1.2.12

E a Black Soul Samba está de volta, ufa!

Abrindo 2012, nesta sexta-feira, 03, com show de MG Calibre e o projeto Eletrocult, a programação completa de fevereiro contará ainda com Carnaval Black, Eloi Iglesias e a Charanga do Fofó de Belém, Black Convida os DJ´S Marcus Emir, Albery Rodrigues e Rafael Dourado e encerra o mês com um Tributo à Wilson Simonal, com Roguesi e Banda. No bar Palafita, na Cidade Velha, Rua Siqueira Mendes, ao lado da Casa das Onze Janelas, com ingresso a R$ 10,00. Os primeiros 50 que chegarem pagam a metade do preço. 

O clima no coletivo Black Soul Samba esta semana está uma loucura. Tá todo mundo pilhado, não vendo a hora de voltar a tocar para seu público, que não troca por nada a música black em todas as suas vertentes, trilha sonora de quase todas as sextas-feiras de 2011 aqui na capital paraense. 

“Tô preparando umas pérolas pra mandar no meu set que eu acho que vai fazer todo mundo sacolejar e se divertir bastante!”, diz Eddie Pereira, um dos fundadores da Black Soul Samba. DJ, gravurista digital e iluminador, ele conversou com o Holofote Virtual sobre a experiência do coletivo, que conquistou espaço, público e dá exemplo na cena independente.

Formado também por Homero da Cuíca, Uirá Seidl, Kauê Pinheiro e Fernando Wanzeler, o coletivo colocou sua festa no topo do rank das mais badaladas do ano passado. Com morada firmada no Bar Palafita, que fica à beira do rio, numa orla ventilada da Cidade Velha, bairro mais antigo da cidade, a Black Soul Samba passou a ser parada obrigatória. 

O Coletivo em foto para o Diário On Line e Caderno Você
Foram mais de 70 festas, com participação de dezenas de artistas, djs e bandas, que passaram pelos palcos da Black. O suingue dos DJs vai do samba ao rock, passando pela música instrumental, com influências do jazz misturado ao carimbó, merengue, guitarrada e tantos outros ritmos e experimentações sonoras. 

Em 2012, além das festas, o coletivo realiza a primeira edição “Black Social”, projeto em fase de captação vez via Lei Tó Teixeira, e dá continuidade ao programa semanal da Black Soul Samba na Rádio Unama FM, que tem levado as mais refinadas e importantes canções da história da música negra, música brasileira e suas ramificações culturais. Além disso o coletivo busca parcerias e patrocínio também para outro projeto, aprovado pela Lei Semear, um Festival de Música Negra.

DJ e iluminador, que já assinou a luz de vários espetáculos teatrais, Eddie Pereira também cria gravuras digitais, que podem ser vistas em aqui. Morador da Vila Sorriso, Icoaraci, outro talento dele é a simpatia, o riso fácil e o abraço, além, claro, da ansiedade divertida de ariano. Na entrevista abaixo, ele conta mais sobre a Black Soul Samba e o seu trabalho como DJ. 

Holofote Virtual: Como estão os preparativos para este retorno? 

Eddie: Nossa, estou numa pilha enorme pra voltar, com sets renovados e com uma gana enorme pra mandar som. Sei que os outros também tão nessa vibe, pois a gente troca informação toda hora pela internet.

Holofote Virtual: O que mais vocês estão bolando, enquanto coletivo, para este ano?

Eddie: Esse ano promete ser especial pra nós, pois conseguimos a carta da Lei Semear e queremos fazer o nosso Festival de Música Negra, um sonho que temos de movimentar mais as bandas da cidade e trazer bandas de fora que curtimos. 

Também tem a Black Social, projeto com nossos parceiros MHHOP (Movimento Hip Hop do Pará – Zulu Nation), Curupiras Antenados, Instituto Ariri Vivo e a ONG Marenteza, de fazer intervenções nas praças e ruas da cidade com dança, grafite, conscientização ambiental e projeção de filmes. Mas ainda estamos abertos, sempre, a outros parceiros. 

Holofote Virtual: Em 2011, a BSS cresceu, achou lugar fixo, ganhou programa na rádio e espaço de divulgação na mídia. Conquistou respeito. Como foi este processo? 

Eddie: Sim, achar um bom espaço na cidade foi muito importante. Havíamos passado por espaços legais até, mas a Cidade Velha é a nossa cara (risos). O público gosta da paisagem, de estar na beira de rio, de ter vento no rosto, um certo conforto roots (risos). O Palafita mudou um pouco depois que passamos a fazer a Black por lá. Agora tá mais amplo, a galera do grafite adorou (mais risos).

