16.8.23

Videos abordam trabalho infantil e cultura do açaí

As problemáticas do trabalho infantil na cultura do açaí, leva ONG Rádio Margarida à produção de radionovelas e vídeos educativos de conscientização sobre o tema. O lançamento será no “Seminário de Prevenção e Combate ao Trabalho Infantil,  a ser realizado pelo Ministério Público do Trabalho e Procuradoria Regional do Trabalho da 8ª Região, nesta quinta-feira, 17, a partir das 9h, no auditório da Escola Municipal Eurídice Marques, em Igarapé-Miri. 

O Seminário vai receber os arte educadores e produtores dos materiais educativos, e pretende reunir representantes de entidades e profissionais que compõem o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente do Município de Igarapé-Miri, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Empresários da Cadeia Produtiva do Açaí. 

A programação conta com a mesa de abertura com autoridades além de um bate-papo com o público de como potencializar o uso dos materiais educativos no enfrentamento ao Trabalho Infantil. Haverá ainda a premiação dos alunos que participaram da seletiva do projeto “MPT na escola” e apresentações artísticas de Teatro e Teatro de Bonecos da Rádio Margarida.

As problemáticas do trabalho infantil na cultura do açaí são abordadas em materiais educativos audiovisuais, refletindo uma realidade enfrentada no município. Ao todo são 5 radionovelas, com temáticas do trabalho infantil em toda a cadeia produtiva do açaí, com objetivo de apoiar professores em sala de aula e os profissionais que atuam com crianças e adolescentes em secretarias públicas diversas,  na sensibilização e informação da população e principalmente as famílias dessas crianças sobre danos e riscos do trabalho infantil. 

Os vídeos trazem informações sobre as consequências da exploração da mão de obra infantil e as radionovelas também trazem soluções, mostrando quais são os benefícios e programas que o poder público municipal, estadual e federal que existem e são um direito da população de baixa renda.

“Nosso principal objetivo é sensibilizar e alertar para as consequências desse trabalho infantil. São várias situações, desde a subida com a peçonha até a própria venda. Nos vídeos educativos incluímos informações dos acidentes que tem chegado aos hospitais e também é interessante trabalhar tanto as radionovelas, quanto os vídeos nos próprios hospitais, para que eles façam a notificação dos casos que chegam”, diz Eugênia Melo, da Rádio Margarida.

Ela informa que muitas das vezes, as crianças e adolescentes quando se ferem mãos, quebram pé, a questão é tratada e notificada como acidente doméstico. "O certo é acidente no trabalho, já que nem acidente de trabalho é, uma vez que adolescentes de até 14 não devem trabalhar", afirma.

A Rádio Margarida já produz há algumas décadas esse materiais audiovisuais educativos, num trabalho instrumental que realiza com propriedade, falando de maneira adequada, com um linguajar simples objetivo para que a mensagem chegue corretamente e de forma delicada às pessoas. 

“Incluímos elementos culturais de cada região em que estamos tratando e também temos cuidados em relação aos temas que estão sendo abordados, exercitando aquilo que diz respeito ao nosso método de educação, que é a comunicação, o sentimento e ação transformadora”, diz Osmar Pancera, fundador da Rádio Margarida. 

Os materiais educativos audiovisuais vêm obtendo resultados positivos, segundo Pancera, pela aceitação e expansão usos locais, também em redes sociais, de maneira ampla. “Produzimos materiais específicos para fins específicos, como a informação e sensibilização ao trabalho infantil, também tratamos de violência doméstica, perigos da internet, direitos e respeitos de crianças, na primeira infˆncia e adolescentes. São ferramentas audiovisuais para falar e ajudar na abordagem educativa de assuntos importantes”, complementa.

Os materiais audiovisuais e sonoros produzidos pela Radio Margarida abordam o assunto do trabalho infantil e adolescente na colheita do açaí por meio de temáticas como cultura, questões socioeconômicas, a educação no contexto de colheita do açaí, além dos enfrentamento e a complexidade que envolve o Trabalho Infantil. Após o lançamento, o novo acervo estará disponíveis, no site da Ong e do MPT, para que as pessoas possam acessar de forma gratuita. 

O trabalho infantil na cultura do açaí

Igarapé-Miri , localizado geograficamente no Nordeste Paraense, na microrregião de Cametá, Baixo Tocantins, tem uma população estimada em 62.698 mil pessoas. Mais da metade dos habitantes residem na zona rural, onde também se concentra a produção de açaí, o chamado “ouro negro”, que torna o município, segundo dados do IBGE, referente à Pesquisa Agrícola Municipal (PAM-2020), o maior produtor mundial de açaí, com 420 mil toneladas, ou 28,0% da produção brasileira.  

O fruto tradicional da cultura alimentar paraense chega a movimentar cerca de R$ 1,57 bilhão da economia local (IBGE-2020). Além dos adultos, porém, crianças e adolescentes também acabam se envolvendo nesta cadeia produtiva, provocando a evasão escolar e problemas de saúde.  Os dados levaram a ONG Rádio Margarida a desenvolver no município, o projeto de Conscientização do Trabalho Infantil e Adolescente na Colheita do Açaí.

O projeto de Conscientização do Trabalho Infantil e Adolescente na Colheita do Açaí, realizado em parceria com o Ministério Público do Trabalho (MPT-PA) e com apoio da Secretaria Municipal de Educação de Igarapé-Mirim, possibilitou a produção de uma série de vídeos (docuficção) e radionovelas, que abordam as problemáticas envolvendo o trabalho infantil, com objetivo de conscientizar e trazer informações à população miriense sobre os prejuízos causados no pleno desenvolvimento de jovens e adolescentes que trabalham na cadeia produtiva da colheita do fruto. 

De acordo com entrevistas realizadas pela equipe do projeto, realizado pela Rádio Margarida no município, na época da safra do açaí, entre o mês de julho e o mês de outubro, um jovem pode lucrar cerca de 300 reais por dia ou em média até 9 mil reais por mês. Esse rendimento proporciona que um adolescente de apenas 16 anos, já consiga comprar um terreno de açaizal para plantar.

Essas crianças e adolescentes são do gênero masculino, que geralmente trabalham como peconheiros, que são aqueles que sobem diariamente nas palmeiras com a “peconha” (espécie de corda feita a partir de folhas do açaizeiro ou de sacas plásticas). Por serem crianças tem o corpo pequeno e mais leve, no momento de “apanhar” o açaí pode-se evitar a quebra das árvores, por isso, também que esses jovens são utilizados para a atividade.

Além da “peconha”, os instrumentos utilizados para o trabalho são os paneiros, rasas, facas e “terçados” (facões) e botas para se proteger de animais peçonhentos que vivem nas áreas de várzea. A utilização de armas brancas também proporciona um risco para aquela criança/adolescente durante a colheita. Muitas delas sofrem acidentes quando se desequilibram e caem durante a realização do trabalho.

Serviço

Lançamento dos Materiais Educativos da Rádio Margarida, no Seminário de Prevenção e Combate ao Trabalho Infantil. Dia 17 de agosto de 2023, às 9h, no auditório da Escola Municipal Eurídice Marques – Igarapé-Miri.

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