7.5.24

Conheça o Pavilhão Brasil na 60a Bienal de Veneza

Glicéria Tupinambá - Okará Assojobo 2024
Foto: Rafa Jacinto
Aberta no dia 20 de abril, a 60ª Exposição Internacional de Arte – La Biennale di Venezia, traz arte indígena no Pavilhão do Brasil, a mostra Ka’a Pûera. 

O Pavilhão Hãhãwpuá celebra a cultura indígena brasileira e desafia a visão convencional da identidade nacional, convidando os espectadores a uma jornada de reflexão e reconexão com as raízes profundas da terra e suas múltiplas narrativas.

Com a curadoria de Arissana Pataxó, Denilson Baniwa e Gustavo Caboco Wapichana, a mostra Ka’a Pûera traz como participantes Glicéria Tupinambá com a Comunidade Tupinambá da Serra do Padeiro e Olivença, na Bahia, Olinda Tupinambá e Ziel Karapotó. 

A exposição transcende fronteiras ao revelar a memória da floresta, da capoeira e dos pássaros camuflados, tecendo uma metáfora das lutas dos povos indígenas brasileiros e suas estratégias de ressurgimento e resistência.

Glicéria Tupinambá traz a perspectiva do tema "Foreigners Everywhere" para a realidade dos povos indígenas do Brasil. Sua obra é uma reflexão profunda sobre séculos de marginalização e a persistente busca por reconhecimento e justiça em seu próprio território.

A seguir leia o texto curatorial da exposição

KA’A PÛERA: NÓS SOMOS PÁSSAROS QUE ANDAM

Olinda Tupinambá - Equilíbrio 2024
Foto: Rafa Jacinto
Em tupi antigo, idioma tupinambá, Ka’a Pûera – ou capoeira – são os lugares usados para o plantio de roças. Após a colheita, esses espaços ficam em repouso, surgindo assim um uma vegetação mais baixa, uma mata regenerada. 

Num primeiro olhar, esse espaço pode parecer infértil e inóspito, mas é na capoeira que existe uma grande variedade de plantas medicinais. Onde aparentemente não há vida, é a possibilidade do ressurgimento: com o solo em recuperação, logo poderá ser uma nova roça para o sustento da comunidade ou uma nova floresta.

Capoeira é também uma pequena ave que caminha em bando dentro de densas florestas. Possui penas de tons marrons, laranjas e cinzas que criam sua camuflagem no solo da mata. Essas são estratégias de sobrevivência frente aos seus predadores em defesa de seus territórios – e se assemelham à luta dos povos indígenas, que são como Ka’a Pûera, pássaros que andam em florestas que ressurgem.

O Pavilhão Hãhãwpuá narra uma história de resistência indígena no Brasil, das adaptações frente às urgências climáticas e do corpo presente nas retomadas. Hãhãwpuá é como os Pataxó denominam esse grande território que recebeu o nome de Brasil, e que antes da chegada dos colonizadores foi chamado por tantos outros nomes. 

É importante reconhecer o Brasil enquanto terra indígena e que as mais de trezentas nações que vivem nessa terra seguem suas lutas nos dias de hoje, em defesa de suas memórias e saberes tradicionais. Essa resistência dos povos indígenas enquanto humanos-pássaros-memória-natureza é para que nos lembremos daqueles que estão à margem, desterritorializados, invisibilizados, encarcerados, violados de seus direitos, porque mesmo num solo aparentemente infértil, sempre existirá a possibilidade de ressurgimento e resistência.

Por Arissana Pataxó, Denilson Baniwa e Gustavo Caboco Wapichana

Serviço

O  Pavilhão do Brasil (Pavilhão Hãhãwpuá) fica no Giardini Napoleonici di Castello, Padiglione Brasile, 30122, Veneza, Itália, aberto até 24 de novembro de 2024. 

Fonte: Fundação Bienal de São Paulo

Leia mais:

Sobre o projeto curatorial:

https://encr.pw/BrasilBienalVeneza

As  cartas que Glicéria Tupinambá enviou a instituições europeias que possuem mantos tupinambá em seus acervos: 

https://acesse.dev/CartasdeGliceria

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