11.1.15

Gina Lobrista está no Ver o Peso da Nossa Música

Fotos: Julia Rodrigues/Divulgação
Depois de lançar o clipe “Estou Apaixonada”, gravado na feira do Ver o Peso, a cantora que, há sete anos divulga e vende sua música, na rua, passou do status de ‘desconhecida’ para celebridade. Neste domingo, 11 de janeiro, pela manhã, dentro da programação do primeiro dia do Ver o Peso da Nossa Música, ela faz participação no show de Manoel Cordeiro e, cheia de planos para 2015, também bateu um papo com o blog. O Ver o Peso da Nossa Música inicia às 10h, com a banda Espoleta Blues, depois segue com Manoel e Gina e encerra com a Warilou. Na segunda-feira, dia 12, aniversário de 399 anos de Belém, os shows começam às 19h, com grupo de percussão Vale Música, show Elas Por Elas e da banda Nosso Tom.

Determinada, convicta de que seu trabalho é para ser feito na rua, a história de Gina Lobrista rende um roteiro de ficção! Após quase uma década batalhando sob o sol forte, no Ver o Peso, ou nas praças da capital paraense, há alguns meses, ela se tornou conhecida de um público bem maior que ao circunscrito na área de entorno do Ver o Peso. 

Os milhares de acessos ao clipe na internet, já lhe renderam entrevistas em jornais, rádio, televisão e na web, além de convites para cantar em festivais como o Conexão Belém e, mais recentemente, na Virada Cultural, onde ela também esteve ao lado de Manoel Cordeiro.

“O Manoel Cordeiro para mim é um astro. O conheço desde os meus tempos de moleca. A Warilou me deixava em êxtase, eu cresci ouvindo isso. Fico até nervosa quando estou do lado dele”, conta Gina, que só conheceu Manoel Cordeiro pessoalmente, ano passado. 

“Nem acredito, que estou do lado dele. Chego a desafinar”, diz Gina. É a terceira vez que os dois se encontram para ela cantar, ele tocar. Fizeram um Conexão Acústico, na Rádio Cultura do Pará e depois o show na Virada Cultural, em dezembro do ano passado.

“Foram participações pequenas, com apenas duas músicas. Já no aniversário de Belém, vou cantar cinco músicas com Manoel e depois há planos da gente conversar sobre um CD autoral meu para lançar este ano”, revela. 

Gina Lobrista tem uma voz marcante.  De longos cabelos negros, com características negras e indígenas, ela chama atenção também pela beleza. Aos 34 anos, vinda Recife ainda criança, para morar na região sudeste do Pará, ela vive hoje um momento importante em sua trajetória. 

“Esse clipe foi fundamental na minha vida. São sete anos já de luta no meio da rua. Essa música já fazia sucesso, mas ninguém sabia direito quem era eu. Muitas pessoas chegaram a fazer show no meu lugar, se dizendo dona daquela voz da música. Ninguém me conhecia, ninguém me convidava pra cantar”, conta Gina. 

Um clipe pra chamar de seu

A ideia do clipe partiu de um grupo de estudantes, Leonardo Augusto, Jefferson Cunha e Jefferson Oliveira, da Platô Produções, que já sabiam da existência da cantora, mas ainda não a tinham conhecido pessoalmente.  

“Eles me encontraram na Praça da República, quando eu estava trabalhando. Daí eles me chamaram pra conversar. Disseram que estavam montando a produtora e que queriam fazer um clipe comigo. Eu de início não acreditei, mas quinze dias depois eles apareceram no Ver o Peso, e me perguntaram como eu imaginava que deveria ser o clipe”, vai falando Gina.

“Eu disse que eu gostaria de me ver nascendo como artista, no Ver o Peso. Mostrando eu chegar com a minha caixa, como todos os dias eu faço. Acordo às seis e meia pra pensar no que eu vou fazer da vida, quando é sete e meia eu já estou no ônibus com caixa, microfone, carregador da bateria da caixa”, diz.

Os três jovens realizadores gostaram da ideia, fizeram suas adaptações e o clipe saiu. O roteiro também mostra, durante a música, um brega estilo Jovem Guarda, Gina como vendedora de ervas, de lanche, de almoço, cortadora de mandioca. Depois ela já aparece mais produzida, em vários figurinos, no Solar da beira, como uma artista famosa.

