3.12.14

O Campo e a Cidade: curta temporada em Belém

Formada pelos paraenses, Marcello Gabbay (banjo, baixo e teclado) e Carlos “Canhão” Brito (bateria e percussão), e pelo paulista, Neto Rocha (violão e guitarra), a banda se apresenta nesta quinta-feira, 4, a partir das 18h, no Sesc Boulevard, onde conta com participação de Rafael Azevedo (baixo e violão), e no sábado, 6, às 11h, na Discosaoleo. No repertório, músicas inéditas de seu primeiro CD, mescladas ao cancioneiro latino, português e francês.

Nas duas ocasiões, os rapazes batem um papo sobre a recente experiencia de sair em turnê autoral chegando à Europa. Foram 20 dias de imersão em Portugal. A turnê lusitana realizada em setembro deste ano, de forma independente, chegando a Lisboa (dois shows), Évora, Coimbra e Porto, foi um investimento próprio, que trouxe à banda uma experiência única. 

Desde a pré-produção, quando as confirmações dos locais para tocar foram chegando, até a compra das passagens, a chegada em Lisboa, a convivência diária, as descobertas feitas em cada cidade, o contato com o universo multi cultural e racial da Europa e a recepção dos anfitriões e públicos variados que foram encontrados em cada um dos cafés, sociedades culturais e livraria em que "O Campo e a Cidade" se apresentou.

“A turnê pra Portugal serviu principalmente pra consolidar o repertório. Tocar para um público jovem e diferente fez a gente perceber que nosso som trafega entre as variadas referências que nos unem, ou seja, não se classifica facilmente, apesar de ser música brasileira. Era isso mesmo que queríamos!”, diz Marcello Gabbay.

A base do grupo, que antes surge em formato de dupla, está na pesquisa etnográfica e discográfica sobre a canção da região da Ilha de Marajó, realizada por Marcello Gabbay (cuja tese de doutorado sobre a canção marajoara foi apresentada no Brasil, Uruguai e França, e premiada pela Academia Paraense de Letras em 2013), e sua interseção com o estilo cancioneiro em ambientes díspares: o campo e as metrópoles. 

O Campo e a Cidade começou fazendo apresentações em apartamentos, prática ainda em voga, recebendo o público no sofá da sala. E foi aí que Carlos "Canhão" Brito, o baterista, acabou sendo convidado para tocar na banda, o que oficialmente ocorreu este ano. 

"As coisas foram acontecendo bem rápido, gostei da sonoridade da banda e já conhecia o Marcello Gabbay aqui de Belém. Até o início deste ano ainda estava morando em São Paulo, quando surgiu a ideia da turnê em Portugal e a gravação do CD.

Topei, e agora, que voltei a morar aqui em Belém, a gente fica se equilibrando entre as idas e vindas do Gabbay, o Neto, fixo em São Paulo. Aqui, atualmente, ensaio para tocar neste final do ano com a Presidente Elvis e ano que vem, com a Hora Mágica", diz Canhão.

O baterista traz em sua trajetória a experiência a participação em várias bandas, entre elas, a lendária "A Euterpia", que fez sucesso em Belém entre o final dos anos 1990 e até meados dos anos 2000, mudou-se para São Paulo, lançou CD e acabou se desfazendo, embora já tenham havido reencontros da banda após isso. 

Depois dos shows nas salas dos apês, O Campo e a Cidade partiu para sua jornada pública, com apresentações em espaços alternativos e em palcos tradicionais. 

Esses foram os primeiros passos até lançar o EP "Dia de São João, primeiro em São Paulo, no Espaço Cultural Alberico Rodrigues, na Praça Benedito Calixto, em Pinheiros, e depois em Belém, no Teatro Cuíra, com a participação do percussionista Kleber Benigno (Trio Manari), e da cantora Juliana Sinimbú. Esta pequena temporada, em 2014, é portanto um retorno à capital paraense.

“Belém, posso dizer que é quase minha primeira casa: amigos, música e comida, tudo em perfeita combinação. Estar nesta cidade, musicalmente, é estar no meio de uma cadeia emocional de música, daquelas que saem da veia. Lembra-me sempre as músicas feitas cheias de sentimento, acerca daquilo que se vive e se vê”, diz Neto Rocha, do núcleo paulista do grupo.

O primeiro CD - A banda agora faz a captação de recursos para lançar o primeiro CD, aprovado em lei de incentivo. 

Além das cinco músicas que já estão no EP, a banda vai gravar um repertório de canções inspiradas numa coleta de vivências musicais em viagens pelo Brasil e pelo mundo e dos músicos, que reúnem em suas trajetórias a vivência entre a correria das grandes cidades e os saberes de uma vida no interior seja ele no sudeste ou no norte do país.

“O Campo e a Cidade” tende a retomar as estéticas sonoras que compõem a canção brasileira, entre os códigos mais regionalizados e as sínteses sonoras mais globais. Exemplos são as duplas Nilson Chaves e Vital Lima, Kleiton e Kledir, Sá e Guarabira, Toquinho e Vinícius, Simon e Garfunkel, Moraes e Pepeu, todas de alguma forma criativas e relacionadas a terra, ao lugar de origem, a saudade e a vida nas cidades grandes, aos conflitos do contemporâneo.

Em formato de trio e bailando pela sonoridade pau-e-corda, o projeto ganhou corpo com experimentações sonoras contemporâneas. As cordas dos violões, banjo, e do contrabaixo, dividem textura com pau de chuva, taças de vidro, objetos de madeira, um garrafão de água mineral, sintetizadores, samples, efeitos e o trabalho vocal do grupo.

O resultado é fica entre a sonoridade brasileira “anos 70” e a aura confessional instantânea da música popular contemporânea, que se reflete tanto no estilo cancioneiro como na forma de gravação, que revela o movimento de reconfiguração estética por que passa hoje a canção popular paraense.

Trajetória  – Além do lançamento e diversas apresentações entre a saída do grupo para a rua e o lançamento do EP, em 2013, no ano seguinte, em novembro de 2013, “O Campo e a Cidade” foi selecionado para o projeto “Antessala”, da Dafiti, que visa lançar dez artistas independentes com apresentações no HSBC São Paulo, abrindo o show de Sandy Leah.

Em 2014, realizou a mini turnê em Portugal, com dois shows em Lisboa, no espaço Primeiro Andar e na livraria Ler Devagar; na associação Espaço Compasso, da cidade d’O Porto, na SHE - Sociedade Harmonia Eborense, em Évora, e no Café Livraria Santa Clara, em Coimbra. A direção artística do show da turnê foi da atriz e diretora Michele Campos, com produção de Neto Rocha, Marcello Gabbay, Carlos Canhão Brito. Peguei o bonde andando e entrei na jornada, em turnê, a partir da parceria da banda com a Três Cultura Produção e Comunicação. 

Serviço
Shows da banda “O Campo e a Cidade” em Belém. Dia 4 de dezembro no teatro-auditório do Sesc Boulevard, a partir das 18h, e no sábado, 06, com um show de bolso, às 11h, na Discosaoleo (bairro da Campina). Produção da Três Cultura Produção Comunicação. Entrada franca.

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