10.10.13

Zienhe Castro lança Promessa em Azul e Branco

Inspirado em conto homônimo da escritora paraense Eneida de Moraes, o curta da cineasta Zienhe Castro terá sua estreia, em Belém, nesta sexta-feira, às 11h, na sala 4 do Cinépolis, no Boulevard Shopping. "Promessa em Azul e Branco" mostra Eneida ainda como uma menina de oito anos que teme quebrar uma promessa de família, e toma para si a responsabilidade da felicidade de todos ao seu redor, sem deixar o seu própiro universo de sonhos, mais confortável e seguro que a realidade. A entrada é franca. 

Fazer cinema no Pará não é nada fácil. A falta de incentivos locais, tanto por parte das iniciativas governamentais, sejam elas na esfera estadual ou municipal, além do desinteresse, com raras exceções, do empresariado local, em se aliarem à Lei Semear, que por meio de renúncia fiscal busca incentivar projetos de baixo custo na área, o que se vê é a produção local definhar nos últimos anos.

Há, porém, os que resistem e por meio de parcerias outras e editais nacionais conseguem concretizar seus projetos. Não foi à toa que Zienhe Castro, ainda que tenha aprovado seu projeto na Lei de Incentivo Estadual, acabou levando a produção de “Promessa em Azul e Branco” para ser filmado em Florianópolis, no Estado de Santa Catarina, onde o filme já foi exibido. Veja o trailler, aqui.

Tratando de um tema singelo, Promessa em Azul e Branco faz um paralelo com este mundo real ao mostrar a pequena Eneida arriscando-se a sair de seu mundo de sonhos para tentar transformar a realidade e alcançar a felicidade.

Lançando mão de uma narrativa sutil, que revela e descreve de forma simples e lúdica os conflitos e inquietudes de cada personagem e os pequenos desejos e sonhos da vida de cada um, o filme também provoca um reconhecimento maior à escritora paraense, jornalista e militante política Eneida de Moraes. 

Filha de um comandante de navios, desde pequena nutriu grande afeição pelos rios e pela Amazônia. Ainda criança, participou de um concurso de Jovens Escritores, obtendo o primeiro lugar, com um texto que falava do imaginário de um caboclo amazônida. Eneida colaborou entre os anos 20 e 30, em jornais como o Estado do Pará, Para Todos (RJ), e nas revistas Guajarina, A Semana e Belém Nova. 

Em 1930, fixou residência no Rio de Janeiro, onde filiou-se ao Partido Comunista do Brasil (PCB), declarando-se marxista e liderando greves e manifestações contra o sistema capitalista e as opressões do governo Brasileiro. 

 A escritora envolveu-se diretamente nas revoluções de 1932 e 1935, o que resultou em 11 prisões durante o Estado Novo, além de torturas, clandestinidade e exílio. Foi na prisão, que conheceu Olga Benário e Graciliano Ramos, este que a imortalizou em “Memórias do Cárcere”. 

Atuando como jornalista profissional em periódicos partidários e da grande imprensa, nas funções de repórter e de cronista, Eneida entremeou essas atividades com a publicação de 11 livros e várias traduções. Mas a história de sua vida é outro ponto de interesse de Zienhe Castro que pretende realizar um documentário biográfico da escritora. 

Zienhe Castro atua como produtora cultural há mais de 20 anos, sendo destes, mais de 10 dedicados ao cinema brasileiro e paraense. À frente da ZFilmes, entre diversos outros trabalhos, em 2008 teve um roteiro seu classificada entre os 100 melhores para documentários, por meio do edital do MINC – Ministério da Cultura para curtas-metragem.

"Ervas e Saberes da Floresta” foi ainda premiado e produzido com por meio do Programa Petrobras Cultural e lançado ano passado. Outro projeto de importante envergadura é o Amazônia Doc, festival que teve sua 5ª edição aprovada em Lei Rouante, mas que até agora não obteve patrocínio para ser realizado.

Na entrevista que segue, Zienhe nos conta mais sobre a produção do curta que está lançando nesta sexta-feira festiva, em Belém do Pará, em meio às programações que antecedem a procissão do Círio de Nazaré. A data, à propósito, vem casar com a temática de “Promessa em Azul e Branco”. 

Zienhe Castro
Holofote Virtual: Finalmente saiu o curta. Foram alguns anos de produção, filmagem, finalização. Como você vê este resultado?

Zienhe Castro: Um presente, um exercício e um grande aprendizado! Foi uma boa jornada. Entre a ideia de adaptar o conto e a conclusão do projeto foram nove anos! 

Cada trabalho realizado é uma conquista! É tão difícil produzir um filme de ficção, mesmo sendo um curta, que quando conseguimos finalizar o processo e apresentar o filme para o público já nos sentimos agraciados. Tem muita gente que não consegue finalizar o projeto. 