Depois de lançado com um show na Faculdade Estácio - FAP – foi a vez de colocá-lo na internet, onde já teve quase 50 mil acessos. “Isso pode ser pouco para os grandes artistas, mas para mim, é demais, estou muito feliz, melhorou muita coisa, as vendas do CD aumentaram, agora está até um pouco ruim por causa das chuvas”, comenta.

Fã confessa de Roberto Carlos, ela diz que vem dele, suas principais influencias. “Eu acho que às vezes eu misturo tudo, mas tenho o Roberto Carlos é muito forte, temos todos os vinis e CDs dele, livros sobre ele’, diz ela, que também gosta de José Augusto, Odair José, Paulo Sergio, Nelson Ned. “Eu gosto de coisas do passado”. 

Holofote Virtual: Você está curtindo a participação no Ver o Peso da Nossa Música. Isso funciona como pra ti?

Gina Lobrista: Não sei nem o que dizer, tenho que confessar que muitas vezes não sei a dimensão das coisas, eu morava longe, onde não chega nada disso de televisão, rádio. Pra mim, é uma vitória. É maravilhoso ouvir nome na TV, nas rádios, nos blogs... O que plantei estou começando a colher, mas eu sinto que ainda há muita coisa a ser regada e adubada para eu chegar onde quero, que é ser uma das maiores cantoras de rua. O meu negócio mesmo é a rua, eu não sou de banda, de palco, eu gosto de cantar no meio da rua, eu gosto de vender o meu CD.

Estou muito feliz de estar nestes 399 anos. Era um dos meus grandes sonhos, de estar ao Aldo de feras da nossa música, como também as meninas do Elas por Elas, a Camila Honda, Juliana Sinimbú, Nana Reis, Natália Matos. Essas meninas são feras, mas estou ainda mais honrada é de estar com o mestre Manoel Cordeiro. 

Holofote Virtual: Esta será a terceira vez que você vai cantar com Manoel Cordeiro. Vocês estão pretendendo trabalhar em algo, juntos?

Gina Lobrista: Eu o conheci através do Rodrigo Viellas, produtor da Gang do Eletro, que ano passado me convidou pra fazer uma participação no show do grupo, no Conexão Belém. Este foi o primeiro grande evento que eu participei. Daí, eu conheci o Manoel Cordeiro, que adorou meu trabalho, gostou da minha história e força de vontade. Nós vamos conversar e espero que dê tudo certo.

Holofote Virtual: Eu poderia dizer que a sua história traduz, de certa forma, o conceito do “Ver o Peso da Nossa Música”. É ali que mostra o peso do seu trabalho... O que este lugar significa pra ti? 

Gina Lobrista: O Ver o Peso para mim foi onde eu encontrei a maneira de divulgar o meu trabalho. Pra mim, o Ver o Peso não é uma feira, é o mundo. Lá tem francês, japonês, dos Estados Unidos...  E hoje todo mundo filma, o celular está muito avançado, e então eles tiram foto, compram meu CD. Quando me dou conta, meu CD já está no Rio de Janeiro, que eu fico sabendo por mensagens que recebo pelo whatsapp. É assim que está indo, é isso que o Vero o Peso me traz. 

Quando a Platô falou em gravar comigo, eu disse logo que queria que fosse no Ver o Peso. Algumas pessoas me disseram que não devia fazer isso, que era um lugar baixo astral, pobre, mas pra mim o Ver o Peso é lindo, e tai, deu certo, muita gente bacana já viu o clipe, como, por exemplo, a produção da Regina Casé, que já me chamaram pra ir participar do programa dela, mas ainda não sei quando... Acho que 2015 vai ser bom pra mim.

Holofote Virtual: Como foi que te ocorreu de vender o seu trabalho na rua?

Gina Lobrista: Eu tinha acabado de ter esta ideia, em São Paulo, onde estive participando de um programa do Raul Gil, o Boca do Forno. Passei pelo centro de São Paulo, e vi um cantor sozinho, cantando com uma caixa de som, em cima de uma caixa de tomate. Não pensei duas vezes. Fui até a Santa Ifigênia, onde você encontra tudo que tem a ver com música. Numa loja disse ao vendedor que eu era artista de rua em Belém do Pará e queria a indicação de uma boa caixa de som, que também fosse fácil par eu carregar. 

