6.12.11

Cinema paraense na cena e na mídia nacional

"Ribieirnhos" será terá exibição nesta quarta em Belém
Com a produção mais madura, cineastas paraenses recebem prêmios em festivais e mostras pelo país, e ganham destaque na mídia nacional. Três curtas e a cena da animação do cinema local receberam, este mês, espaço na edição especial da revista Bravo! sobre o Pará.

“Ribeirinhos do Asfalto” (Jorane Castro) - Melhor Atriz (Dira Paes) e Melhor Direção de Arte em Gramado; “Matinta” (Fernando Segtowick) - Melhor Som (Evandro Lima, Mirian Bidermam, Ricardo Reis e Paulo Furnari), e de Melhor Atir (Dira Paes), no festival de Brasília – e “Mãos de Outubro” (Vitor Souza Lima) – que já recebeu cinco prêmios, dois deels no festival É Tudo Verdade – e a produção de filmes de animação (Cássio Tavernard e Andrei Miralha) estão na edição.

Para Fernando Segtowick, o amadurecimento dos realizadores que estão a mais de dez anos trabalhando com audiovisual aqui é mais um ponto à favor disso.  "Por conta destas pessoas já estarem na estrada todo este tempo, sinto que ao filmes tem amadurecimento melhor, as histórias estão mais bem contadas e com um fôlego que antes não tínhamos. Temos propostas mais consistentes. Estamos tratando temas amazônicos, mas com um viés universalista. E também estamos com atores mais preparados para o audiovisual. Antes tínhamos que formá-los, mas agora eles também já chegam mais prontos e atuam muito bem para a câmera”, afirma o diretor de Matinta.

Já para os mais jovens há outras explicações para o novo momento que vive o cinema paraense. "Na década de 2000 com a criação do Núcleo de Produção Digital, instalado no IAP, surgiram vários cursos, que pide fazer. Conheci pessoas influentes, como Victor Lopes e Maurice Capovilla. Nos cursos ministrados pelos dois, o foco era basicamente o documentário. Foi aí que acabei vislumbrando nessa vertente cinematográfica um caminho mais curto para começar de fato a produzir cinema", explica Vitor Souza Lima, diretor de "Mãos de Outubro".

“Ribeirinhos”, que também arrebatou prêmio no Festival de Curtas de Rondônia, como Melhor Produção Amazônica e Prêmio de Melhor Trilha Sonora Original no 34º Guarnicê, em São Luís, além continuar sendo selecionado para outros festivais, terá nova exibição em Belém, nesta quarta-feira, 07, a partir das 15h, no auditório Benedito Nunes, na UFPA. 

Chama Verequete, homenagem merecida ao mestre do Carimbó
Fruto da geração 90 - A qualidade dessas novas produções é fruto de uma jornada que inicia com o movimento estimulado a partir de 1998 por um grupo de profissionais interessados em desenvolver a arte cinematográfica na região. No finalzinho daquela década, o país acabava de retomar a produção cinematográfica, devastada no governo Collor, dando surgimento ao novo cinema brasileiro. 

Na cidade de Belém do Pará também começou um novo momento que conseguiu, inciaialmente, aprovar, junto à prefeitura, o Edital de Prêmio Estímulo ao Curta Metragem considerado, por quem faz cinema em Belém, um divisor de águas. 

É com este edital que surgem produções como “Chama Verequete” (Luiz Arnaldo Campos e Rogério Parreira) - Kikito de Melhor Música em 2001, no festival de Gramado -; “Dias” (Fernando Segtowick) e “Quero Ser Anjo” (Marta Nassar).

Ali inicia-se um período de formação da mão de obra que se aperfeiçoou nas equipes dos filmes que vieram em seguida: “Mulheres Choradeiras” (Jorane Castro) e “Açaí com Jabá” (Alan Rodrigues, Marcos Daibes e Walério Duarte), “Dezembro” (Fernando Segtowick), “Origem dos Nomes” (Marta Nassar), “Severa Romana” (Sue Pavão, Bio Souza e Rael Hellyan), “De Assalto” (Ronaldo Rosa), "Quando a Chuva CHegar" (Jorane Castro), entre tantos outros.

Serra Pelada, esperança não é sonho
Diversificando - De lá pra cá, o núcleo de produção de curtas no Pará não só cresceu como também se diversificou, abrangendo além da ficção tradicional, as áreas de vídeo clipe e animação, e ainda de documentários que, incentivados por vários tipos de premiações como a do Doc TV e de iniciativas independentes, se tornaram uma dos grandes filões da produção paraense.

Vieram “Chupa Chupa, a história que veio do Céu” (Roger Elarrat e Adriano Borroso); “Turcos Encantados”, de Luiz Arnaldo Campos; “Eretz Amazônia”, de Alan Rodrigues; “Invisíveis prazeres cotidianos" (Jorane Castro); “Serra Pelada, esperança não é sonho”, “Terra de Negros” e “As Filhas da Chiquita” (Priscilla Brasil), "O Ajuntador de Cacos" (Paulo Miranda), entre outros.

