9.10.13

Show lítero-musical celebra Antônio Tavernard

O Versivox, nas ruínas da casa do poeta
O Versivox homenageia o poeta com o show Suave Serenata, nesta quinta, 10, dia de seu nascimento, reunindo música, poemas e dramatizações sobre o artista, que completaria 105 anos. O projeto também denuncia o abandono de sua casa, em Icoaraci, Belém do Pará. A partir das 19h, no Sesc Boulevard, com entrada franca. 

Por Parla Página

Há exatos 105 anos, num dia 10 de outubro, a Vila de Pinheiros (atual Icoaraci), nas proximidades de Belém, via nascer um dos mais singulares artistas dos versos, dos parágrafos e das cenas. Antônio Tavernard. Artesão da palavra que se notabilizou como poeta, contista, cronista e dramaturgo. Vítima de um mal, à sua época, incurável, o artista partiu precocemente, mas conseguiu deixar um legado que comove, surpreende e emociona fãs gerações afora. 

“Há muitos anos, tenho o sonho de fazer um espetáculo desse porte, com esse cuidado e apuro para homenagear o Tavernard. Preparamos uma grande festa musical e cênica para reverenciá-lo”, afirma Carlos Correia, que estuda o escritor paraense já há vários anos. 

“Há um bom tempo tenho me dedicado a divulgar esse grande patrimônio poético que temos. O Tavernard é desses criadores que nos enlaçam profundamente, graças ao lirismo que transborda de suas obras”. Para Júnior Cabrali, a missão de unir os versos do homenageado a acordes precisos é uma tarefa que exige dedicação. “Tivemos uma rotina puxada de ensaios. Tudo para que o resultado final faça jus ao universo do Poeta”. 

Moradia já foi a Casa de Cultura
Denúncia - O espetáculo que será apresentado nesta quinta tem também o viés da denúncia. A equipe fez propositadamente o ensaio de divulgação do projeto nos escombros da Casa de Tavernard, em Icoaraci. A estratégia faz parte do projeto Ruínas da Memória, desenvolvido por Carlos Correia, Hudson Andrade e a fotógrafa Brends Nunes. 

O propósito é chamar a atenção do grande público para o estado de abandono em que se encontram espaços públicos paraenses historicamente ligados a personalidades culturais. O grupo fez esse mesmo trabalho em 2012, na estreia do espetáculo teatral Batista, quando protestou contra o abandono das Ruínas do Murutucu, sítio arqueológico lidado à trajetória do Cônego Batista Campos. 

O foco agora é o prédio em que o Poeta nasceu. “É simplesmente indecente o estado em que está o local. A fachada ruiu, o mato se espalha por todo lado. Há detritos e mau cheiro por toda parte. O lugar serve de pouso para meliantes. Uma vergonha. As ruínas da casa de Tavernard e o modo em que se encontra o Murutucu até hoje, mesmo com todas as nossas denúncias, são a tradução de como tratamos nossa memória: como lixo”, brada Carlos Correia. 

O show do Versivox conta com as participações especiais dos atores Hudson Andrade e Iêrêcê Corôa, e das cantoras Cris Rodrigues, Iza Haber, Lua Miranda e Tábita Veloso. A direção de luz é de Sônia Lopes, a cenografia de Hudson Andrade, fotos de divulgação de Brends Nunes e Neto Cabrali. 

Iara Correia Santos faz a assistência de produção, Júnior Cabrali responde pela direção musical e Carlos Correia Santos assina a direção geral. O projeto tem apoio cultural do Sesc Boulevard, Espaço Cultural Atores em Cena, Revista Pará Mais e Corpo Artístico Vértice. A assessoria e produção de conteúdos é de Parla Página. 

Biografia - Foi na casa da Rua Siqueira Mendes, em Icoaraci, que Antônio de Nazareth Frazão Tavernard nasceu no dia 10 de outubro de 1908, em plena época do Círio. Ainda pequeno, o futuro grande autor muda-se para o centro da capital. A nova residência se situava na Conselheiro Furtado, próximo à Generalíssimo Deodoro. 

A veia artística de Tavernard foi em muito alimentada pela atmosfera boêmia da Belém daquelas primeiras décadas do século XX. No Ginásio Paraense, começou a alimentar o gosto por seus próprios versos. Eram poemas que escrevia para o jornalzinho do colégio, o C.P.C. Concluído o curso preparatório de humanidades, matricula-se na Faculdade de Direito do Pará. 

Era o ano de 1926 e tudo na vida daquele excepcional rapaz de dezoito anos está para mudar dramaticamente. Tavernard cai doente. Médicos, exames e surge, por fim, o terrível e fatal diagnóstico: hanseníase. A doença era, então, incurável. Nada podia ser feito pelo garoto. Uma cruel realidade lhe bate ao rosto: viver um doloroso processo degenerativo. A sombra da doença traz para a alma do artista um tom místico, um estilo visceral. 

Aos 19 anos, ele já conta com uma vasta gama de trabalhos. Com esta mesma idade, obteve o segundo lugar no concurso nacional de contos da revista “Primeira”, passando a colaborador da publicação. Seria ainda redator-chefe da revista “A Semana” e colaborador em quase toda a imprensa do país. 

Torna-se parceiro do então jovem Waldemar Henrique em clássicos como “Foi Boto Sinhá”. Escreve peças teatros memoráveis, como “A Casa da Viúva Costa”. É autor da letra do hino do Clube do Remo. A doença venceu o poeta no dia 02 de maio de 1936. 

Serviço
Suave Serenta – Homenagem aos 105 Anos de Antônio Tavernard. Dia 10 de outubro, a partir das 19h, no Sesc Boulevard. Entrada franca. Informações: 8167-3835.

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