Comprei uma caixa de som com bateria portátil, de 8 horas de duração, com dois microfones. Achei excelente. Chegando aqui, não teve outra, fui pra rua cantar. Eu já tinha feito isso uns dois anos antes, com o Mr. Bacalhau, o homem que me lançou aqui em Belém do Pará.

Ele é um senhor que anda numa bicicleta com som e microfone, divulgando o trabalho de muitos paraenses, como da Gang, a Gabi... Mas a cantora mais forte no momento, revelação, é a Gina mesmo. 

Holofote Virtual:: Há quanto tempo a música está na tua vida. Como foi que tudo aconteceu pra chegares aqui?

Gina Lobrista: Há um tempo que estou investindo, as coisas não aconteceram assim, de repente. Vem muito lá de trás. 

Quem primeiro começou a cantar aos cinco anos de idade, foi a minha irmã, que é cinco anos mais velha que eu, que era quem sempre a levava pra tocar nos lugares, pra conhecer os donos de bandas, e ela cantou com várias mesmo. Foi depois que descobrimos que minha mãe compunha é que as coisas mudaram pra mim. 

Tínhamos a banda Geração Eletrizante, mas minha irmã não curtia muito as músicas da nossa mãe, porque eram letras muito românticas, e eu sempre fui uma menina, uma mulher muito romântica. Eu cresci ouvindo meus ídolos dentro de casa, como Roberto Carlos, Fernando Mendes, José Augusto, Aldemar Dutra, Golden boys, The Fevers... Eu gosto de coisas do passado. 

Um dia eu fui numa gravadora e gravei uma das músicas da minha mãe. Depois vieram as outras e as pessoas foram gostando. Eu acabei subindo no palco, comecei então a colocar as músicas na rádio. Antigamente eu pagava pra isso, hoje não pago mais. Em aparelhagem então, meu Deus do Céu... só tocavam minha música no amanhecer do dia, agora isso mudou muito. Acabei saindo da Geração Eletrizante e fui cantar sozinha... com minha caixa de som na rua.

Gina com a Gang do Eletro
Holofote Virtual: E como as pessoas reagiram a isso, foi tranquilo. Você consegue sobreviver da venda dos discos? 

Gina Lobrista: As pessoas pensavam que eu tinha ficado louca ou virado mendiga, mas acontece que deu certo, vendo em média de 150 a 200 CDs por dia, a R$ 5,00. Não é todo dia que vou, porque ali no Ver o Peso tem uma maresia, e isso acaba com as cordas vocais da gente, muito vento, e como eu só vendo CD, se eu cantar, aí já viu. Tem vezes que eu canto nove horas no dia, e acabo ficando sem voz.

Holofote Virtual: Você sabe qual é o seu principal público?

Gina Lobrista: O meu grande público é de universitários e do GLBT. Faço muitas apresentações em boates deste gênero e eles me adoram. Eu me sinto em casa, respeito muito os meninos e meninas, são todos muito bacanas mesmo.

Holofote Virtual: Você já falou de alguns, mas me conta, quais são teus maiores plano para 2015?

Gina Lobrista: Comprei um carro, com dinheiro da música e já montei o de som. Esse trabalho que faço à pé, com a caixa, agora vou levar no carro, estacionar ele em algum lugar e cantar. Então vou gravar este CD autoral e sair com este meu carro pelas redondezas do Pará e fora dele. Quero ir até Recife, minha terra, que não conheço. Pretendo passar uns três meses fazendo este trabalho. Quero viajar e mostrar minha música, quero que dê certo. 

Holofote Virtual: E como vai ser este CD, já dá pra adiantar alguma coisa?

Gina Lobrista: Eu sou uma compositora que gosta de sofrência. Minhas músicas falam ao coração... É como disse a Fafá de Belém certa vez: música pra mim tem que arrepiar, se não me arrepiar eu não gravo. 

Holofote Virtual: Movimento musical paraense. O que é pra ti?

Gina Lobrista: Movimento musical paraense pra mim é um grande caldeirão. Às vezes, eu não sei qual é o ritmo paraense, são tantos, tem carimbó, lambada, guitarrada, tecnobrega, melody... É tanta coisa, e vejo que tem espaço pra todo mundo, mas só cresce quem aparece e eu resolvi aparecer.

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