Holofote Virtual: O programa de rádio está muito bacana também... 

Eddie: O programa de rádio era um sonho antigo nosso. Brincávamos quando teríamos um programa no rádio, e isso veio naturalmente. Devemos isso ao Rui Montalvão, que é radialista da UNAMA FM. Ele fez o intercâmbio com a galera da rádio, que estava mesmo querendo ter um programa de Black Music da programação. Juntou-se a fome com a vontade de comer. Ainda não estamos ao vivo, mas a gente chega lá. Vai ao ar todas as quartas de 21h às 23h, com reprise aos sábados de 22h à meia-noite. 

Eddie em ação!
Holofote Virtual: Hoje é muito mais fácil ligar numa estação de rádio e ouvir música negra. Eu tenho cá pra mim, que o boom da BSS na cidade tem a ver com isso. O que tu achas? 

Eddie: Acho também e ficamos muito felizes com isso, pois dá pra fazer uma festa com músicas de qualidade, sem ter que apelar pros sucessos radiofônicos impostos pelo jabá... As pessoas voltam pra casa e ouvem as músicas que mandamos na pista, isso de certa forma também influencia bandas a mostrarem seu trabalho para um público atento e inteligente, que vai de pessoas de 25 a 50 anos, junto e misturado, por causa da música. 

Holofote Virtual: Eddie, conta como é que você acabou se interessando pela profissão de DJ. 

Eddie: Desde criança fui ligado em paradas artísticas, desenhos em quadrinhos, em TV, etc.. Mas por volta dos 14,15 anos conheci o Rock, e desde então venho acompanhado deste gênero que tanto amo, embora ame a Black Music, que me ensinou muito. 

Holofote Virtual: Não começastes tua jornada profissional como iluminador?

Eddie: Na verdade, a carreira de iluminador veio junto com a de DJ, numa das inúmeras greves da UFPA, onde eu cursava Artes Plásticas. Fiz uma oficina de iluminação com Lúcia Chedieck e ela me fez apaixonar pela luz. Trabalhei com quase todos os grupos de teatro de Belém, bem como fiz luz em todos os teatros da cidade. 

Naquela oficina conheci o Boy (DJ Fernando Wanzeler) e nossa paixão por música nos puxou pra tocar em festas no Bar Mormaço que, naquela época (1998), estava fechado. Conseguimos o espaço e fizemos uma série de três festas até o bar reabrir de novo com festas próprias. Nossa trajetória juntos já tem14 anos... nossa, o tempo voou! 

Fernando Wanzeler
Holofote Virtual: No coletivo, cada um tem uma preferência diferente? 

Eddie: Tirando o Homero, todos nós somos roqueiros inveterados. Não que o Homero não seja, mas ele curte mais samba e tals. No geral, nos conhecemos ouvindo rock, pois o Homero é meu amigo desde que morava em Icoaraci, onde moro até hoje, isso bem antes de conhecer o Boy. 

Depois conheci o Uirá batendo papo sobre bandas de rock, uma vez que ele é quase um “psicopata” por conhecimento do mundo musical. O Kauê conheci através de amigos em comum. Nem me lembro como, mas foi empatia na hora. Isso já faz mais de 10 anos. É legal fazer a Black com eles. Mas teve ainda o Alex Pinheiro, meu parceiro em outros dois coletivos. Diria que se não fosse por ele, hoje eu não seria DJ. Nosso encontro foi para fazermos somente duas festas no antigo Bar do Índio, aos domingos, em dezembro de 2009, e deu no que deu. 

Holofote Virtual: Antes havia o Coletivo Afrika Brasil. Conta esta história e o seu desdobramento em Black Soul Samba. 

Eddie: Quando nos reunimos pela primeira vez, ainda rolava o meu antigo coletivo junto com o Alex (Pinheiro) e o Boy. Éramos o AfrikaBrasil e como os outros caras haviam proposto de fazer a festa no Bar do Índio, resolvemos abarcar eles no Coletivo e o nome da festa também não seria mais o AfrikaBrasil. 

O Homero sugeriu “Black Soul Samba”, nome que ele havia feito quando morava em Manaus. E ficou esse nome, logo depois mudamos pra Coletivo Black Soul Samba, uma vez que todo mundo chamava a gente com esse nome mesmo. 

Holofote Virtual: Quais os melhores aliados de um DJ? Como é que vocês trabalham em especial você, pra trazer novidades para o público, além do que já está garimpado?