Tem alguns projetos audiovisuais que travam por diversos fatores e um dos principais empecilhos são a ausência de incentivo local e de políticas públicas para o setor audiovisual. As dificuldades estão tanto na captação de recursos como na gestão/planejamento. Ainda é caro produzir, finalizar e circular com os projetos, mesmo com os avanços e o menor custo na captação digital. 

Holofote Virtual: Onde foi filmado e como se deu o processo de levar a produção pra fora de Belém? 

Zienhe Castro: A pré-produção iniciou em 2011 aqui em Belém. Fizemos testes de casting procurando as “ENEIDAS”, pesquisa de locação e começamos a montar a equipe principal. Várias dificuldades foram se apresentando, inclusive com relação aos recursos disponíveis.

Avaliei com alguns parceiros e produtores locais e o resultado desta avaliação foi de que os recursos disponíveis não eram suficientes para as necessidades do filme.  Fiquei apavorada de começar e não conseguir terminar o filme e, ainda, ficar cheia de pendências. Comecei a sondar alguns parceiros que tenho fora de Belém. 

Por mero acaso, comentei sobre o filme coma a diretora Cíntia Bittar, da Novelo Filmes (Florianópolis - SC), que imediatamente apaixonou-se pelo mesmo e propôs a coprodução, comprometendo-se em captar os recursos e apoios necessários para realizar o filme com a ZFilmes e deixar o filme pronto! 

Holofote Virtual: Você diz que é um curta livremente inspirado no conto homônimo da Eneida. Quais as licenças poéticas feitas? 

Zienhe Castro: O filme não é fiel ao conto original, fizemos algumas subversões na adaptação, porém nos mantivemos fiéis à biografia da autora. Não devo revelar mais detalhes, pois assim estragaria a surpresa do filme! 

Holofote Virtual: Eneida de Moraes ainda não ganhou o status merecido na literatura paraense, infelizmente. Você acredita que o curta pode trazer mais holofotes para sua obra? 

Zienhe Castro: Eu desejo que sim. O filme é uma homenagem e um reconhecimento do valor atemporal de sua obra. Eneida tem uma valiosa contribuição na literatura, na política e na pesquisa da cultura popular brasileira, que se reflete em seu contos e crônicas. É necessário falar e dar mais luz às nossas “ENEIDAS”. 

Holofote Virtual: Além do Cláudio Barros no elenco, os outros atores são também paraenses? 

Zienhe Castro: Além do Cláudio Barros, foi uma honra conseguir envolver diretamente no filme mais três artistas paraenses: a atriz Cei Melo como mãe da Eneida, a estilista Ana Miranda que assina o figurino e o compositor Cincinato Marques Jr. que assina a trilha sonora original. 

Holofote Virtual: Depois da estreia, o filme ficará em cartaz? quais os planos?

Zienhe Castro: Os planos agora são de participar do circuito de mostras e festivais! Vamos também lançar o DVD do filme no dia 11 de outubro. 

Holofote Virtual: E como está tua vida profissional? Recentemente você também lançou um documentário sobre os saberes das Erveiras da Amazônia. Há novos projetos de filme na manga? 

Zienhe Castro: São muitos projetos sendo desenvolvidos. Leva-se muito tempo entre pesquisa e desenvolvimento de um projeto/roteiro. Estou finalizando três novos roteiros para longa: um documentário, um longa experimental (em 3D) e outro ficção. Tenho dois novos filmes já inscritos nos últimos editais. Vamos ver se conquistamos a simpatia das comissões avaliadoras. Um deles é o documentário "Simplesmente Eneida" sobre a vida e obra de Eneida de Moraes. 

Holofote Virtual: E o Amazônia Doc., festival que você vem desenvolvendo em Belém. Vamos ter novas edições?

Zienhe Castro: O Festival Amazônia Doc já me tirou muito o sono! É um projeto importante para cena audiovisual paraense e amazônida, um festival com recorte único, de reconhecimento nacional e internacional, de grande envergadura, um festival internacional de cinema com a participação dos 09 países da Pan-Amazônia, um espaço onde se instiga a discussão e o debate sobre as nossas potencialidades e problemáticas! Infelizmente, não dá para fazer de qualquer jeito. 

Aprovei a 5ª edição do festival na Lei Rouanet este ano, porém nenhuma empresa local teve interesse em apoiar! São sempre as mesmas dificuldades: falta de apoio e de recursos. Nenhum grande festival de cinema no Brasil ocorre sem o apoio das três esferas públicas. É imprescindível o apoio do Governo do Estado do Pará e da Prefeitura Municipal. Vou continuar trabalhando para realizar a 5ª edição em 2014.

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