Além de docs, também foi produzida a minissérie "Miguel Miguel", de Roger Elarrat, que aguarda patrocínio para uma versão em longa metragem. No setor do videoclipe, a Greenvison vem se destacando e realizado inúmeros trabalhos que marcam o setor audiovisual voltado à área musical, como “Xirley”, da cantora do Tecnobrega Gaby Amarantos, “Devorados” e “Velas”, da banda de rock Madame Saatan, “Shift”, da banda Macaco Bong e “Japan Pop Show”, do cantor Curumin. 

Em 2012, a previsão é de novos lançamentos. Estão em fase de finalização os curtas “Quem Vai Levar Mariazinha para Passear” (André Mardock e Ester Sá), que premiado pelo Curta Criança do Minc, mistura linguagem da ficção e animação e “Juliana contra o Jambeiro do Mal pelo Coração de João Batista” (Roger Elarrat), filme de realismo fantástico que traz na trama uma história de amor. 

Em fase de produção, “'Promessa em azul e branco” (Zienhe Castro), inspira-se em obra homônima da escritora e carnavalesca Eneida de Moraes. Temos ainda, com previsão para estreia talvez agora em dezembro (à confirmar), o novo curta de Luiz Arnaldo Campos, "Passaros Andarilhos e Bois Voadores".
 

Filmagem do doc Mestre Vieira na praia do Caripi
Ano novo - Mas nem só de curtas viverá a produção cinematográfica paraense no ano que vem. Há previsão de estreia do documentário sobre a trajetória de Mestre Vieira da Guitarrada. E de acordo com Fernando Segtowick, entrará em produção, até o final do próximo ano, um outro longa documentário, sobre o Cinema Olympia.

Patrimônio cultural da cidade de Belém, ele é reconhecido como o cinema mais antigo do país, em funcionamento ininterrupto e cuja história se confunde com a vida cultural da Bélle Èpoque paraense. 

Na área da ficção, a grande expectativa de longa é “Amores Líquidos”, de Jorane Castro, que mostra o encontro de três mulheres que por diferentes razões acabam se conhecendo e pegando a estrada da Amazônia Atlântica.

“A ideia é que o filme passe por várias cidades do Pará. Ainda estamos em fase de captação, mas boa parte do orçamento já está garantido para iniciarmos o filme no ano que vem”, explica a cineasta, que dirige também a Cabocla Produções.

"Julisna contra o Jambeiro do Mal..."
O que ajuda a produção - Os realizadores paraenses reconhecem fácil quais são os fatores que mais beneficiam o cinema paraense. O lançamento de editais nacionais e locais, por exemplo, é um deles. No entanto, em regra os editais paraenses não têm tido continuidade, como o Prêmio Estímulo da década de 1990 (Municipal), que só teve duas edições, e o de 2008 (Estadual), que só teve uma.

Na falta de uma política voltada diretamente ao audiovisual, surgem os coletivos que iniciam um novo processo, de produção independente, obtendo patrocínio através da Lei Semear, cujo teto de captação é de R$ 300 mil para projetos em audiovisual. 

Na opinião dos realizadores, o interesse pela região e a utilização de equipamentos digitais de ponta, hoje mais acessíveis, são fatores que ajudam a produção na Amazônia. “É fenômeno mundial que facilita a produção de pequenos projetos e acho que também, o Brasil (falando em editais e festivais) está cada vez mais interessado em histórias que vêm desta região, que ainda tem muito o que criar no cinema”, opina Roger Elarrat, que acabou de filmar o curta “Juliana contra o Jambeiro do diabo pelo coração de João Batista”, com prêmio de edital (MINC). 

A formação de mais profissionais na área, que agora conta ainda com o primeiro curso de graduação em cinema pela Universidade Federal do Pará, também favorece a atual produção. Já há equipes inteiras formadas por profissionais paraenses. 

“Mãos de outubro é um filme que foi feito com cinema 35 mm, por meio do edital da Secult, e todos os profissionais são daqui. Toda a captura de som e imagem, além da edição são de profissionais paraenses. A única coisa que não fizemos, mas isso é algo que ocorre em todo o país foi a finalização. Os grandes laboratórios estão concentrados no eixo Rio-São Paulo”, diz Jorane Castro, da Cabocla Produções, responsável pela produção executiva do curta documentário.

Animação pioneira
Animação na telona - Para saber com quantos peixes, crustáceos e outros bichos se faz o cinema de animação paraense, deve-se chegar primeiro ao estúdio de Cássio Tavernard que, em 2004. 

Num projeto pioneiro, ele conseguiu produzir através de uma bolsa de pesquisa e experimentação artística de baixo custo, oferecida pelo Instituto de Artes do Pará - IAP, o curta “A Onda, festa na Pororoca”, que se tornou um dos maiores fenômenos do gênero no Estado, abrindo as portas para uma produção que em menos de uma década conseguiu realizar mais de dez curtas. 