Eddie: Uso bastante a internet, sou viciado em informação. E falo isso pra todo DJ de pendrive ou não. O importante é ouvir música, independente de qual estilo for... É a base pra você se sentir à vontade na hora de mandar o seu set. Isso, claro, dentro da proposta da festa. 

A internet foi a principal base de divulgação da BSS no início, até porque tem muitos artistas que divulgam seus trabalhos exclusivamente nessa base, mas como somos um coletivo, os DJs que tocam com vinil pesquisam muito em sebos, é um complemento bem legal ter o tradicional e o novo caminhando juntos. 

Holofote Virtual: Hoje as festas lotam, mas nem sempre foi assim. Quais as grandes dificuldades enfrentadas pelo coletivo? 

Eddie: Teve um tempo em que quase paramos. Só dava pra fazer uma festa por mês. Era sofrido demais, e até hoje não temos patrocinador. Fazemos mesmo pelo amor à música, poucas bandas aceitavam ganhar pouco, faziam por amizade, às vezes não ganhávamos nada, mas pagávamos as bandas, os custos. Não fosse nossa longa amizade e as reuniões semanais que fazemos pra quebrar o pau, brincar e trocar informações, talvez não tivesse rolado até hoje. O importante foi insistir. Uma hora vai dar certo. Aprendemos muito com os nossos erros e acho que o público sacou isso também. 

Holofote Virtual: O que vocês gostariam que melhorasse?

Eddie: Precisamos enxugar os custos pra poder fazer mais pelo nosso público, pagar melhor as bandas, os outros DJs convidados, investir na decoração. 

Tudo isso requer um custo específico pra uma festa semanal. Sempre procuramos surpreender as pessoas que vão às festas da Black, de alguma forma, dependendo da atração. 

Holofote Virtual: Precisando de mais apoio? Quem são os grandes parceiros ao longo destes anos todos, em especial em 2011?

Eddie: Estamos precisando mesmo é de um patrocinador! (risos). Mas queria agradecer nossos parceiros e amigos do Palafita, antigo Bar do Índio, Parque dos Igarapés; a galera da Ursa Maior e Zagaia; as bandas que entendem a nossa viagem; a Unama FM; MHHOP; Curupira Antenado; Dani Franco; Luciana Medeiros; galera do antigo Le Marchand; Alex Pinheiro; Mauro Coelho; Aldo Paz; Ché; Nassif Jordy; Eduardo, do sebo de discos de São Braz; Traumas Vídeo e mais alguns que eu não posso não estar lembrando agora... sorry! 

Holofote Virtual: A BSS pretende se expandir pra além de Belém do Pará? 

Eddie: Já pensamos nisso, mas ainda não arrumamos parceiros fora, pois como disse antes, tem uns custos. Queremos dar esse role por Bragança, Santarém, Parauapebas, Marabá. Sabemos que tem um público ávido por uma festa de Black Music nesses lugares. 

James Brown
Holofote Virtual: Quais as principais influências presentes nos teus sets?

Eddie: Na Black mando de tudo (risos). Dependendo do meu horário de tocar, gosto muito de new funk e funk tradicional (o do James Brown). Amo tocar reggae e dub, samba. A galera adora, é horário de pico, mas funciona também a música brazuca, todo mundo até canta junto. Amo essa festa!! 

Holofote Virtual: Qual das festas já realizadas foi mais marcante pra ti, dá pra lembrar (risos)? Será que a desta sexta será a melhor? 

Eddie: Nossa, ao todo, até aqui, 72 festas em vários locais da cidade, sendo que a maior parte foi no Mandala (hoje Biruta Beach Club) e no Palafita. Muitos artistas passaram por lá, fiz até uma compilação virtual com os que passaram em 2011. Ainda tava no ar pra download na nossa página no facebook, mas com essa história do SOPA, já não posso garantir até quando. 

Entre os artistas que passaram por lá tem Andreia Dias, Saulo Duarte, que fez um show muito massa, Metaleiras da Amazônia, que não deixou ninguém parado, o show do Bruno B.O, que levou Jimmy Luv pra dar uma canja; Rapadura, que mandou super bem. Mas o que eu mais me esbaldei de dançar, foi no show de Felipe Cordeiro, na festa de aniversário de dois anos. Nossa última festa foi com o MG Calibre, que também detonou e está de volta. Ele promete um show super dançante no seu novo projeto o Eletrocult. Acho que vai ser bem legal

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