro’, ‘pulmão do planeta’ que pouco reverberam na realidade local”. 

Condurú defende que “é urgente que se enxergue as Amazônias para além do seu bioma. Não há floresta que se mantenha em pé, quando toda a sociedade que existe nela não é ouvida, não é ‘convidada’ a participar de maneira ativa do debate”. E esse debate também deve fazer parte das artes. 

Curadoria, dibubuísmo e homenagem

Foto de Elza Lima, artista homenageada por seus
40 anos de trajetória na fotografia.

A temática desta primeira edição, “Bubuia: Águas como Fonte de Imaginações e Desejos”, é inspirada na obra do poeta abaetetubense João de Jesus Paes Loureiro, que defende o conceito do “dibubuísmo” amazônico, uma referência à relação estética e cultural entre as águas e os corpos que habitam esse território.  

A artista homenageada é a fotógrafa Elza Lima, qu há 40 anos vem registrando as diferentes faces da região criando um mosaico tão diverso quanto o próprio cenário das imagens.  No mais, os artistas que comporão a mostra foram cuidadosamente selecionados com o intuito de assegurar a representatividade de todos os povos formadores da Pan-Amazônia, conforme explica a curadora Vânia Leal. 

“A lista foi construída olhando para uma Amazônia profunda, que tem a perspectiva de que não existe uma produção amazônica e sim um rizoma de multifacetadas individualidades. Olhar por este caminho traz um projeto de discussão sobre a Amazônia que leva em conta atores geopolíticos e suas pluralidades culturais. Meu olhar sobre os percursos curatoriais superou fronteiras legais com um compromisso com o contexto Amazônico”, ressalta. 

Já a curadora Keyna Eleison destaca o fato deas obras escolhidas refletirem histórias individuais e coletivas dos artistas, assim como percursos artísticos bastante diversos, o que, por si só, pode representar um convite interessante para o público.

“Vai ser possível observar como as particularidades das obras conversam entre si. Essa lista de artistas constrói vários movimentos nesse sentido, várias personalidades nesse lugar, então, ela não tem uma definição fixa, está no movimento em si. É uma forma complexa e muito sofisticada de imaginar uma coletividade de trabalhos a serem apresentados num espaço. Não só num espaço como numa cidade, como em todo um território, que não é só um simples território, mas um território marcado pela água”, analisa. 

A realização é da Bienal das Amazônias, Apneia Cultural, Ministério da Cultura, Governo Federal. Patrocínio Master: Instituto Cultural Vale. Patrocínio: Mercado Livre. Apoio do Governo do Estado do Pará,  Prefeitura de Belém e Fundação Cultural do Munícipio de Belém, Museu da UFPA, Universidade Federal do Pará, Fundação Amparo ao Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp) e Instituto Peabiru. Outros apoios ainda da Prosas, Eletrotransol Tecnologia, Jurunense Home Center e Design da Luz Iluminação e Projeto. 

Serviço

4 de agosto a 5 de novembro - aberto ao público, de terça a sexta, das 9h30 às 19h; aos sábados, das 11h às 20h, e aos domingos, das 11h às 18h. Projeto realizado por meio da Lei Rouanet de Incentivo Federal à Cultura. 

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