Levando em consideração que nenhum dos profissionais consegue viver somente da animação, é um grande feito. A fórmula de Cássio não poderia se melhor. Misturando a técnica do 3D à temática amazônica, o arquiteto e desenhista não demorou a realizar o segundo projeto, “O Rapto do Peixe-Boi”, selecionado pelo Concurso de Apoio à Produção de Obras Cinematográficas Inéditas (curta metragem, gênero de animação), do Ministério da Cultura, em 2006. 

Em nova aventura, a turma que agitou a Pororoca com uma festa de aparelhagem no fundo do rio, ganhou novas companhias e colocou em cheque a pesca predatória do peixe boi que coloca este animal, um dos símbolos da Amazônia, em risco de extinção. 

Os dois episódios, ambos produzidos pela Central de Produção – Cinema e Vídeo na Amazônia, já estão disponíveis em DVD. Atualmente, Tavernard vem trabalhando em mais dois episódios que vão compor um projeto de minissérie orçado em R$ 1 milhão, convite feito pela TV Cultura de São Paulo, que exibirá a minissérie em rede nacional. Ao todo, serão 13 episódios, mas o orçamento até agora só fecha com os três primeiros episódios. 

Intitulado “Alegro pero no Mucho”, o novo episódio na verdade será dividido em duas partes. Traz animação, mas também personagens reais, que contará com os músicos da Amazônia Jazz Band, grupo da Fundação Carlos Gomes. “São vários cenários, com direito a uma maquete do Theatro da Paz e a animação de pintura do artista italiano Domenico de Angelis, que destaca a chegada do Deus Apolo na Amazônia”, revela. 

O poético "Muragens"
De Miriti e Muragens - Outra boa safra da animação paraense vem sendo encabeçada por Andrei Miralha, parceiro de Tavernard na turma da pororoca.

Este ano, o anmador lançou um DVD com dois curtas “Admirimiriti” (2005 – IAP), exibido na França dentro de uma Mostra Latina Americana de animação, e “Nossa Senhora dos Miritis” (2010 – Lei Rouanet – Banco da Amazônia) e um documentário sobre os brinquedos de miritis produzidos na cidade de Abaetetuba, no interior do Pará, símbolos da maior festa religiosa do país, o Círio de Nazaré.

Andrei também é autor de Muragens (2008 – IAP), que chegou a ser selecionado para a Mostra Competitiva do Anima Mundi em 2009 e, mesmo não ganhando prêmio foi convidado pela curadoria do festival para fazer parte de uma mostra de curtas premiados do Anima Mundi em Portugal. “Uma honra”, reflete Miralha. 

Trabalhando atualmente na animação do curta “Quem vai levar Mariazinha para Passear”, o animador, que vem da área de arquitetura, diz que esta tem sido uma experiência prazerosa e que difere das outras já executadas por ele em 2 e 3 D. O projeto mexe com ação direta e animação de recortes de papel, onde os pedacinhos formam os bonecos que, sem esqueleto por dentro do personagem, são animados em ambiente tridimensional. Será também uma produção veiculada nacionalmente pela TV Brasil. 

Estão na cinebiografia da animação paraense, ainda, os curtas “A Revolta das mangueiras” (Roberto Eliasquevice – IAP - 2004), “O menino Urubu” (Fernando Alves e Roberto Ribeiro – IAP - 2005); Visagem (Roger Elarrat – IAP - 2006), “A Imagem da Música" (Leonardo Venturieri e Otoniel Oliveira – IAP - 2007) e “Diário do Palhaço” (Cássio Tavernard – IAP - 2009).

A Bravo! Especial Pará – Além de cinema, a Bravo! deste mês traz em sua edição especial sobre a produção cultural e os vários talentos artísticos da cena paraense, a fotografia de Luiz Braga, as vozes privilegiadas da cantora lírica Adriane Queiroz e da estrela pop Gaby Amarantos, as produções premiadas do cinema paraense, os curtas Matinta e Ribeirinhos do Asfalto.

Também tem destaque o caldeirão musical do Terruá Pará, o trabalho da grafiteira Drika Chagas, a trajetória do padre e ator Cláudio Barradas, nossa gastronomia, destacando o trabalho do chef Ofir Oliveira, a moda de André Lima, o filósofo Benedito Nunes e o quadrinista Joe Bennet.

A ideia foi dar vazão à diversidade da cultura paraense, na contemporaneidade. Sobre isso, a revista traz também uma análise escrita por Paes Loureiro. Embora muita coisa e muitos artistas tenham ficado de fora das 67 páginas dedicadas ao Pará, a revista conseguiu fazer uma boa mostra daquilo que o Pará tem de melhor. Procurem na bancas.

2 comentários:

Ramiro Quaresma disse...

O melhor post que já vi/li na vida!!! Só tu poderia ter escrito.

Holofote Virtual disse...

<3 por onde andas?